Parlamentares e intelectuais ligados a movimentos sociais e partidos de esquerda articulam manifesto pregando união entre siglas do campo progressista na eleição deste ano em Fortaleza. O texto, que defende um "blocão" da esquerda contra aliados de Jair Bolsonaro (sem partido) na Capital, tem entre os organizadores o deputado estadual Acrísio Sena (PT), o vereador Evaldo Lima (PCdoB) e o secretário do Meio Ambiente do Ceará, Artur Bruno (PT).
Em carta aberta, o movimento prega união de siglas como PT, PDT, PSB, PCdoB, PV e Psol, todas com pré-candidaturas em Fortaleza. "Hoje temos um paradoxo, porque uma das principais forças políticas do Estado, que é o governador Camilo Santana, está impossibilitado de participar da eleição no 1º turno, porque sua base está toda dividida", diz Artur Bruno.
Apesar de citar diversos partidos da base aliada e até mesmo o independente Psol, o movimento acaba, na prática, ampliando pressão mais sobre petistas e pedetistas na Capital. Atualmente, o próprio governador Camilo Santana (PT) tem tentado aproximar os dois partidos na disputa. O PT, no entanto, segue na tendência de lançar Luizianne Lins para a vaga, enquanto o PDT já está em processo avançado de debates entre cinco pré-candidatos.
Segundo Acrísio Sena, a ideia não é pressionar que partidos desistam de pré-candidaturas já lançadas, mas sim "fazer um apelo" para o diálogo. "O processo eleitoral atual não é como os outros que já vivemos. Estamos vendo uma onda autoritária, conservadora, e essa pulverização de candidaturas pode facilitar a vitória dessas forças", afirma o deputado.
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Segundo Acrísio e Bruno, o movimento já conta com apoio de intelectuais e lideranças políticas e será lançado oficialmente na próxima quinta-feira, 27, em evento online. "A gente tem que buscar o que nos aproxima, que é a preocupação com essa redução dos pactos democráticos. Isso é uma alternativa civilizacional contra a barbárie", diz Evaldo Lima. O partido do vereador, o PCdoB, tem hoje pré-candidatura firmada de Anízio Melo para a Prefeitura.
A movimentação chama a atenção por conta da articulação de Acrísio e Bruno, duas lideranças locais do PT que, na contramão de Luizianne, defendem há anos uma aproximação com o prefeito Roberto Cláudio (PDT). Em 2016, por exemplo, o secretário do Meio Ambiente se licenciou do partido para apoiar a reeleição do prefeito, mesmo com candidatura de Luizianne na disputa. Acrísio tem defendido que Camilo Santana tenha palavra final no caso.
Mesmo com o histórico, Artur Bruno nega, no entanto, que o movimento busque "escantear" candidatura da deputada no processo. Não vamos entrar em discussão de chapa. Esse movimento não é contra a Luizianne nem contra os candidatos do PDT, nem qualquer outro. É a favor da tese que, sem isso, corremos o risco de um grande retrocesso".
Acrísio destaca que, além da própria Luizianne admitir sair da disputa no caso de uma aliança encabeçada por outro petista, o próprio PDT não tem questão fechada por qualquer candidato. "Não tem nada definido, tudo ainda pode ser discutido em termo de alianças na base do Camilo e com os Ferreira Gomes", afirma.
O POVO tentou entrar em contato com Luizianne Lins e com o presidente municipal do PT, Guilherme Sampaio, para tratar do assunto, mas não obteve resposta até o fechamento desta página.
"É uma decisão que exige esforços para além das nossas limitações e fragilidades humanas. Nossas vaidades, crenças e ideologias não precisam ser negadas. Basta apenas que deem passagem preferencial para a razão, num momento em que a história a exige", diz texto do manifesto.