O velório da ex-vereadora de Fortaleza, ex-presa política e professora Rosa da Fonseca, nesta quinta-feira, 2, contou com a presença de personagens históricos e atuais da política na Capital. Dentre estes estavam a ex-prefeita Maria Luíza Fontenele (1986-1989) e as vereadoras Larissa Gaspar (PT) e Adriana Gerônimo, do mandato Nossa Cara (Psol).
Maria Luíza contou um pouco da relação com Rosa, de quem foi amiga por décadas. “Quando meu pai faleceu, em 1965, eu tinha como companheira a Fátima, que era irmã da Rosa, e foi a família da Rosa que nos acolheu lá”, relata. Ao longo dos anos, Rosa foi sua aluna, e ambas construíram uma ligação tanto afetiva quanto política, principalmente durante o período da ditadura militar.
“Eu digo com muito orgulho que vi a minha aluna superar a mestra. Ela dizia que eu estava querendo ‘tirar o corpo de banda’, mas não, era uma forma de destacar o desempenho que ela tinha e sempre teve nessa Cidade”, disse.
A ex-gestora compartilhou um ponto de divergência que tinha com a amiga, com quem destacou ter “sintonia muito forte”. “Sou doente em pontualidade e a Rosa não era muito pontual, mas nós sabíamos driblar esse problema", brincou. "Lutamos não porque não tínhamos medo, mas porque a coragem é o compromisso de quem quer a humanidade livre”.
Rosa da Fonseca teve importante participação na luta estudantil nos anos de ditadura militar no Brasil. Foi presa política e vítima de tortura antes de fundar, em 1973, o grupo Crítica Radical, no qual militava até então. Ela lutava contra um câncer de ovário.
Para a vereadora Adriana Gerônimo, do mandato coletivo Nossa Cara, o papel de Rosa como precursora de lutas estruturais foi fundamental. “Rosa abriu caminhos para que hoje as mulheres pudessem ter liberdade e condições de sobreviver. Ela é o significado daquela frase: ‘Os nossos passos vêm de longe’, porque na resistência à ditadura, na luta contra as opressões e pela democracia, ela esteve em todos esses momentos”, destaca a parlamentar.
Segundo Adriana, a vida de Rosa deixa um desafio aos que ficam e militam por causas similares. “Nós que ficamos temos um desafio dobrado, porque ela traduzia todas essas lutas, aglutinava as pessoas ao redor dela, então para nós fica o desafio de manter a semente dela viva para que outras rosas brotem na terra do Nordeste e do Ceará”, concluiu.
A vereadora Larissa Gaspar reforçou os argumentos dos presentes e disse que apesar de um momento de dor, o legado de Rosa continuará dentro da militância. “A gente resume ela numa frase que é simples, mas simbólica: 'a Rosa é a Rosa’. (a morte) Deixa muita dor, mas nossas lutas e caminhadas serão impulsionados pelo que ela fez”, relatou.
Larissa lembrou ainda um Projeto de Decreto Legislativo de sua autoria, apresentado no início de maio, que prevê conceder o título de cidadã fortalezense para Rosa da Fonsêca. O projeto que tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) está aguardando parecer do relator, o vereador Gardel Rolim (PDT).
“Ontem pedi uma celeridade na elaboração do parecer para que a gente possa encaminhar esse projeto. É um reconhecimento que a Cidade deve a ela (Rosa), vereadora, com mandato combativo, atuante e com uma vida dedicada à justiça social e à luta popular. Tenho certeza que a CMFor em breve fará esse reconhecimento”, encerrou Gaspar.
Élcio Batista decreta luto oficial de três dias em Fortaleza por morte de Rosa da Fonseca
O prefeito em exercício de Fortaleza, Élcio Batista (PSB), decretou luto oficial de três dias pela morte da ex-vereadora, ex-presa política e professora Rosa da Fonseca, que morreu na última quarta-feira, 1°, após lutar contra um câncer de ovário.
“Rosa foi uma grande lutadora das causas sociais, tendo como marca de sua trajetória, a coerência política e a integridade em suas ações (...) Por tudo que sempre lutou e acreditou, será sempre lembrada na história política do Ceará como a Rosa do Povo”, escreveu Élcio em publicação nas redes sociais.
Rosa da Fonseca teve importante participação na luta estudantil durante o período da ditadura militar brasileira, sendo presa política e vítima de tortura durante os anos de repressão e antes de fundar o grupo Crítica Radical, em 1973. Ao lado de Jorge Paiva, Célia Zanetti, Maria Luiza Fontenele e outros militantes, Rosa contribuiu para a ação e reorganização dos movimentos sociais nos últimos 30 anos.
A morte de Rosa gerou repercussão entre políticos de diversos espectros políticos, que lamentaram o ocorrido e destacaram a trajetória política e social da militante.
"Vi a minha aluna superar a mestra", diz ex-prefeita Maria Luíza Fontenele sobre Rosa da Fonsêca
A ex-prefeita de Fortaleza Maria Luíza Fontenele (1986-1989) falou sobre a morte da professora, ex-vereadora e militante do Crítica Radical Rosa da Fonsêca. A primeira mulher prefeita de Fortaleza era amiga de longa data de Rosa, que faleceu na última quarta-feira, 1°, aos 73 anos, em decorrência de um câncer no ovário.
“Quando meu pai faleceu, em 1965, eu tinha como companheira a Fátima, que era irmã da Rosa, e foi a família da Rosa que nos acolheu lá”, conta Maria Luiza, presente ontem no velório da amiga. Ao longo dos anos, Rosa foi sua aluna, e ambas construíram uma ligação tanto afetiva quanto política, principalmente durante a ditadura militar.
“Eu digo com muito orgulho que vi a minha aluna superar a mestra. Ela dizia que eu estava querendo ‘tirar o corpo de banda’, mas não, era uma forma de destacar o desempenho que ela tinha e sempre teve nessa cidade”, relata Maria.
Durante a ditadura, Rosa foi presa política, enquanto Maria estava realizando um curso nos Estados Unidos. Quando o reencontro aconteceu, ambas passaram a integrar o Movimento Feminino pela Anistia. A partir disso, a convivência entre elas tornou-se cada vez mais intensa.
Juntas, elas descobriram o valor da mulher em todas as lutas que participaram, inclusive tratando uma delas como uma luta capaz de galvanizar corações e mentes. Reconhecendo a importância da participação feminina, criaram a União de Mulheres Cearenses, em 1979, o que consideraram um passo muito importante. Quando Maria Luíza foi eleita prefeita de Fortaleza, em 1985, Rosa teve papel de destaque na gestão municipal.
Na luta contra o machismo, as ativistas viajaram, por exemplo, à China, para batalhar pelo que acreditavam. “Nós sempre tivemos essa visão ampla e transacional”, conta a ex-prefeita.
Ela acrescenta que sempre houve uma forte sintonia entre as duas. “Um ponto de discórdia é porque eu era doente, aliás, era não, sou doente com pontualidade, e a Rosa não era muito pontual, mas a gente sabia driblar esse problema”, brinca.