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Ser humano x máquina nas eleições: o que esperar da inteligência artificial
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Ser humano x máquina nas eleições: o que esperar da inteligência artificial

Nas eleições da Argentina, houve o uso em massa de produtos, sejam imagens ou vídeos, na campanha eleitoral de Sérgio Massa e Javier Milei
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Candidato à presidência da Argentina é retratado, em imagens criadas com IA, em cima de um cavalo branco (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
Foto: Reprodução/Redes Sociais Candidato à presidência da Argentina é retratado, em imagens criadas com IA, em cima de um cavalo branco

Em pouco tempo, popularizou-se a produção de imagens com inteligência artificial. É comum o entusiasmo de ver a própria imagem com traços renascentistas pintados a mão ou como um personagem de desenho animado. Pedir respostas ou sugestões a bots como Chat GPT(OpenAI), Bard (Google) ou Bing Chat (Bing) ficou fácil na distância de apenas umas teclas. Os principais questionamentos sobre o uso ficavam no campo artístico ou ético, mas a disputa travada pelos candidatos na eleição presidencial na Argentina, novas preocupações chegam ao campo eleitoral.

O pleito argentino foi celeiro de testes para a IA em campanhas. As redes sociais se tornaram campo de batalha em que os candidatos eram os protagonistas de diversas narrativas em cartazes, imagens e produções audiovisuais.

Por um lado, Sergio Massa, da coligação Unión por la Patria, aparecia, em imagens criadas com IA, em um cavalo branco em trajes principescos ou posando com uma dupla inusitada como a cantora Taylor Swift e o rapper Ye, mais conhecido como Kanye West. Ele também foi retratado como um soldado na guerra, um astronauta, e personagens como o aventureiro Indiana Jones e o lutador Goku. Em outra frente, no entanto, foi protagonista de vídeos manipulados em que estaria usando drogas ou criticando a educação pública do país.

No mesmo caminho esteve a figura de Javier Milei, da coligação La Libertad Avanza. O presidente eleito, quando candidato, foi retratado como um vilão usando camisa de força em vídeo em que cidades da Argentina aparecem pegando fogo. Em outro caso, uma gravação preparada com IA, colocou o rosto de Milei numa cena do filme “Laranja Mecânica”.

O rosto do político é unido no do personagem principal, o sociópata Alex DeLarge, autor de diversos crimes ao longo do filme. O próprio libertário usou as redes sociais para compartilhar imagens, também criadas com IA, retratando seu adversário como um líder comunista chinês e de um pato e um leão abraçados, que representou o apoio formal de Patricia Bullrich, terceiro lugar nas eleições, a ele no segundo turno.

Ao O POVO, um dos marqueteiros de Milei falou sobre a estratégia de usar inteligência artificial. Pablo Nobel projetou que a ferramenta será usada nas campanhas municipais do Brasil em 2024, assim como em outras eleições mundiais. Um mês após o pleito brasileiro, os eleitores dos Estados Unidos vão às urnas para quem comandará o país.

“A inteligência artificial veio para ficar. Tivemos agora a experiência da inteligência artificial aplicada a uma eleição pela primeira vez, com tudo que isso implica, prós e contras. Aí temos uma questão ética, que essa ferramenta traz e que na campanha de Javier Milei isso também acaba ficando claro”, avaliou.

E seguiu: “É uma questão e entendo que será uma questão nas eleições a prefeituras no ano que vem no Brasil e nas eleições mudo afora, a partir desse ano. São desafios que a tecnologia traz inclusive do ponto de vista ético”, refletiu.

Assim como no Brasil, na Argentina não há uma legislação clara sobre o uso desse tipo de tecnologia, especialmente no contexto de eleição. A ausência de parâmetros legais também abre espaço para crimes como o caso em que a Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga sobre o uso da ferramenta para a criação de montagens de fotos íntimas de alunas do colégio por parte dos estudantes.

Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, fez alertas de que a tecnologia será uma das principais “ameaças” ao processo democrático em um ambiente que ainda se tenta lidar criar mecanismos de checagem na mesma velocidade em que peças desinformativas circulam.

“A inteligência artificial é capaz de simular discursos que somente laudos comprovam a falsidade”, disse em cerimônia na sede do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP).

De acordo com o ministro, a Justiça Eleitoral prepara estudos e deve realizar um evento internacional em março de 2024 para debater o tema. “Tudo isso, para que possamos balizar a regulamentação via resoluções, a fim de evitar malefícios que o mau uso da inteligência artificial, em conjunto com a desinformação nas redes sociais, pode trazer para a democracia brasileira”, afirmou.

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