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Casos de ansiedade, depressão e suicídio entre estudantes
Reportagem

Casos de ansiedade, depressão e suicídio entre estudantes

Segundo pesquisa, quatro em cada dez jovens com idade de 13 a 17 anos não se sentem à vontade para conversar com os parentes em caso de diagnóstico de depressão
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Ansiedade, depressão, automutilação e suicídio são principais transtornos observados em escolas públicas de ensino médio no Ceará (Foto: O POVO)
Foto: O POVO Ansiedade, depressão, automutilação e suicídio são principais transtornos observados em escolas públicas de ensino médio no Ceará

Professores e psicólogos apontam ansiedade, depressão, automutilação e suicídio como os principais transtornos mentais observados nas escolas de ensino médio da rede pública no Ceará. A constatação parte de depoimentos das vivências do dia a dia desses profissionais, tendo em vista a ausência de dados oficiais sobre o assunto.

"A gente fala com dados empíricos de que há uma sequência considerável de suicídios se consolidando. Não há registros. Além de muitos jovens cometendo autolesão e falando de suicídio", posiciona Iane Nobre, coordenadora pedagógica do Ensino Médio do Ceará.  

Alocado na Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede) em Russas, o psicólogo Pedro Magalhães aponta ainda que maior parte dos transtornos está relacionada a problemas com autoestima, falta de suporte familiar, pressões sociais que os jovens recebem tanto da sociedade como da família e da escola. "Eles se cobram muito no sentido de ter alta performance para serem melhores em tudo e dar conta de tudo."

Apesar de afirmar que inexiste um perfil de escola mais propício para alunos apresentarem transtornos psíquicos, Pedro alerta para o risco de unidades educacionais com estímulos de competição entre estudantes e sem abertura para o diálogo poderem apresentar mais casos.

Lucas de Melo, psicólogo clínico, salienta a relutância dos jovens em geral em expressar seus sentimentos. "A dificuldade de conseguir falar com o adolescente é muito marcante. Ele se sente impotente para se expressar." Essa retração decorre da depressão que o jovem pode estar sentindo. Quanto aos sinais básicos de alerta, Melo ressalta o isolamento, mudança de comportamento, agressividade e queda da presença e rendimento na escola.

A percepção do profissional também é apresentada em estudo recém-divulgado do Ibope Conecta, conduzido pela Upjohn. Segundo a pesquisa, quatro em cada dez jovens com idade de 13 a 17 anos não se sentem à vontade para conversar com os parentes em caso de diagnóstico de depressão. Na outra ponta, um idoso a cada dez afirma não contar aos familiares caso fosse diagnosticado com a doença. O levantamento ouviu duas mil pessoas em Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.

"Os adolescentes não têm a noção do quanto o problema pode ser sério." Conforme Lucas, os jovens representam pouco mais de 20% da procura por atendimento em seu consultório. Ainda sim, só os casos mais extremos chegam ao local.

Os sinais de transtornos psicológicos pioram de acordo com o contexto no qual se encontra o aluno, elucida o psicólogo. Entre os motivos mais recorrentes está o conflito com os pais em casa e a acolhida ineficiente na escola, onde a pressão pela imagem e por rendimento dificulta a abertura do estudante ao ambiente escolar.

Automutilação

O psicólogo Lucas de Melo entende ferimentos auto-infligidos como comportamento suicida. "A pessoa se mutila antes de pe sar em se matar e, só de tentar, ela passa uma mensagem: 'Estou triste, estou isolado, minha autoestima está baixa, ninguém gosta de mim, ninguém me ouve'.

Entre adolescentes homens

Um outro fator preocupantes é a resistência dos rapazes em procurar ajuda. O homens têm mais dificuldade de se expressar do que as mulheres. "Eles acham que o problema não tem jeito, que não tem mais solução. A criança vai porque o adulto leva. O adolescente tenta solucionar por ele mesmo e ele não enxerga aquilo como passível de solução, ajuda ou tratamento. Ele está aprendendo a se impor por si só", analisa Lucas de Melo.

Transtornos infantojuvenis

Em 2015, levantamento do Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento para Crianças e Adolescentes apontou que 13% dos infantojuvenis com idade entre 6 e 16 anos possuiam transtorno psíquico. A maior incidência era de ansiedade (7%), hiperatividade (4,5%) e depressão (0,5%).

 

Série

Como parte da série Saúde Mental nas Escolas acompanhe hoje o podcast Recorte sobre o tema:

spreaker.com/show/recorte

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