A poucas horas de deixar o Paço Municipal de Fortaleza após oito anos de gestão, o prefeito Roberto Cláudio (PDT) negou ontem que uma possível candidatura sua ao Governo do Ceará dependa do desejo dele. Dizendo não possuir "nenhuma ambição por qualquer cargo específico", o pedetista disse ainda que terá papel apenas de "torcedor, militante e amigo" na gestão do sucessor José Sarto (PDT).
Militante decisivo na vitória de seu sucessor sobre Capitão Wagner (Pros) na Capital, Roberto Cláudio é hoje visto como "sucessor natural" de Camilo Santana (PT) dentro do bloco de aliança dos irmãos Cid e Ciro Gomes (PDT) no Estado - até pela falta de outros nomes com a mesma projeção. Mesmo com a deferência no bloco, o prefeito evita antecipar o processo e diz que "muita água deve rolar" até 2022.
"Aprendi que nenhuma candidatura ao Executivo depende do desejo, e muito menos do trabalho pessoal, de ninguém. E eu, de verdade, além de não ter essa obsessão por nenhum cargo específico, nenhuma missão específica ou obsessão direta, entendo que o meu papel é contribuir dentro de um projeto que tem transformado o Ceará", disse RC, durante visita à sede do O POVO na tarde de ontem.
Inicialmente, o prefeito tinha planos de passar temporada nos Estados Unidos após o fim da gestão, com estudos na Universidade do Arizona, mesma instituição onde cursou doutorado em Saúde Pública. O projeto acabou prejudicado por recentes restrições do governo americano para novos vistos de imigração durante a pandemia. Com a mudança, o prefeito deve aceitar convite para estudar políticas públicas em São Paulo.
Apesar dos planos de permanecer fora da Capital até o fim de junho do próximo ano, Roberto Cláudio afirma que não deixará de fazer política no Estado. "Basicamente, o que irei fazer é tirar um semestre fora, de estudo, de leitura, de reflexão, de escrita, e de família. E no meu retorno, ali, em junho, vou continuar militando dentro do partido, fazendo política", afirma o prefeito.
"(Fazer política) É o que gosto de fazer, encontrei meu caminho nisso. E estou cada vez mais convicto que os dilemas da sociedade concretos, reais, práticos, que dizem respeito ao povo, não têm outra saída senão de dentro dos governos, parlamentos e mesmo nas ruas", continua.
Roberto Cláudio reforçou ainda que deverá "sair de cena" durante a gestão de José Sarto. "(Meu papel) vai ser de torcedor, de militante do PDT, já que por enquanto sou presidente municipal do partido, e de amigo, né?", disse. "O ambiente da administração pública tem um nível de complexidade que demanda virtudes como a experiência, além de um conhecimento profundo da cidade. E o Sarto tem isso".
Mesmo afastado da Capital, o prefeito deve deixar uma série de homens de sua confiança na gestão do sucessor. Atual secretário de governo de RC, o engenheiro Samuel Dias (PDT) é um dos nomes mais cotados para assumir a Secretaria da Infraestrutura do futuro governo. Outros secretários da atual gestão, como João Pupo (Conservação e Serviços Públicos), Renato Lima (Coordenação das Regionais) e Ferruccio Feitosa (Regional II) também devem ocupar cargos na era Sarto.
"O mais importante, e estou falando isso do fundo da minha alma, de coração mesmo, não são os projetos individuais, não nenhum tipo de pré-desejo, alguma coisa. A gente está mudando o nosso time, a nossa equipe, e queremos construir resultados", diz Roberto Cláudio.