A aliança entre PT e PDT no Ceará tem vivido dias de turbulência no último mês. Parte das divergências é motivada pelo impasse na escolha do nome pedetista que deverá representar o bloco governista nas eleições de outubro, mas a situação se agravou após duras críticas do ex-ministro e presidenciável Ciro Gomes (PDT) ao PT Ceará, que provocaram reunião estadual da sigla para discutir a continuidade do acordo.
O PDT apresenta como possíveis candidatos à sucessão estadual no Ceará a governadora Izolda Cela, o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão e o deputado federal Mauro Filho. Os dois primeiros nomes protagonizam os recentes embates entre petistas e pedetistas, com declarações públicas de apoio a Izolda e RC se intensificando.
O recente mal-estar começou em abril, após entrevista do deputado federal José Guimarães (PT) ao Valor Econômico. Liderança com projeção no PT nacional, Guimarães declarou que a depender do nome escolhido, o PT poderia "discutir candidatura própria" ao governo. Alas petistas resistem ao nome de Roberto Cláudio por considerarem que ele não os deu espaço enquanto prefeito de Fortaleza (2013-2020).
"A depender desse nome e do caminho que o PDT escolher, evidentemente que o PT pode até discutir candidatura própria. Não vai manter uma aliança a ferro e fogo. O PT não vai para qualquer aventura", declarou Guimarães à época. Alas petistas têm demonstrado preferência pela indicação de Izolda Cela para a disputa local.
O apoio a Izolda já havia sido manifestado por Guimarães ao O POVO na posse da governadora, em 2 de abril. "Ela é a favorita, sim, vou dizer isso aqui pela primeira vez, porque vai assumir o governo, e é a tese natural'', afirmou o parlamentar.
No dia 11 de abril, o vice-presidente da Câmara de Fortaleza, vereador Adail Júnior (PDT), publicou vídeo respondendo às falas de Guimarães e criticando uma eventual imposição do PT ao processo interno do PDT. Ele defendeu o nome de Roberto Cláudio para o governo e chegou a chamar a governadora Izolda de "petista".
Dois dias depois, Izolda comentou uma declaração do mesmo vereador de que o sangue da governadora seria petista, e não pedetista. "Meu sangue é sertanejo. Isso me define melhor", disse à época defendendo a manutenção da aliança local.
No início deste mês, o ex-ministro e presidenciável Ciro Gomes (PDT) declarou que o acordo entre o seu grupo político e o PT no Ceará pode ser desfeito caso haja indicativos de "negócio de conchavo, de picaretagem". Após críticas ao PT Nacional, o pedetista disse haver um "lado corrupto" também no PT do Ceará.
“Você tem vários PTs. Tem Camilo Santana, que tem o nosso voto unilateralmente, independentemente de ter acordo ou não". Na sequência, Ciro falou sobre o que pode ameaçar a continuidade da aliança que vem desde 2006. “É bom que todo mundo saiba que esse acordo vai acontecer se o interesse do Ceará estiver acima. Se for com negócio de conchavo, de picaretagem, eu topo enfrentar o PT".
Em seguida, o ex-ministro completou: "Porque eu não vou me submeter a um lado corrupto do PT que também existe no Ceará". As declarações foram dadas durante entrevista à rádio Jangadeiro BandNews FM e geraram reação da cúpula do PT-CE.
Em nota, o PT rebateu as críticas. O partido definiu os comentários do ex-governador como "ato de total desespero" por estar "inviabilizado no pleito presidencial". O comunicado afirmava que Ciro "amargando uma terceira colocação em todas as sondagens feitas no Ceará, se volta para as eleições no estado, com seu já conhecido ímpeto autoritário, buscando impor uma candidatura ao governo do estado à sua imagem e semelhança”.
Apesar dos ataques de Ciro, os petistas defenderam a aliança em torno de “uma candidatura de consenso”, que continue o governo de Camilo e Izolda.
O ex-governador do Ceará Camilo Santana (PT), uma das pontes que liga PT e PDT no Estado, concedeu entrevista ao O POVO, no início deste mês, enfatizando a necessidade de entendimento entre as forças aliadas. O ex-chefe do Executivo alertou que, embora membros das siglas tenham manifestado preferências distintas, "não existe aliança nem projeto de um partido só”.
Segundo o ex-gestor, que deve concorrer ao Senado em outubro, “o projeto tem o PT, que é o meu partido, como tem o PP, o MDB, esse projeto tem o PSB, o PSD, PCdoB”. Camilo reafirmou ainda a crença em que o bloco conseguirá chegar a um consenso antes do pleito.
Ao programa Jogo Político, do O POVO, nesta semana, o ex-secretário De Assis Diniz (PT), que participou da gestão Camilo, afirmou que o ex-governador "prefere Izolda". Ele disse, inclusive, que o PT apresentará candidatura própria caso o PDT escolha para a disputa o ex-prefeito Roberto Cláudio.