Eleitos no ano passado e empossados já no primeiro dia de 2021, os novos 43 vereadores de Fortaleza devem iniciar a próxima legislatura apenas a partir de fevereiro. Propostas e articulações de parlamentares no período de recesso, no entanto, já sinalizam uma oposição a José Sarto (PDT) mais ativa e ideológica do que a do prefeito Roberto Cláudio (PDT).
Dos 83 projetos já apresentados à Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) na primeira semana do ano, 70 (quase 85%) são de vereadores eleitos pela oposição do atual prefeito. Entre as matérias, estão diversas propostas com forte teor ideológico, várias delas com alinhamento à direita e tratando de temas até então pouco recorrentes na pauta do Legislativo da Capital.
Vereador mais votado com 31,8 mil votos, o pastor Ronaldo Martins (Republicanos) já apresentou uma proposta que estabelece como "essenciais em período de calamidade pública" as atividades de igrejas e templos religiosos de qualquer espécie. Na prática, a medida libera os cultos de restrições impostas pelos decretos de isolamento social do Município e Estado.
A pauta foi das grandes polêmicas da eleição passada, com diversos pastores evangélicos que apoiaram Capitão Wagner (Pros) na disputa acusando os governos Roberto Cláudio e Camilo Santana (PT) de “perseguição” a evangélicos durante a quarentena da Covid-19. A questão provocou inclusive reação do PDT, que reuniu vídeos de pastores em apoio a Sarto.
Outras pautas de teor ideológico foram apresentadas por Carmelo Neto (Republicanos). Já no primeiro dia de atividades, o parlamentar apresentou proposta proibindo o uso de “linguagem neutra” em canais de comunicação oficiais da Prefeitura e escolas municipais, ainda que a questão nunca tenha sido adotada formalmente nem sequer entrado em pauta na Capital.
Aliados do novo prefeito, por outro lado, ainda não apresentaram volume relevante de propostas durante o recesso legislativo. Entre membros da base, o que mais enviou projetos ao Legislativo foi Lúcio Bruno (PDT), com cinco matérias, a maioria tratando do estabelecimento de programas de esporte e lazer para bairros da Capital.
Indicado por Sarto para a liderança do governo na Casa, o vereador Gardel Rolim (PDT) apresentou até agora apenas um requerimento. Na matéria, ele propõe a realização de uma audiência pública para debater o plano de vacinação contra Covid-19 em Fortaleza. Os trabalhos da Câmara, no entanto, começam apenas a partir do início de fevereiro.
A previsão é que a oposição a José Sarto na Câmara possua por volta de 13 integrantes, dividos entre três blocos distintos. O primeiro e mais volumoso é formado por oito parlamentares que apoiaram candidatura de Capitão Wagner na eleição, incluindo também vereadores bolsonaristas e ligados a segmentos evangélicos.
Completam o grupo bloco de dois vereadores do Psol e bloco de três vereadores do PT, que ainda vive indefinição sobre o tema.
Apesar de os três vereadores do PT terem fechado questão por postura de oposição a Sarto, a Executiva estadual do partido no Ceará tenta, com apoio do governador Camilo Santana e dos deputados José Guimarães e Acrísio Sena, puxar a bancada da sigla para a base do governo. Decisão ainda não possui “martelo batido” e ainda será decidida pela legenda.