O feriado de 7 de setembro ganhou ainda mais contornos políticos em meio ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete réus no Supremo Tribunal Federal (STF). Ao longo do dia, aliados do ex-mandatário foram às ruas para cobrar anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023 e ao próprio Bolsonaro. Por outro lado, opositores do ex-presidente estiveram em atos que cobraram a condenação de todos envolvidos no processo, sobretudo de Bolsonaro que terá o julgamento no Supremo encerrado nesta semana.
Atos a favor da anistia para Bolsonaro e apoiadores que invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília, ocorreram em diversas cidades, dentre elas, Fortaleza, São Paulo e Rio de Janeiro. Na capital paulista, aliados do ex-presidente discursaram pedindo a anistia e criticaram ministros do STF, tendo como alvo prioritário Alexandre de Moraes.
O pastor Silas Malafaia afirmou que atos da esquerda na mesma data foram um "fiasco" em todo o Brasil e que o PT fala contra a anistia, mas lutou pelo perdão no "passado", comparando a anistia na ditadura militar ao pedido atual de bolsonaristas. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), seguiu a mesma linha: "Aqueles que hoje falam 'sem anistia' foram beneficiados pela anistia no passado", disse em discurso no ato.
Já o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, declarou ter maioria para aprovar a anistia no Congresso. Valdemar discursou na Avenida Paulista, abraçado com uma almofada com a caricatura de Bolsonaro, e citou partidos que estariam juntos com o PL para pautar o tema: PP, União Brasil e PSD. Todos têm ou já tiveram ministérios no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Recentemente, a federação entre União e PP determinou que filiados devem deixar os cargos no governo Lula.
"Vamos aprovar a anistia. Quero dizer que estaremos juntos. PP, União Brasil e PSD estão juntos com o PL. Temos maioria para aprovar a anistia. E quero vocês cobrando isso, sempre. Vocês são a nossa força, a maior força que um homem já teve no Brasil, Jair Messias Bolsonaro", declarou o presidente do PL, acrescentando que não há "plano B" para 2026 e que a sigla trabalha pela candidatura de Bolsonaro à Presidência. O ex-presidente continua inelegível e não poderia, em tese, concorrer ano que vem.
As críticas a Moraes ocorrem dois dias antes do início da segunda semana de julgamento de Bolsonaro no STF. A sessão na terça-feira, 9, começará com o voto de Moraes, que é relator da ação penal que mira Bolsonaro e outros réus na 1ª Turma do STF.
Também no domingo, ocorreu o evento oficial que celebrou o 203º aniversário da Independência do Brasil, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. O ato, que contou com a presença de diversas autoridades, dentre elas o presidente Lula (PT) e o presidente da Câmara Hugo Motta (Republicanos-PB), foi marcado por um coro “sem anistia”, direcionado a Motta, que sofre pressão da oposição para colocar o tema em pauta no Legislativo.
Políticos de esquerda e movimentos sociais também organizaram atos contra a anistia e pedindo a condenação de Bolsonaro. Em São Paulo, representantes de centrais sindicais e de partidos políticos da esquerda estiveram na Praça da República (centro) no Grito dos Excluídos; ato em favor de grupos marginalizados que chegou em sua 31° edição em 2025.
Em Fortaleza, o grito dos excluídos reuniu militantes e políticos reuniu manifestantes na Praça da Paz Dom Hélder Câmara, de onde seguiu em caminhada até a Comunidade Raízes da Praia, no bairro Vicente Pinzón.
Dentre os políticos presentes estiveram o vereador da Capital Gabriel Biologia (Psol) e a deputada estadual Larissa Gaspar (PT). Faixas no evento cobravam a não concessão de anistia aos envolvidos no 8 de janeiro e “Bolsonaro na cadeia”.
“Sem anistia. Enquanto tem uns indo às ruas defender golpistas, estamos indo pelo que realmente importa: fim da Escala 6x1; taxação dos super ricos; isenção de imposto para quem ganha até R$ 5 mil; soberania nacional e defesa da democracia e do Meio Ambiente”, escreveu Gabriel em publicação nas redes sociais. Larissa registrou a presença no ato e afirmou: “Brasil soberano e Bolsonaro na cadeia”.
Após meses de movimentação, o projeto de lei de anistia deverá ser pautado na Câmara dos Deputados, mas em uma versão que não contempla o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu no STF por tentativa de golpe de Estado. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), bateu o martelo sobre o avanço da pauta, mas o texto preverá anistia apenas para os condenados pelos atos do 8 de janeiro, e não um perdão amplo e irrestrito, como defende o PL, partido do ex-presidente. A informação é do correspondente do O POVO em Brasília, João Paulo Biage.
A decisão de Motta foi tomada após conversas com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que descartou a possibilidade de colocar em votação o projeto da oposição bolsonarista. Há semanas, Alcolumbre menciona a possibilidade de votar um projeto alternativo relacionado à dosimetria das penas, e não ao perdão de crimes. Ou seja, existe a possibilidade de reduzir o período de prisão de alguns dos envolvidos nos atos do 8 de janeiro. Nessa versão, não há anistia para Bolsonaro, como pretendia o projeto encabeçado pelo PL.