Exibição de vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril jogou ainda mais pressão sobre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que trava batalhas simultâneas no Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-ministro Sergio Moro (Justiça) acusa o chefe do Executivo de interferir politicamente no comando da Polícia Federal.
Apresentado ontem no Instituto Nacional de Criminalística da PF, em Brasília, o vídeo teria confirmado as denúncias de Moro, segundo a defesa do ex-juiz da Lava Jato. Nele, estaria materializada a ingerência na corporação pelo presidente a fim de assegurar proteção aos filhos e a pessoas próximas à família.
Para isso, Bolsonaro teria insistido em nomear Alexandre Ramagem para o lugar de Mauricio Valeixo, então diretor-geral da PF, decisão invalidada por ato do ministro do STF Alexandre de Moraes.
No fim da noite de ontem, o relator do caso no STF, o decano Celso de Mello, abriu prazo de 48 horas para que Advocacia-Geral da União (AGU), Procuradoria-Geral da República (PGR) e as partes envolvidas se manifestem sobre o levantamento do sigilo da peça, que contém informações sensíveis de interesse estritamente do Estado, conforme sustentou o Planalto.
Ainda nessa terça-feira, porém, Moro e Bolsonaro defenderam, pelas redes sociais, a publicação na íntegra do registro audiovisual. "Qualquer parte do vídeo que seja pertinente ao inquérito, da minha parte, pode ser levada ao conhecimento público", escreveu o presidente.
Antes, Moro havia postado que "o acesso ao vídeo da reunião confirma o conteúdo do depoimento em relação à interferência na Polícia Federal" e que a sua "divulgação, de preferência na íntegra", é fundamental "para que os fatos sejam confirmados".
O acesso ao vídeo da reunião ministerial do dia 22/4 confirma o conteúdo do meu depoimento em relação à interferência na Polícia Federal,motivo pelo qual deixei o governo.Defendo,respeitosamente, a divulgação do vídeo,de preferência na íntegra,para que os fatos sejam confirmados.
— Sergio Moro (@SF_Moro) May 13, 2020
Em rápida passagem após sair do Palácio da Alvorada, enquanto falava com apoiadores, o presidente disse que o conteúdo do vídeo iria "surpreender". O ex-capitão também negou que haja qualquer referência expressa à troca de chefia da PF na reunião do dia 22/4.
Em seguida, admitiu que, nos encontros do Governo, "sai muita coisa", mas que não é para ser divulgada. "A fita tinha que ser, inclusive, destruída após aproveitar imagens para divulgação, ser destruída. Não sei por que não foi", acrescentou o presidente.
Bolsonaro relatou ainda que "poderia ter falado isso, mas jamais eu ia faltar com a verdade" e que por isso resolveu "entregar a fita". "Se eu tivesse falado que foi destruída, iam fazer o quê? Nada. Não tinha o que falar." Para ele, a preocupação era, "depois da facada, de forma bastante direcionada, a segurança minha e da minha família".
- Qualquer parte do vídeo que seja pertinente ao inquérito, da minha parte, pode ser levado ao conhecimento público.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) May 12, 2020
Líder da minoria na Câmara dos Deputados, o cearense José Guimarães (PT) pondera que, caso se comprovem a veracidade e o teor das revelações feitas sobre o vídeo até agora, "não há outro caminho senão o processo de impeachment".
"Vamos requerer agora a entrega do material às CPIs na Câmara e avaliar. O presidente já passou do Rubicão. Não tem mais parâmetro. É impensável a Câmara não investigar", projetou.
Colega de bancada, o deputado André Figueiredo (PDT) reconhece que o "vídeo corrobora o que todos os indícios estão demonstrando, que o presidente tem norteado as ações no sentido de proteger seus familiares".
De acordo com o líder da oposição, a divulgação da gravação vai se somar aos demais pontos que justificam "nosso pedido de CPI", que deve ser instalada ainda neste semestre, calculou.
Aliado do presidente, o deputado federal Heitor Freire (PSL) informou que apenas a publicação do vídeo irá sanar dúvidas. "Acredito que quem não deve não teme. O presidente Bolsonaro sempre defendeu a transparência, creio que logo o conteúdo será divulgado e todos poderemos tirar nossas conclusões", disse.