A Prefeitura de Fortaleza e seus órgãos Instituto de Planejamento e Pesquisa de Fortaleza (Ipplan) e Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) foram surpreendidos pela reviravolta na Conferência da Cidade que classificou a floresta do entorno do aeroporto como Zona de Proteção Ambiental (ZPA).
Com a nova definição, há uma maior dificuldade na construção do complexo logístico no local. A Prefeitura defendia classificar 96 hectares da área como ZPA, mas a conferência conseguiu aprovar cerca de 200 hectares, deixando o governo "em choque". Na versão inicial da minuta, a região específica do empreendimento aparecia como uma Zona de Uso Sustentável (ZUS). Nesta modalidade, é permitido construções.
A Conferência da Cidade tem três grandes eixos de delegados votantes nas decisões. Primeiro, é o poder público, o segundo é o campo popular onde integram os movimentos sociais, e por último as construtoras. O campo social apresentou a proposta da redefinição ambiental na floresta.
Horas antes da votação da proposta, lideranças, incluindo o vereador Gabriel Aguiar (Psol), se articularam entre os movimentos para convencer os delegados a votarem a favor, até com representantes das construtoras.
O campo popular já estava favorável a proposta, portanto os articuladores tentaram buscar votos de outros setores e até mesmo abstenções para viabilizar a medida.
Na hora da votação, o resultado foi a aprovação de classificar a área que ficou conhecida como Floresta do Aeroporto em ZPA com uma ampla maioria. Isso pegou de surpresa tanto a Prefeitura como os próprios campos populares. Algumas pessoas se levantaram e tentaram recontar os votos, segundo relatos.
"Foi um susto na Seuma e Ipplan. Eles não esperavam e não sabiam que a gente estava fazendo boa articulação. Achavam que iam ganhar fácil", confidenciou uma fonte à coluna.
Ainda de acordo com relatos, inconformados com o resultado pediram recontagem e quiseram invalidação da votação. Por meio de câmeras, tiveram a garantia do pleito. "Acabou a conferência por VAR", disse.
Um membro de um dos órgãos da Prefeitura admitiu falta de articulação durante o processo, resultando em um caso que será levado à Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor). "Parecia a gestão do (José) Sarto", declarou ao referenciar a desorganização.
"Falta interlocução com os movimentos sociais. Esse é o maior erro da gestão", admitiu um interlocutor da Prefeitura após o revés.
A região vem sendo alvo de questionamentos, especialmente após a derrubada de dezenas de hectares. No fim de setembro, a Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (Sema) e a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) suspenderam a licença ambiental concedida à empresa responsável pela construção do empreendimento. O Ministério Público Federal no Ceará (MPF) pediu a instauração de um inquérito no âmbito da Polícia Federal para investigar possíveis irregularidades. A empresa aponta ter licença para a ação.