Jair Bolsonaro (sem partido) participou da Cúpula do Clima, nessa quinta-feira, 22, e ofereceu discurso mais ameno em relação ao que tem defendido e praticado na área ambiental. Pressionado mundialmente pelo descontrole brasileiro em relação às queimadas na Amazônia, assim como o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), o presidente da República lançou mão ainda de mentiras em sua fala de três minutos.
O mandatário afirmou que o País está na vanguarda do combate ao aquecimento global, por exemplo. Também disse que o Brasil, sob sua gestão, fortalece os órgãos ambientais (ver infográfico). O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) passar por sucateamento na gestão de Salles.
Em carta aberta, mais de 400 servidores da autarquia federal denunciaram movimento do ministro que inviabiliza a fiscalização e aplicação de multas por crimes ambientais. Dentre as mudanças, a de que infrações terão de ser autorizadas por superiores para serem objetos de multa.
O presidente, ainda no discurso, condicionou o controle do desmatamento florestal à entrada de investimento estrangeiro para a execução desta missão. “(...) é preciso haver justa remuneração pelos serviços ambientais prestados por nossos biomas ao planeta, como forma de reconhecer o caráter econômico das atividades de conservação. Estamos, reitero, abertos à cooperação internacional”, ele disse.
A fala de Bolsonaro não gerou confiança em ambientalistas e entidades que atuam em prol da preservação da Amazônia. O Greenpeace Brasil, em extenso texto publicado em seu site intitulado “a quem Bolsonaro quer enganar?”, afirmou que o “presidente apresenta metas impossíveis de serem cumpridas pela sua política de destruição.”
“Enquanto Biden se esforça para reposicionar os EUA como protagonista do desafio no enfrentamento das mudanças climáticas, Bolsonaro conseguiu nos reposicionar, só que de um jeito diferente: saímos do lugar que ocupamos um dia como líderes da agenda ambiental, e fomos para o pódio da desconfiança internacional”, adicionou a organização não governamental.
Biólogo e professor da Universidade Regional do Cariri (Urca), Álamo Saraiva destaca que o desmatamento crescente, elevado em 216% nos últimos 12 meses, jogam contra a credibilidade do discurso de Bolsonaro.
“Estou vendo os animais invadindo as cidades porque não têm mais mata. Como eu posso acreditar que, em 2050, equilibraremos as taxas de emissão de carbono? Como, se não estamos vendo as coisas andar nesse rumo?”, indaga o docente.
Saraiva recorda que Bolsonaro já classificou a ajuda do grupo das sete nações mais industrializadas do mundo, ou G7, para combate ao fogo na Amazônia.
Agora, com a situação econômica adversa, o biólogo diz não crer que “os países desenvolvidos vão botar dinheiro aqui dentro, sabendo que esse dinheiro não vai ser aplicado na diminuição do desmatamento.”
Para o cientista político Rodrigo Prando, do Instituto Mackenzie (SP), amenizar o discurso é um acerto político do presidente. Um ponto positivo incompleto, segundo ele, pois a prática sinaliza que pouco ou nada do que ele disse sobre o futuro se materializará.
Ainda de acordo com a análise do professor universitário, a melhora na imagem brasileira no exterior passa pela saída de Salles da pasta ambiental. Prando fala que esta seria uma sinalização concreta de uma reorientação de agenda.
“Discursar amainando, distendendo o clima, é importante, mas isso tem que vir junto de uma agenda ativa. Ele é reativo. Ele está reagindo porque está constrangido no palco internacional”, afirma.