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Bolsonaro atribui violação de tornozeleira a "paranoia" causada por medicamentos
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Bolsonaro atribui violação de tornozeleira a "paranoia" causada por medicamentos

Ex-presidente aguarda decisão do STF sobre possível soltura após audiência de custódia que manteve prisão preventiva. Ele alegou "alucinações"
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Michelle Bolsonaro (Foto: EVARISTO SA / AFP)
Foto: EVARISTO SA / AFP Michelle Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou o domingo, 23, isolado na Superintendência da Polícia Federal (PF) em Brasília, onde cumpre prisão preventiva. Após participar de audiência de custódia por videoconferência, ele ouviu da Justiça que permaneceria detido ao menos até esta segunda-feira, 24, quando o ministro Alexandre de Moraes deverá decidir se mantém ou revoga a prisão.

A defesa do ex-presidente concentra agora seus esforços em tentar reverter a detenção, decretada após Bolsonaro tentar violar a tornozeleira eletrônica com um ferro de solda. No depoimento, ele negou intenção de fuga e atribuiu o episódio a uma "paranoia" causada por uma interação medicamentosa.

Durante a audiência, conduzida pela juíza auxiliar Luciana Yuki Fugishita Sorrentino, Bolsonaro afirmou que acreditava haver uma "escuta" dentro do equipamento eletrônico. Segundo ele, a tentativa de abrir a tornozeleira teria ocorrido durante uma espécie de "alucinação", na madrugada de sexta para sábado.

O ex-presidente disse ainda estar sob efeito de uma combinação inadequada de dois medicamentos — Pregabalina e Sertralina — receitados por médicos diferentes. Ele relatou ter iniciado um dos remédios apenas quatro dias antes e afirmou não ter histórico de crises semelhantes.

A versão contrasta com a decisão de Moraes, que fundamentou a prisão preventiva no "elevado risco de fuga" após a ruptura do dispositivo de monitoramento.

Apesar da justificativa, Bolsonaro confirmou que tinha consigo um ferro de solda e que o utilizou para tentar abrir a tampa da tornozeleira. Ele afirmou que a família — uma filha, o irmão mais velho e um assessor — estava em casa, mas dormia no momento da ação.

O domingo na PF foi de movimentação restrita. O médico Cláudio Birolini, responsável pela última cirurgia do ex-presidente, esteve no local mais cedo e saiu sem falar com a imprensa. A defesa havia solicitado acompanhamento médico, pedido já autorizado por Moraes.

Após visita da equipe médica, um boletim informou que o ex-presidente está clinicamente estável e passou a noite sem intercorrências na Superintendência da PF. Conforme os profissionais, a equipe médica fez os ajustes necessários na medicação, restabelecendo o protocolo terapêutico anterior, e continuará monitorando o quadro clínico de Bolsonaro.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro visitou o marido no meio da tarde, após ter a entrada autorizada pelo STF. Ela ficou cerca de duas horas no prédio e não concedeu declarações. A solicitação para que os filhos também pudessem entrar ainda depende de complementação de informações exigida pela Corte.

No início da tarde, cerca de 23 apoiadores se reuniram em frente ao prédio da PF para um ato de vigília. Vestidos majoritariamente de verde e amarelo, cantaram o hino nacional, rezaram o Pai-Nosso e estenderam bandeiras no gramado. O grupo deixou o local depois de pouco mais de uma hora.

A audiência de custódia, realizada entre 12h e 12h50min, confirmou a legalidade da ação policial que cumpriu o mandado de prisão. Bolsonaro declarou ter sido tratado com dignidade e afirmou não ter havido abuso dos agentes. A juíza homologou o procedimento e encaminhou a análise do mérito ao ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo caso.

A Procuradoria-Geral da República também se manifestou pela regularidade da custódia.

Bolsonaro aguarda agora a decisão do STF sobre a manutenção ou não da prisão preventiva. Ele está acomodado em uma sala de Estado, destinada a autoridades e figuras públicas, dentro da sede da PF.

O ex-presidente já foi condenado em setembro a 27 anos e três meses de prisão por liderar uma organização criminosa envolvida na tentativa de golpe de Estado. A defesa tenta evitar que a nova prisão fique em vigor enquanto os recursos da condenação ainda são analisados.

Enquanto isso, Bolsonaro permanece recluso, sustentando que a violação da tornozeleira foi fruto de um surto medicamentoso — argumento que será decisivo para seu futuro imediato.

 

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