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Reconstrução da história em debate na CineOP
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

Reconstrução da história em debate na CineOP

Debate que acontece hoje, às 18 horas, na programação da 15ª CineOP reflete sobre preservação audiovisual a partir de obras produzidas em torno de filmes interrompidos ou perdidos
Firmino Holanda e Petrus Cariry dirigem o longa
Foto: divulgação Firmino Holanda e Petrus Cariry dirigem o longa "A Jangada de Welles", que revê a passagem do cineasta Orson Welles por Fortaleza

Vestígios, registros, arquivos, recortes, revisitas. São estes os focos de um debate que acontece hoje, às 18 horas, dentro da programação da 15ª Mostra de Cinema de Ouro Preto. Sob o tema "Revisão, reconstituição ou reapropriação de filmes interrompidos ou perdidos", Petrus Cariry (co-diretor de "A Jangada de Welles"), Vitor Graize (diretor de "Olho de Gato Perdido") e Reinaldo Cardenuto (diretor de "Acabaram-se os Otários") trocarão experiências sobre processos e reflexões acerca dos gestos de recuperação e reescrita que empreenderam em seus filmes. A conversa terá mediação da curadora Camila Vieira.

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Imagens, construídas e difundidas em grande escala há décadas, não necessariamente são guardadas e preservadas com o mesmo grau de atenção. O longa cearense "A Jangada de Welles" é assinado por Petrus e Firmino Holanda e remonta a passagem do diretor estadunidense Orson Welles pelo Brasil em 1942, na produção do filme "It's All True". O cearense e líder dos jangadeiros Manuel Jacaré participaria do longa, mas morreu durante as filmagens. Petrus e Firmino já haviam realizado o média "Cidadão Jacaré", sobre o mesmo tema.

Petrus define "A Jangada de Welles" como "totalmente calcado no cinema de arquivo e de invenção". Ainda que seguimento de um trabalho anterior, os realizadores encontraram desafios no processo de pesquisa de fotos, imagens e músicas. "Existe uma grande dificuldade de achar esses arquivos. O Brasil em especial tem muita dificuldade com preservação e memória do nosso audiovisual", avalia Petrus. "Esse descaso se intensificou negativamente nos últimos anos, culminando com o abandono da Cinemateca Brasileira", complementa.

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A crise da principal instituição de salvaguarda da memória audiovisual do Brasil, ressalte-se, não é nova. Curador da Temática História e de longas da Mostra Contemporânea, Francis Vogner dos Reis ressalta que "mais uma vez" o Brasil está "sob a ameaça da perda e da destruição da memória". "É uma crise institucional, mas tem implicações muito concretas que se voltam às produções interrompidas e aos arquivos de filmes depositados na Cinemateca que estão sob risco", destaca.

Outro filme que norteará o debate, o curta "Acabaram-se Os Otários", é flagrante neste sentido. A obra dirigida por Rafael de Luna Freire e Reinaldo Cardenuto leva o mesmo nome daquele que é considerado o primeiro filme sonoro do País, dirigido por Luiz de Barros, mas que é também considerado perdido. "A ideia deles, que são professores e pesquisadores da UFF, era tentar fazer uma reconstituição do que seria a integralidade do filme", explica a curadora Camila Vieira.

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"O que existe dele são sobras, vestígios. Eles usam sons que foram registrados no set, fotografias, e vão tentando fazer uma montagem desses materiais. É um filme muito interessante de busca histórica. Tem uma pesquisa muito profunda que tenta fazer essa reconstituição do pouco que a gente sabe sobre o longa", segue.

"Olho de Gato Perdido" opera de outras formas, revisitando personagens do faroeste "Olho de Gato", rodado em 1975 no Espírito Santo. Os gestos, Camila avalia, são formas de "buscar reescrever a história que se perdeu". "É muito importante para o Brasil discutir preservação, retomar filmes realizados, projetos não concluídos, principalmente agora, dentro desse contexto que a gente está em que os acervos estão ameaçados", elabora a curadora. "É a superação possível, que não restitui o objeto perdido, mas lhe dá sentido histórico", define Francis.

 

Revisão, reconstituição ou reapropriação de filmes interrompidos ou perdidos

Quando: hoje, às 18 horas

Onde: www.cineop.com.br

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