Era fim da década de 1950, e o Mundo vivia uma peleja que se arrastava desde o cessar da Segunda Guerra Mundial, em 1944. Com Alemanha nazista derrotada, EUA e União Soviética pleiteavam o posto de maior potência mundial. Sabe quando os dois valentões da escola estão doidos para brigar, mas não sabem qual o arsenal que o inimigo tem? Pois era isso, em termos simples, o ar frio que impedia uma nova batalha. Evitando o fogo na Terra, criaram, então, uma guerra nas estrelas. Em 1969, num 20 de julho como hoje, justinho há 50 anos atrás, num domingo, os EUA colocavam não apenas um, mas logo dois homens na Lua.
Com o Modulo Lunar da Apollo 11, os astronautas Neil Armstrong e Edwin Buzz Aldrin alunissaram - essa palavra bonita que, significando pousar em solo lunar, também ganhou sentindo apenas há meio século. A frase famosa de Armstrong - "Um pequeno passo para (um) homem, um salto gigantesco para humanidade" - foi dita quando ele, concentrado para não tropeçar na escada, se preparava para pôr o pé esquerdo naquele poeiral que, aqui embaixo, reluz e alumia as noites. Buzz, 20 minutos depois, desceu, preocupado em não deixar a dupla trancada do lado de fora do Módulo Lunar - já pensou? Menos poético e mais espontâneo, Buzz, que havia ligado a câmera que gravava e transmitia para o Planeta os passos saltitantes de Armstrong, exclamou: "Uma desolação magnífica".
Fincaram bandeira, mediram abalos sísmicos, reuniram rochas e solo lunar, fotografaram, falaram com o presidente Richard Nixon por telefone, deixaram mensagens de paz e prestaram homenagens - tudo isso em 2 horas e 30 minutos na Lua. Partiram no dia seguinte e voltaram à Terra no dia 24.
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Mas, voltando um pouco a fita dessa história, a essa altura, os russos já tinham lançado com um foguete o Sputinik I (o primeiro satélite artificial que levou os norte-americanos a crerem que a tecnologia daquele foguete poderia lançar ogivas a qualquer parte do Planeta); colocado (e matado de calor) a cadela Laika no espaço; e feito o primeiro voo espacial tripulado por um ser humano, Yuri Gagarin. Foi então que John F. Kennedy estabeleceu que, se a URSS tinha escolhido campo - o espaço - os EUA escolheriam a bola, literalmente: a Lua.
E aí, para conseguir, haja dinheiro para desenvolver as tecnologias necessárias. O professor Gastão Lima Neto, do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP) conta que "nos anos 1960, o orçamento da NASA chegou mais de 4% de todo o orçamento federal norte-americano" - um comparativo, esse número hoje apenas beira 0,5%.
"Essa conquista requereu avanços em muitíssimas áreas técnicas: a construção de um foguete grande o suficiente para lançar em órbita a nave Apollo, capaz de levar homens à Lua e trazê-los de volta, implicou em avanços muito importantes em ciência dos materiais, eletrônica, computação, navegação espacial e muitas outras áreas da engenharia", comenta o professor Roberto Dias da Costa, também do IAG/USP. O que foi inventado para tornar possível o objetivo traçado por JFK é, para Dermerval Carneiro, professor de Astronomia e diretor do Planetário Rubens de Azevedo, ainda mais importante do que realmente chegar até lá. "Vários equipamentos usados hoje na Medicina, para analisar batimentos cardíacos, monitoramento do cérebro, monitoramento da atmosfera, do clima, celulares, microondas, motores para aviação... Todos são equipamentos que evoluíram de itens inventados na corrida espacial", comenta.
O ganho foi tanto que, em termos futebolísticos, foi como se, perdendo de 7 a 0, os americanos marcassem um único gol que valesse por 8. Chegar na Lua valeu a vitória, e colocar lá outros dez pares de pés de astronautas nos três anos seguintes, então, foi goleada. Virou passeio — lunar.
O POVO
O POVO, com duas edições, uma de manhã e uma a tarde, publicou no dia 21 de julho de 1969 capas especiais e matérias com detalhes e imagens da chegada do homem à Lua e também do retorno dos três astronautas à Terra.
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