Embora esteja de visita marcada ao Ceará nesta sexta-feira, 26, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador Camilo Santana (PT) não devem se encontrar em nenhum momento da passagem do chefe do Planalto.
Até agora, às vésperas da viagem, o Governo do Estado não foi oficialmente comunicado da agenda presidencial, que inclui passagens por Tianguá, Caucaia e Fortaleza, num roteiro que começa pela manhã, às 10h45min, e segue pela tarde do dia 26, quando Bolsonaro inaugura trecho de obra rodoviária na região metropolitana da capital cearense.
De acordo com fonte do Abolição, nenhum convite foi feito a Camilo, cujo grupo político faz oposição ao presidente.
No Ceará, Bolsonaro participa de solenidade que demarca a retomada de obras em estradas federais. No último fim de semana, O POVO antecipou que a comitiva do Governo Federal viria ao Estado para o evento.
A agenda presidencial é marcada pela assinatura de ordens de serviço para o reinício da Travessia Urbana de Tianguá, na BR-222/CE, novos traçados da rodovia (variantes) em Umirim e no distrito de Frios, também na BR-222/CE, além da conclusão do viaduto de acesso à cidade de Horizonte, na BR-116/CE.
Ao lado do ex-militar estará o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. A visita integra esforço do Governo e de Bolsonaro de concluírem obras paradas de gestões anteriores.
Politicamente, o presidente também tenta reverter tendência de queda de popularidade, acenando com inaugurações em regiões do País onde teve baixa votação em 2018 e nas quais aposta para assegurar a reeleição em 2022, tais como Norte e Nordeste.
Bolsonaro chega ao Estado, porém, num momento de explosão de casos de Covid-19. De janeiro até agora, o número de infectados triplicou no Ceará.
O quadro de gravidade obrigou o Abolição a editar medidas que endurecem ações contra a pandemia, como a adoção de toque de recolher e restrição de horário de funcionamento de serviços.
O evento com Bolsonaro, nestas circunstâncias, cria uma saia-justa para o governador, que não deve participar. Mesmo entre aliados do presidente, no entanto, a visita é considerada inoportuna.
Ao O POVO, uma parlamentar bolsonarista confidenciou que considera a cerimônia “imprópria para o momento de pandemia no estado”. Apoiadora, ela pediu reserva quanto ao nome.
Opositor de Bolsonaro, o deputado estadual Renato Roseno (Psol) classifica a visita como um escárnio. “Na data em que o Brasil chega à trágica marca de 250 mil mortos, o presidente continua sua marcha de desprezo negacionista. Faz inaugurações de obras iniciadas em gestões anteriores somente para esconder o fracasso que é sua gestão em qualquer ponto de vista”, critica.
Esta é a segunda vez que o chefe do Executivo federal vem ao Ceará em menos de um ano. A última passagem havia sido em junho de 2020, para inauguração de trecho de obras da Transposição do rio São Francisco.
Naquela ocasião, e já sob efeitos da pandemia, Camilo também deixou de comparecer à agenda, que promoveu aglomerações em Missão Velha e Juazeiro do Norte.