A semana política brasileira foi marcada pelo retorno dos trabalhos no Congresso Nacional, o início do ano no Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltando a fazer viagens após as cirurgias pelas quais passou em dezembro. Mas, o assunto que mais repercutiu foram os bonés usados pelos governistas, com reações dos adversários.
A "guerra dos bonés" foi o capítulo da vez do momento de experimentação na comunicação pelo qual passa o meio político, de olho nas estratégias para as eleições de 2026.
Em 1º de fevereiro, nas eleições das mesas diretoras da Câmara dos Deputados e do Senado, os ministros licenciados do governo possuem mandatos no Congresso Nacional apareceram com bonés azuis (cor relacionada ao Partido Democrata, opositor de Trump nos EUA) com os dizeres "O Brasil é dos brasileiros". Era uma resposta aos apoiadores do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, inclusive no Brasil, que usam bonés vermelhos com o lema "Make America Great Again (Torne a América Grande de Novo, na tradução).
Os bonés se transformaram em instrumentos de provocação entre os parlamentares. A Secretaria das Relações Institucionais da Presidência informou na segunda-feira que tinham sido confeccionados 100 bonés de cores variadas. Deputados de Psol e do PT, por exemplo, usaram versões em verde e amarelo. A ideia da frase partiu do novo ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), o marqueteiro Sidônio Palmeira. Quando a estratégia já fazia sucesso nas redes, o presidente Lula aderiu.
A oposição também usou o vestuário para mandar a resposta. O novo líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), fabricou 30 bonés em verde e amarelo com a frase: "Comida barata novamente. Bolsonaro 2026". Também houve paródias com uma marca famosa de café chamada na peça de "Nemcafé" e uma foto de Bolsonaro em uma embalagem de carne com os dizeres: "Picanha Black".
O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) publicou imagem nas redes sociais em que aparece usando boné com o dizer: "Vão trabalhar, vagabundos".
Na quarta-feira, 5, em reunião do Consórcio Nordeste, o governador cearense Elmano de Freitas (PT) apareceu com o boné azul, ao lado de outros governadores petistas da região.
Na quinta-feira, 6, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ironizou a perda de R$ 14 bilhões da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ). Publicou imagem de um boné azul com a frase: "O rombo de 14 bilhões da Previ é dos brasileiros". Para o bem ou para o mal, a esquerda conseguiu algo que tem sido quase exclusividade da direita — criou um símbolo capaz de dominar o debate nas redes sociais, inclusive entre a direita.
O começo de 2025 tem sido marcado por mudanças em equipes e apresentação de novas estratégias de comunicação política. Em Fortaleza, Evandro Leitão, único petista prefeito de capital no Brasil, iniciou o mandato com agenda intensa na cidade e forte presença nas redes. no Governo do Ceará, Elmano de Freitas trocou secretários e, ainda em dezembro, colocou como chefe da Casa Civil o jornalista Chagas Vieira, que exerceu a mesma função no governo Camilo Santana (PT) e foi o estrategista das eleições de Elmano e Evandro.
No plano federal, o ano começou com a esquerda levando uma surra na comunicação, com a crise e posterior recuo sobre a fiscalização do Pix.
Problemas vinham de antes. Desde o início de 2024, Lula demonstrava insatisfação com os resultados da comunicação e intensificou as reclamações no fim de 2024. Durante um seminário do PT, em 6 de dezembro, ele reconheceu que houve erros estratégicos e afirmou que mudanças seriam necessárias. Para integrantes do partido, essa declaração foi interpretada como uma "demissão pública" do então ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), o jornalista e técnico agrícola Paulo Pimenta. No lugar entrou o marqueteiro Sidônio Palmeira, que já havia participado da campanha de Lula em 2022.
O anúncio da troca na Secom ocorreu quando a crise do Pix já ganhava corpo e a posse efetiva só ocorreu no auge do desgaste. Um primeiro resultado foi a substituição na chefia da Secretaria de Estratégias e Redes. Sidônio demitiu Brunna Rosa, apadrinhada da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja.
Desde então, a redes sociais de Lula estão mais parecidas com a do aliado e prefeito do Recife, João Campos (PSB), mais popular das personalidades da esquerda da nova geração.
A mudança no tom, adotando uma linguagem mais jovem, com referências a memes e nativa da rede de vídeos curtos TikTok, vem ocorrendo após a chegada de Mariah Queiroz Costa Silva, ex-integrante da equipe de Campos.
Postagens como o anúncio de contrato de concessão de obra rodoviária em Minas Gerais ou a exaltação do cinema brasileiro pela indicação de Ainda estou aqui para concorrer ao Oscar adotam linguagem diferente, com tom mais informal, bate-bola entre Lula e outro personagem, além de efeitos sonoros, cortes rápidos, inserções de elementos visuais e movimentos de câmera dinâmicos. As legendas também mudaram e, agora, são coloridas com fundo preto, dando um tom descontraído à comunicação.
Antes, os vídeos de Lula mantinham características mais formais, com menos recursos visuais e adotavam uma linguagem sobretudo institucional, com trechos de declarações públicas em eventos ou em formato semelhante a entrevistas.
As semelhanças são muitas com o perfil de Campos no Instagram. Há um ano, o prefeito tinha 1,1 milhão de seguidores e era o chefe de Executivo municipal, entre as capitais, mais popular na rede social. Hoje, o prefeito acumula mais que o dobro: são 2,8 milhões de usuários o seguindo somente no Instagram.
Na primeira reunião ministerial do ano, Sidônio disse que todos os ministros, de agora em diante, precisarão adotar uma estratégia ofensiva e pôr de pé uma "central de monitoramento das redes sociais" para dar respostas rápidas a problemas que atingem o governo.
No Planalto, o dano causado à imagem do governo com o caso Pix foi atribuído a um erro de comunicação. A revogação ocorreu após forte pressão nas redes sociais, puxadas por vídeo enganoso do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), em que afirmava que haveria quebra de sigilo nas transações.
Sidônio pretende fazer de Lula o "motor de conteúdo" do governo. Segundo ele, toda vez que houver alguma medida importante a ser divulgada, quem falará primeiro será o presidente. Depois, os canais oficiais do governo e, só então, os ministros.
Eleito no último dia 1º fevereiro presidente da Câmara, o deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) passou a apostar em comunicação de linguagem "jovem". Publica vídeos com cortes rápidos, músicas, cores berrantes, emojis e trechos de filmes. Para isso, contratou dois marqueteiros e é seguido por um videomaker. (Com Agência Estado)
Aprovação de Lula nas pesquisas
Uma série de pesquisas tem avaliado a popularidade da gestão Lula nesse início de terceiro ano de mandato. Veja abaixo os dados mais recentes de levantamentos que avaliaram a gestão federal.
Quaest - janeiro/2025
Desaprovação superou a aprovação, numericamente, pela primeira vez desde o início da série histórica da pesquisa, iniciada em 2023.
Aprova o governo: 47% (eram 52% em dezembro);
Desaprova o governo: 49% (eram 47% na anterior);
Não sabe/não respondeu: 4% (eram 2% antes).
Pesquisa ocorreu entre 23 e 26 de janeiro. Contou com 4,5 mil eleitores entrevistados em todo o Brasil e tem margem de erro de 1 ponto percentual, para mais ou para menos.
Atlas - dezembro/2024
Pesquisa AtlasIntel realizou 2.873 entrevistas, via internet, entre 26 e 31 de dezembro de 2024. A pesquisa tem grau de confiança de 95% e foi contratada pela Bloomberg.
Aprovação de Lula
Desaprova Lula: 49,8% (eram 47,3% em novembro)
Aprova Lula: 47,8% (eram 47,3%)
Não sabe: 2,4% (eram 5,6%)
Pesquisa Paraná - Janeiro/2025
Pesquisa Paraná ouviu 2.018 eleitores de todo o País, entre 7 e 10 de janeiro. A pesquisa tem margem de erro de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos e um nível de confiança de 95%.
Aprova o governo Lula: 46,1%
Desaprova o governo: 50,4%
Não sabem ou não responderam: 3,5%.
A desaprovação caiu desde o último levantamento, realizado em novembro. À época, a desaprovação atingiu 51%. Já o índice de aprovação era o mesmo do levantamento atual.