A preço de hoje, o cenário eleitoral para 2024 se mostra cada vez mais fragmentado, tanto no governismo quanto na oposição, com dois ou três blocos tentando se viabilizar em meio ao rearranjo de forças no âmbito estadual e mesmo nacional.
Pré-candidato à reeleição, o prefeito José Sarto (PDT) não deve reeditar a coalização que o fez chegar ao Paço em 2020, quando derrotou um Capitão Wagner (União Brasil) em torno de quem o conservadorismo em Fortaleza havia se agrupado.
Diferentemente do pleito daquele ano, agora nem Sarto tem a seu lado as mesmas forças que lhe deram sustentação eleitoral, tampouco a candidatura de Wagner é capaz de dar coesão ao campo da direita, que já sonda outros nomes, a exemplo dos jovens deputados Carmelo Neto e André Fernandes, ambos do PL.
Sarto tem um grande desafio pela frente: sem o PT e outras legendas na aliança, costurar um arco de apoios capaz de fazê-lo chegar ao segundo turno da disputa pelo voto do fortalezense.
Afinal, o racha responsável pelo rompimento entre PT e PDT no estado causou um verdadeiro redesenho das forças políticas locais, num movimento que foi potencializado pela eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência.
Desse modo, assim como já havia ocorrido em 2022, o governismo vai dividido para a briga: de um lado Sarto, postulando renovação de mandato, e, do outro, o nome a ser apresentado pelo grupo do governador Elmano de Freitas (PT), do ministro Camilo Santana (PT) e do senador Cid Gomes (PDT), que vêm atuando em sintonia fina.
Esse embate anunciado pode até parecer uma repetição da corrida de 2022, vencida por Elmano, mas tem diferenças. A principal é o envolvimento direto, desde já, de Cid nas articulações, orquestrando adesões de partidos e ajudando a ampliar a base governista, como ficou provado na entrada de Podemos e Republicanos no raio de influência do Abolição.
No ano passado, como o cearense deve se lembrar, o senador pedetista se retirou do tabuleiro político, mantendo-se em silêncio durante todo o primeiro turno, que foi suficiente para sacramentar a vitória do representante do PT na queda de braço contra Roberto Cláudio (PDT) e Capitão Wagner.
A um ano e cinco meses da campanha, essas três forças (“camilistas”, aliados de Sarto e oposição) entram em cena divididas, precisando resolver problemas em seus próprios domínios antes de efetivamente cair na rua.
Desses blocos, no entanto, há um mais avançado e cujo capital se amplia com a campanha bem-sucedida do ano passado: a base de Elmano. Hoje formado pelas siglas que estiveram na composição de 2022, o grupo vem ganhando novos inquilinos, alguns atraídos pela força do Governo Federal, outros pelo horizonte de expansão da influência de Camilo no Ceará.
Além de Podemos e Republicanos – que passaram ao comando de Bismarck Maia e Chiquinho Feitosa, respectivamente –, o PSD mantém conversas muito avançadas com interlocutores do Governo – leia-se, Cid e Camilo.
O entendimento na agremiação dirigida por Domingos Filho, ex-vice-governador do Estado, tem sido o de que a ruptura de 2022 se deu por desentendimento exclusivo de PT e PDT, sem anuência ou contribuição direta do PSD.
À reportagem, a liderança afirmou “essa composição vem vencendo as eleições no estado por 20 anos, dos quais nosso partido faz parte, a não ser essa última eleição em que houve disputa e que a cisão não foi o PSD que deu causa, era uma briga com o PDT”.
“Não seremos obstáculo para essa recomposição”, enfatizou Domingos, que concorreu a vice novamente em 2022, mas na chapa encabeçada por Roberto Cláudio.
Caso o acerto se confirme, terá sido o terceiro grande partido, e um dos mais relevantes no interior cearense, a fechar com o governismo de olho em 2024.
Essas acomodações têm sido a forma que o Governo encontrou para preencher lacunas desde a cisão com o PDT de RC e Ciro Gomes, que selaram apoio à reeleição de Sarto – na convenção municipal pedetista, o prefeito foi saudado como o postulante natural à recondução.
Para o cientista político Cleyton Monte, contudo, a candidatura de Sarto ainda está tentando se firmar no território movediço da política, abalado neste momento por fatores políticos (como a fuga de aliados) e administrativos (a taxa do lixo)
“Tendo em vista dificuldades e impopularidade, me parece que o prefeito está se esforçando cada vez mais para provar que ele deve ser o candidato, mas não é consenso dentro do grupo que ele deva tentar reeleição”, avaliou Monte, para quem a única certeza agora é de que “o PDT do RC e Ciro vai ter candidato”.