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Contrário à quarentena, Bolsonaro se isola ainda mais
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Contrário à quarentena, Bolsonaro se isola ainda mais

Presidente mantém ministro da Saúde no cargo, mas segue defendendo fim do isolamento social contra o coronavírus no Brasil
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MINISTRO Mandetta:
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil MINISTRO Mandetta: "Quem tem mandato fala e quem não tem trabalha", sobre o chefe Bolsonaro, que tem mandato

Um dia depois de o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) ignorar recomendações sanitárias de isolamento social e circular por Brasília, parlamentares, governadores e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) se posicionaram a favor da manutenção da quarentena, principal medida de combate ao novo coronavírus.

No domingo, 29, Bolsonaro visitou comerciantes em cidades-satélite da capital federal. Durante conversa com um vendedor, cogitou ampliar o rol de ocupações essenciais previstas em decreto que poderiam retomar o trabalho já a partir desta semana.

"Eu estou com vontade, não sei se vou fazer, mas estou com vontade de baixar um decreto amanhã (ontem): toda e qualquer profissão legalmente existente, ou aquela voltada para a informalidade, mas que for necessária para o sustento dos seus filhos, para levar o leite para os seus filhos, levar arroz e feijão para a sua casa, vai poder trabalhar", prometeu o presidente.

Nessa segunda-feira, porém, congressistas divulgaram uma nota conjunta a favor das ações adotadas por governadores, que restringem a circulação de pessoas e impõem a suspensão de atividades, entre elas o funcionamento do comércio. No Ceará, por exemplo, a quarentena foi prorrogada até o dia 5 de abril.

Em carta assinada por líderes partidários e com apoio da bancada cearense, senadores asseguraram que o Legislativo "se manifesta de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde e apoia o isolamento social no Brasil, ao mesmo tempo em que pede ao povo que cumpra as medidas ficando em casa".

Os parlamentares enfatizaram que apenas a reclusão coletiva "poderá promover o 'achatamento da curva' de contágio, possibilitando que a estrutura de saúde possa atender ao maior número possível de enfermos, salvando assim milhões de vida, conforme apontam os estudos sobre o tema".

Também ontem, o ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) voltou a pedir isolamento contra a pandemia. Sob pressão do presidente, que o impediu de realizar coletivas de imprensa sozinho, o titular reforçou apelo para que as pessoas continuem a seguir "as recomendações dos governadores". E declarou que os trabalhos à frente da pasta permanecem "técnicos e científicos", num recado a seu chefe.

Contrário à quarentena, que atende a protocolos elaborados pelo próprio Ministério da Saúde, Bolsonaro tem discordado do auxiliar publicamente e criticado os gestores estaduais, levantando suspeitas sobre os números de mortos pela pandemia. Sem apresentar qualquer prova, ele disse que as estatísticas estão infladas.

A conduta do mandatário despertou reações ainda no STF. Ministro da Corte, Marco Aurélio Mello questionou ontem: "Não é possível que todos estejam errados, e só o presidente da República esteja certo".

Para o cientista político e professor da Faculdade Presbiteriana Mackenzie, Rodrigo Prando, Bolsonaro busca deliberadamente o isolamento para mobilizar sua tropa. "Existe um percentual na casa de 30% do eleitorado que está junto com o presidente, independentemente daquilo que ele diz ou faz", avalia.

De acordo com o pesquisador, "em termos de estratégia eleitoral" e de olho em 2022, o chefe do Executivo "segue dentro de uma mesma tática, que é reforçar o discurso aos seus apoiadores mais convictos", ainda que isso lhe custe perder mais apoios. "Hoje, apenas três governadores seguem a orientação do presidente de voltar ao trabalho e terminar com o isolamento social", frisa.

 

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