O governo de Elmano de Freitas (PT) é continuidade das gestões de Camilo Santana (PT) e Izolda Cela (sem partido), como ele indicou na campanha, mas isso não significa manutenção da correlação de forças políticas no Ceará. Essa mudou bastante.
A continuidade de Elmano ficou bastante expressa na montagem do secretariado. Está no coração da gestão: Fazenda e Planejamento, além de Educação, Saúde e nas pastas relacionadas à segurança pública.
Nenhum governador anterior montou um primeiro escalão com tantos nomes importantes da equipe do antecessor — nem Camilo em relação a Cid Gomes (PDT). Ou Lúcio Alcântara com Tasso Jereissati (PSDB), ou ainda Ciro Gomes (PDT), na sequência do próprio Tasso.
A continuidade, porém, é o reflexo da principal mudança política processada no Ceará na última eleição. Houve um deslocamento da hegemonia.
Elmano dá continuidade à administração de Camilo porque o ex-governador foi o principal responsável pela candidatura e pela eleição dele, porque saiu muito popular e também porque o agora ministro da Educação se estabeleceu como mais forte político cearense da atualidade.
Camilo se elegeu governador em 2014 pelo PT, mas foi escolhido por Cid Gomes, que estava na época no Pros. O PT não o queria como candidato ao Poder Executivo. Havia indicado José Guimarães para concorrer a senador na chapa. Ao assumir o governo, tinha como principal base de sustentação o PDT. Camilo sempre foi considerado um petista mais ligado aos Ferreira Gomes que ao próprio partido.
Ele saiu muito fortalecido da reeleição, com quase 80% dos votos no primeiro turno. E, ao longo de crises no segundo mandato, cresceu ainda mais.
Ainda assim, às vésperas da última eleição, ele não tinha o controle do próprio partido — que cabia e é mantido por José Guimarães, aliado, mas com voo bem próprio. O comando da sucessão dele mesmo não estava com Camilo. O senador Cid Gomes era a voz mais aguardada para dar as diretrizes.
No fim das contas, a aliança rachou, Cid optou por se distanciar e Camilo puxou as articulações para si. Nesse momento arquitetou a aliança que assumiu a hegemonia política.
Desde antes da campanha, havia clareza da força de Camilo, mas existiam dúvidas se ele teria força para bater de frente com Ciro Gomes e o PDT para fazer o sucessor. Na convenção que lançou Roberto Cláudio (PDT) a governador, Ciro dava o recado: "Políticos importantes, baixa um pouquinho a crista, bota um pouquinho o pé no chão, calça a sandália da humildade." Na noite daquele dia, Camilo, ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), lançou Elmano a governador.
A aliança contou com Eunício Oliveira (MDB) e ainda Zezinho Albuquerque (Progressistas), que foi por décadas aliado dos Ferreira Gomes. A Chiquinho Feitosa coube implodir o PSDB por dentro, ao impedir o partido de apoiar Roberto Cláudio.
Eunício indicou a vice, Jade Romero. Com Elmano governador, manteve duas secretarias que já tinha e mais uma com Jade. Ele havia sido adversário de Camilo em 2014, aderiu à base em 2017, mas agora entrou na base governista como principal aliado fora do PT.
Zezinho retornou à Secretaria das Cidades, que havia comandado no governo Camilo. E Chiquinho, como retribuição pela briga que comprou, ficou com a cobiçada Secretaria da Infraestrutura, responsável pelas maiores — e mais caras — obras do Estado.
A nova elite do poder estadual com Elmano de Freitas governador e Lula presidente
Saiu da eleição consolidado como principal líder político do Ceará, agora em busca de projeção nacional. Ex-governador, senador eleito com votação recorde e agora ministro da Educação, Camilo Santana (PT) foi o principal fiador da candidatura de Elmano de Freitas ao Governo do Ceará, vencedora contra as competitivas pretensões de Capitão Wagner (União Brasil) e de Roberto Cláudio (PDT). O pai dele, Eudoro Santana, coordenou a transição de Elmano.
Líder do governo Lula na Câmara dos Deputados, é hoje um dos nomes mais fortes do PT nacional, mais influentes do Congresso Nacional e, entre os cearenses, dos que têm mais trânsito no Brasília. No Ceará, comanda a maioria do PT. Quando a relação entre PT e PDT se esgarço no Estado, foi ele o porta-voz do recado de que não haveria acordo caso Izolda Cela não fosse a candidata.
Ex-governadora do Ceará e preterida pelo PDT, que escolheu Roberto Cláudio como candidato a governador, ela assumiu a secretaria-executiva do Ministério da Educação (MEC), ao lado de Camilo Santana. Pouco afeita à articulação política, é respeitada mesmo por adversários e nome forte na educação. A filha, Luísa Cela, é a secretária da Cultura. O marido, Clodoveu Arruda, o Veveu, é nome de relevância no PT.
Presidente da Assembleia Legislativa, posto ao qual deverá ser reconduzido, tem ascendência entre os parlamentares. É próximo a Camilo e Elmano e, antes da campanha, foi defensor da governadora Izolda Cela como candidata do PDT à reeleição ao Palácio da Abolição. Quando Elmano foi eleito, Evandro Leitão (PDT) comemorou efusivamente a vitória petista na disputa ao Executivo.
A ex-prefeita de Fortaleza e hoje deputada federal foi responsável por projetar Elmano na política. Ela fez dele secretário, depois candidato a prefeito e posteriormente apoiou a deputado estadual. A presença de pessoas próximas a Luizianne Lins (PT) foi vista desde a equipe de transição até o secretariado.
Dirigente do MDB, o deputado federal eleito é um dos principais interlocutores de Lula no Ceará. É aliado de Camilo Santana, mas estava decidido a não se aliar ao grupo governista se o candidato fosse Roberto Cláudio (PDT) — Eunício tornou-se adversário do ex-prefeito, assim como de Ciro Gomes. Quando Camilo Santana decidiu bancar o rompimento com o PDT, o MDB foi o principal aliado na empreitada.
Deputado estadual a caminho do oitavo mandato, foi três vezes presidente da Assembleia Legislativa. Dos mais graduados aliados de Elmano na eleição, é aquele que irá diretamente ser secretário, e não fazer indicação. Retorna à pasta que comandou no governo Camilo, até o fim de 2021. Aliado histórico dos Ferreira Gomes, deixou o PDT rumo ao Progressistas no ano passado, insatisfeito com falta de espaço. No rompimento, ficou com Camilo contra os ex-aliados.
Quando perdeu para Capitão Wagner o comando do União Brasil, Chiquinho Feitosa foi recebido de volta pelo PSDB de Tasso Jereissati, que prestigiou o retorno de "volta ao aconchego", como cantado pelo sanfoneiro Waldonys na Assembleia Legislativa. Na campanha, Tasso aderiu à candidatura de Roberto Cláudio, indicando o empresário Amarílio Macedo como candidato na chapa contra Camilo. À revelia de Tasso, Chiquinho, então presidente do PSDB, liderou convenção na qual se tirou decisão pela neutralidade do partido na disputa. Sob acusações de manobra, com intervenção nacional e disputa judicial, o PSDB implodiu. Amarílio foi impedido de ser candidato e as chapas do PSDB para a Assembleia e Câmara dos Deputados foram desorganizadas. Chiquinho vestiu vermelho e apoiou Elmano na disputa ao governo.
Enquanto o PDT rachava entre Roberto Cláudio e Izolda Cela, o senador Cid Gomes (PDT) se distanciou como modo de respeitar a preferência de Ciro Gomes (PDT) por RC. Os irmãos ficaram tempos sem se falar. Cid não fez campanha para o candidato do partido e se limitou a participar de adesivaços em prol do do PDT à Presidência e do PT ao Senado, Camilo Santana, com quem Ciro rompeu e brigou. Ainda aliado de
Ex-secretária da Fazenda do Ceará, foi convidada para ficar no cargo por Elmano, mas preferiu aceitar convite de Camilo para ser a presidente do estratégico Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Fora do governo, teve dois ex-colaboradores escolhidos para as principais funções da economia cearense: Fabrízio Gomes (Fazenda) e Sandra Machado (Planejamento e Gestão).
- Guimarães:
Desenvolvimento Agrário (SAD): Moisés Braz
Trabalho: Vladyson Viana
- Luizianne
Articulação Política: Waldemir Catanho
Cidadania e Diversidade: Mitchelle Meira
- Camilo
Casa Civil: Max Quintino
Proteção Social: Onélia Santana
Esporte: Rogério Pinheiro
Mulheres: Jade Romero
Controladoria e Ouvidoria Geral do Estado (CGE): Aloísio Carvalho
Pesca e Aquicultura: Oriel Nunes Filho
Desenvolvimento Econômico: Salmito Filho
Recursos Hídricos: Robério Monteiro
Cidades: o próprio Zezinho é o secretário
Infraestrutura: Antônio Nei de Sousa
Cultura: Luísa Cela
Juventude: Adelita Monteiro
Ciência, Tecnologia e Educação Superior: Sandra Monteiro
Povos Indígenas: Juliana Alves, Cacika Irê
Educação: Eliana Estrela
Fazenda: Fabrízio Gomes
Planejamento e Gestão: Sandra Machado
Saúde: Tânia Mara Coelho
Segurança Pública: Samuel Elânio
Administração Penitenciária: Mauro Albuquerque
Controladoria-geral de Disciplina: Rodrigo Bona Carneiro
Procuradoria-geral do Estado: Rafael Moraes
Turismo: Yrwana Albuquerque, secretária do Turismo e Cultura de Caucaia
Meio Ambiente: Vilma Freire, administradora, presidente da Agência de Defesa Agropecuária (Adagri)
Direitos Humanos: Socorro França. Foi secretária da Justiça e da Proteção Social nos governos de Camilo Santana (PT), assessora de Política Públicas sobre Drogas no governo Cid Gomes (PDT). Foi procuradora-geral de Justiça do Ceará em cinco mandatos.
Igualdade Racial: Zelma Madeira, assessora especial de Acolhimento aos Movimentos Sociais do Governo do Ceará
Relações Internacionais: Roseane Medeiros, atual secretária-executiva do Desenvolvimento Econômico e Trabalho, foi presidente do Centro Industrial do Ceará (CIC)