As rodadas de negócios do Conexão & Capital mostraram que o ecossistema de inovação do Ceará atraiu a atenção de investidores de fora do Estado pela maturidade dos negócios apresentados.Segundo participantes, as startups cearenses chegaram às mesas com produtos operando, clientes ativos e times preparados, um cenário que resultou em agendas abertas, cartas de intenção e encaminhamento de novas conversas para as próximas semanas.
Realizado na Feira do Conhecimento 2025, que termina neste sábado, 8, o Conexão & Capital reuniu startups, grandes empresas e fundos de investimento de diferentes regiões do País, entre eles Triaxis Capital, Cedro Capital, BFA e Rise Ventures.
O formato, semelhante ao “speed dating”, estabeleceu encontros previamente alinhados com os desafios apresentados por empresas e investidores.
O CEO da Urbis, Luiz Santos, avalia que esta edição reuniu fundos “que têm histórico consistente de aportes” e que, normalmente, não atuam com frequência fora dos grandes centros. Ele explica que a estrutura do evento permitiu conversas que, em outros contextos, levariam meses para ocorrer.
“Conversamos com Darwin, Triaxis, Cedro Capital, BFA e, ainda hoje, com a Venture. Esses fundos não são acessíveis em qualquer cenário. O evento proporcionou justamente o que costumamos demorar muito para conquistar: o primeiro contato direto”, afirma.
Rafael Silveira, diretor de operações da Casa Azul, define o evento como um “casamento oportuno” entre teses cearenses e perfis de fundos nacionais. Ele afirma que várias conversas avançaram para agendas futuras e envio de documentos preliminares.
Conforme Silveira, o nível de maturidade apresentado pelas startups chamou a atenção dos investidores.
“Não trouxemos apenas quem queria aparecer. Trouxemos quem estava pronto para ser avaliado. Isso fez com que os fundos percebessem que há bons empreendedores e bons negócios aqui”, explica.
Silveira também cita a Grid, startup cearense do setor de energia, como um dos casos que já iniciou negociação com investidores após as rodadas.
O diretor de Transformação Digital da Pague Menos, Uderson Fermino, esteve em duas rodadas e identificou possibilidade de piloto com uma das startups.
“Isso evita encontros fora de contexto. As startups já chegam entendendo o tipo de solução que faz sentido para a empresa”, diz.
Fermino também avalia positivamente o cenário cearense. “Sou paulista, já participei de vários ecossistemas em São Paulo. Fiquei impressionado. Conversei com crianças de 8 e 9 anos explicando ideias que desenvolveram. Há um movimento forte acontecendo aqui”, menciona com bom humor.
Representante do Ninna Hub, Michael Dhyane destaca que o Conexão & Capital funcionou como vitrine para startups e como aproximação com empresas e fundos. Ele cita a presença de grupos como Pague Menos, Solar Coca-Cola, M. Dias Branco e Betânia.
Segundo ele, as conversas geraram intenções de continuidade. “O evento não é o lugar do cheque assinado. Ele inicia o processo. E houve várias sinalizações para aprofundar o diálogo”, frisa Dhyane.
Para Luiz Alves, diretor de Inovação e Novos Negócios do Instituto Atlântico, o Conexão & Capital é uma das “pontes mais relevantes” entre startups, investidores e instituições de ciência e tecnologia no Ceará.
O Instituto apoiou quatro startups nesta edição — ChefPro, Anula Multa, Flake Flow e WavingTest —, as quais realizaram 11 reuniões, resultando em quatro convites para provas de conceito (POCs) e duas intenções de investimento.
Para Alves, o principal destaque foi o amadurecimento das soluções apresentadas. “As startups chegaram com propostas aplicadas a desafios reais, especialmente em automação, dados e eficiência operacional. O evento já funciona como ambiente de negócios, não apenas de networking”, esclarece o diretor.
Ele também explica que o Instituto Atlântico atua há cinco anos conectando startups a grandes empresas por meio do programa Praia e do laboratório Alia, voltado à inovação aberta em inteligência artificial.
Participantes apontam como desafios ampliar o acesso das startups cearenses a fundos de outras regiões, estimular negócios alinhados às vocações econômicas do Estado e manter uma rotina de aproximação entre grandes empresas e empreendedores locais.
As próximas semanas devem concentrar as reuniões abertas no evento e algumas startups já enviaram documentos iniciais para análise de fundos.
De acordo com Rafael Silveira, o objetivo é consolidar o modelo adotado: “Os fundos já sinalizaram interesse em voltar. A ideia é aprofundar esse formato e ampliar as rotas de investimento para o Ceará”.
Ele reforça o propósito de continuidade e fortalecimento das redes criadas durante os dias de evento.
“O Ceará tem vocação para inovar. O que precisamos é manter essas conexões vivas, para que os investimentos encontrem as ideias, e que essas ideias continuem sendo desenvolvidas aqui”, conclui.