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Formato da curva detransmissão no Brasil se assemelha a de países europeus
Reportagem

Formato da curva detransmissão no Brasil se assemelha a de países europeus

Subnotificação de casos e demora nos resultados dos exames preocupa especialistas
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Fila grande em agencia bancaria na Avenida Bezerra de Meneses. Movimentação na cidade em época de COVID-19. ( (Foto: Aurelio Alves/O POVO)
Foto: Aurelio Alves/O POVO Fila grande em agencia bancaria na Avenida Bezerra de Meneses. Movimentação na cidade em época de COVID-19. (

A velocidade da transmissão do novo coronavírus, perceptível por meio da inclinação da curva de confirmações da pandemia, ocorre em escala exponencial em muitos países. Desde a confirmação dos primeiros casos, organizações da saúde se voltam para a questão: a evolução será acelerada ou freada? Conforme especialistas, o formato da curva de disseminação da Covid-19 na população brasileira se assemelha com a de alguns países europeus. A evolução da infecção é reflexo das medidas de isolamento tomadas ou não no início da transmissão. Algo que preocupa é a falta de dados aproximados da realidade, visto que há subnotificação de casos e demora nos resultados dos exames.

A relevância da tão falada curva de transmissão se justifica pelo impacto que a grande quantidade de pacientes infectados representa ao sistema de saúde. Quanto mais "achatada" for a curva, mais lenta será a disseminação da infecção. Com isso, o número de pessoas que serão acometidas com a doença será "diluído" em um período de tempo maior e, dessa forma, a "pressão" sobre o sistema será menor. Isso garante tempo para que governos ampliem a capacidade de atendimento.

Conforme Daniel Villela, coordenador do Programa de Computação Científica (Procc) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a nível de comparação, o comportamento do vírus no Brasil a partir da marca de 100 casos tá dentro da faixa dos países europeus. "A curva de evolução da doença do Brasil comparado a de países europeus está próxima. Mas alguns países já começaram a entrar no processo estabilização. Aqui foram implantadas certas medidas que, certamente, ajudam. Visto que o crescimento poderia estar sendo pior", explica.

Segundo o pesquisador, que estuda modelagem matemática de doenças transmissíveis, a curva de transmissão do Brasil foge ao padrão de países asiáticos, como China, Cingapura, Coréia do Sul, que "fizeram testagem muito forte e mecanismos restritos de isolamento".

Vítor Sudbrack, do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (Unesp), concorda que o início da disseminação no Brasil ocorreu na mesma velocidade de transmissão de países europeus. "O número de casos confirmados dobrava de dois a três dias. Mas o Brasil conseguiu aumentar o tempo de duplicação do número de casos mais cedo do que a Itália e a Espanha, por exemplo. A gente está freando", diz.

Ele considera, contudo, que não é possível separar o que é um aumento do tempo de duplicação, ou seja, controle da pandemia, do que é explicado pela "falta de teste, atrasos de resultados e subnotificação". No caso dos Estados Unidos, que lidera o número absoluto de confirmações, a testagem intensa começou tardiamente, visto que o país não possui sistema público de saúde. "As pessoas não sabiam que estavam doentes. Quando começaram a testar, já havia um aceleramento muito forte", detalha.

O número de confirmações no Brasil, cerca de um mês e meio após o primeiro caso confirmado, está dobrando a cada quatro ou cinco dias. "Mas a nossa quarentena é singela e recente. Então não teria porque ter surtido efeito ainda. A gente não tem dados sobre a cobertura de testagem", pondera Vitor. Ele frisa ainda a diferença entre diminuir a intensidade em virtude das medidas de mitigação e passar do pico da pandemia, quando a maioria da população não está mais suscetível à infecção.

 

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