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Prefeito de Granjeiro e pai são suspeitos da morte de João Gregório
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Prefeito de Granjeiro e pai são suspeitos da morte de João Gregório

O então prefeito foi morto a tiros. Ticiano Tomé, vice à época, e Vicente Félix foram alvo de mandado de busca e apreensão
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POLÍCIA Civil cumpriu mandados de busca em endereços ena cidade de Granjeiro e no estado de Pernambuco (Foto: DIVULGAÇÃO)
Foto: DIVULGAÇÃO POLÍCIA Civil cumpriu mandados de busca em endereços ena cidade de Granjeiro e no estado de Pernambuco

A disputa de poder pela Prefeitura de Granjeiro teria sido a motivação do assassinato do então prefeito João Gregório Neto, no dia 24 de dezembro. A Polícia Civil pediu a prisão do atual chefe do Executivo Municipal, Ticiano da Fonseca Félix, o Ticiano Tomé — vice-prefeito à época —, e do pai dele, Vicente Félix de Souza (conhecido também como Vicente Tomé).

A Justiça, no entanto, não deferiu os pedidos e determinou a utilização de tornozeleira eletrônica por Vicente, ex-prefeito de Granjeiro. Ambos teriam desavenças políticas com a vítima, conhecida como João do Povo.

Apenas um de três pedidos de prisão foi deferido pela Justiça. O alvo está foragido e é apontado como um dos executores. A vítima levou três tiros enquanto caminhava no entorno do açude Junco. Na manhã de ontem, mandados de prisão, busca e apreensão domiciliar e pessoal foram cumpridos pela Polícia Civil contra Ticiano e Vicente. Também ocorreram buscas no Estado de Pernambuco.

Nos endereços alvos da operação, a Polícia apreendeu um veículo S10, de propriedade de um parente de Vicente, que supostamente foi usado para dar apoio ao crime, além de documentos e aparelhos celulares que serão analisados pela perícia.

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) divulgou informações sobre a investigação em coletiva na tarde de ontem. Conforme Luiz Eduardo Santos, delegado do Crato, além da família opositora, aliados políticos dos suspeitos também estão sendo investigados.

"Alguns foram ouvidos, outros ainda vão ser. Ameaças estão circulando em grupos de Whatsapp, áudios. Vamos ver para quem era direcionado exatamente. Pelo teor achamos que era para a vítima. Ainda vamos analisar com base em depoimentos", afirma. Conforme o delegado, as ameaças teriam partido dos aliados políticos de Vicente e Ticiano.

"A população continua muito abalada. Estamos em diligências porque existe um mandado de prisão expedido e a pessoa está foragida. Outros detalhes, como nós chegamos, que provas existem, não podemos passar para não atrapalhar o andamento das investigações", afirma André Costa, titular da SSPDS.

Apesar de integrarem a mesma chapa nas eleições municipais de 2016, João do Povo e Ticiano Tomé romperam politicamente há um ano. Após o primeiro ser alvo de ação da Polícia Federal, Vicente e o filho denunciaram suposto esquema envolvendo os vereadores do município para abafar as investigações.

João do Povo, que era filiado ao PL, era investigado pela Polícia Federal no âmbito da Operação Bricolagem, que apurava fraudes em licitações. O então prefeito teria movimentado mais de R$ 26 milhões em uma conta de um parente beneficiado por aposentadoria rural, conforme a PF divulgou em novembro de 2018. Um dos mandados de busca e apreensão resultou na descoberta de R$ 213 mil escondidos em caixas de sapato na casa dele.

TICIANO TOMÉ assume Prefeitura de Granjeiro após assassinato de João Gregório e promete auditoria nas contas do município
TICIANO TOMÉ assume Prefeitura de Granjeiro após assassinato de João Gregório e promete auditoria nas contas do município

Ticiano Tomé era filiado ao PSDB. O partido divulgou na noite de ontem nota de desfiliação do atual prefeito. Assinada por José Soares de Macedo, presidente do diretório da legenda em Granjeiro, o texto diz que o partido "enaltece seus quadros e militantes que com consciência, convicção e compromisso, perseveram na construção e fortalecimento da agremiação" do município. O POVO tentou mas não conseguiu contato com nenhum dos suspeitos.

Embora suspeito, Ticiano continua na Prefeitura

Um dos suspeitos do assassinato do então prefeito de Granjeiro, Ticiano Tomé segue como chefe do executivo municipal. Conforme Luiz Marcio Pereira (PMN), presidente da Câmara dos Vereadores, visto que o pedido de prisão não foi deferido, não foi feito pedido de afastamento no Legislativo.

A situação tem gerado desconforto na cidade. "A repercussão é grande porque muita gente fala. Alguns já comentavam isso e outros ficaram surpresos, sabe como é cidade pequena. O povo fica falando mal, cobrando a gente, a gente explica que tem que aguardar a Justiça", diz.

Conforme Luiz Marcio, a desavença era pública. "Ele ia para as rádios e falava mal do prefeito. Os dois falavam. Mas não tinha ameaça. Na casa dele nem câmera tinha, ele andava sozinho. Não tinha inimigo. Ninguém achava que chegaria a esse ponto", relata.

Tão logo assumiu a gestão, Ticiano Tomé anunciou auditoria nas contas da Prefeitura. O atual gestor solicitou aos secretários a apresentação de uma síntese da situação das respectivas pastas. O POVO apurou, à época, que servidores pediram demissão.

A justificativa para a auditoria seria para a verificação jurídica de "pagamentos sem autorização". Tomé, antes da posse, disse que faria mudanças no grupo. "Não temos secretariado ainda, até porque é um momento delicado. Alguns secretários são bons. Porém, uma nova gestão requer pessoas de minha confiança", declarou à época. O prefeito caracterizou a morte de João do Povo como "lamentável" e disse estar "com a consciência tranquila para assumir a função e com confiança na Justiça". (Ana Rute Ramires)

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