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Ofensiva do PSD abre crise na base aliada de Camilo
Reportagem

Ofensiva do PSD abre crise na base aliada de Camilo

De olho em 2020, movimentos do PSD no Interior causam desavenças na base política do governador Camilo. Aliados reagem
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PARTIDO comandado por Domingos Filho e Domingos Neto no Ceará — e Gilberto Kassab nacionalmente — PSD tem feito adesões de lideranças de outras siglas no Estado (Foto: Fabio Lima)
Foto: Fabio Lima PARTIDO comandado por Domingos Filho e Domingos Neto no Ceará — e Gilberto Kassab nacionalmente — PSD tem feito adesões de lideranças de outras siglas no Estado

Os últimos movimentos do Partido Social Democrático (PSD) no xadrez político do Ceará têm causado estremecimento e arengas entre aliados do governador Camilo Santana (PT), tais como PSB, MDB e PCdoB.

A colisão mais recente, que tem como pano de fundo as eleições de 2020, foi entre a sigla de Domingos Filho e o partido do ex-senador Eunício Oliveira, o MDB. Prefeito de Pacatuba, Carlomano Marques está deixando as fileiras medebistas para se filiar ao PSD. A migração tem a bênção de Domingos, pai do deputado federal Domingos Neto e marido da deputada estadual Patrícia Aguiar.

O evento para anúncio da chegada de Carlomano já tem data: sexta-feira da semana que vem, dia 20/9, no município da Região Metropolitana de Fortaleza, com a presença do ex-ministro Gilberto Kassab. No mesmo dia, o pessedista visita Iguatu e Juazeiro do Norte, num arrastão de filiações, segundo Domingos Filho, presidente da legenda no Ceará.

Mas as investidas não se limitam ao MDB. "Jaime Jr., ex-prefeito do Icó, está agora no PSD", relata Domingos. "Ele era aliado de Audic (Mota, deputado estadual pelo PSB)." Além de Jaime, também se bandeou para o mesmo endereço partidário dos Aguiar o atual prefeito de Quiterianópolis, Dr. Barreto. "Já anunciou que está vindo para o PSD. Ele e quase dois terços da Câmara", avisa.

Para membros do bloco camilista, o presidente do PSD está bagunçando o coreto do governismo. "É pública a cooptação do PSD com os demais partidos, não apenas o MDB. Está se indispondo com lideranças de diversos aliados. Por exemplo, o PCdoB", criticou o deputado estadual Leonardo Araújo (MDB).

De acordo com o parlamentar, Domingos não está respeitando espaços de liderança alguma. "É legítimo se movimentar, desde que essa movimentação parta de princípios éticos", avaliou. "Essa ânsia é doentia. Domingos é um psicopata do poder. Está atropelando o partido."

Em seguida, comentou a desfiliação de Carlomano: "Não tenho problema de ele ter levado o prefeito Carlomano, apesar de estar sentindo a saída dele".

O medebista então respondeu que os passos do PSD precisam de uma resposta por parte do governo. "(Camilo) Não pode deixar as bases dele estraçalhadas. Eu acredito que chegará o momento em que o governador terá que tomar uma atitude. Não só em relação a Pacatuba e Tauá, mas em relação ao Estado todo", advertiu.

Audic Mota foi ontem à tribuna da Assembleia responder a críticas de Patrícia Aguiar. (Máximo Moura/Assembleia)
Audic Mota foi ontem à tribuna da Assembleia responder a críticas de Patrícia Aguiar. (Máximo Moura/Assembleia)

Colega de Assembleia Legislativa do Ceará, o deputado Audic Mota (PSB) concorda com Araújo. "Em outros municípios o PSD é o canto da sereia, oferecendo o que tem e o que não tem", analisa. "Muitos deputados da base estão insatisfeitos com isso. Tem atacado PSB, PCdoB, MDB e até o PDT."

Questionado se essas articulações de Domingos podem resultar em fissuras no arco do governador, Audic disse que sim. "O momento nem merece uma ação desse tipo (avanço sobre espaço de aliados). Não tem muito segredo. O desgaste está a olhos nus", falou.

Domingos Filho considera que seus movimentos e os de sua legenda são naturais e parte do jogo pré-eleitoral. "A primeira conversa que tive quando assumi a presidência do PSD foi com Camilo, Cid e Roberto Cláudio (PDT). Foram conversas francas", lembra. "Estou organizando o partido, tudo devidamente combinado com a base."

O pessedista defende que demais siglas têm agido assim. "O PDT está fazendo a mesma coisa, o PT está fazendo a mesma coisa, o PL também", enumera. "O partido que não fizer isso vai ficar sem deputados."

Sobre as críticas de Audic, o ex-vice-governador brinca: "O deputado Audic ficou abalado com a derrota de dois por um lá em Tauá para a Patrícia (em 2018). Ela tirou 14 mil votos e ele, 7 mil. Isso já sinaliza como será a eleição municipal do ano que vem".

Domingos provoca: "A política é como o amor, a gente só faz com quem quer. Ninguém vai segurar ninguém na marra. As pessoas vão buscar os caminhos que mais tenham afeição, expectativa de organização e de benquerença".

Em relação a Leonardo Araújo, acusou o partido de Eunício. "O MDB fez do que jeito que quis, sem respeitar ninguém, em cima de todo mundo", disse. "Tenho amigos que estão indispostos no MDB e querem vir pro nosso partido. Vamos dizer que não?".

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