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Cloroquina vira "arma política" e acirra embate entre Bolsonaro e Doria
Reportagem

Cloroquina vira "arma política" e acirra embate entre Bolsonaro e Doria

Mesmo sem eficácia comprovada contra a Covid-19, o medicamento já é usado pelo presidente como forma de disputa política e de ataque a adversários como o governador de São Paulo
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EM NOVO pronunciamento em rede nacional, o 5º desde o início da pandemia, Bolsonaro voltou a adotar tom mais brando e a defender o uso da cloroquina (Foto: Carolina Antunes/Presidência da República)
Foto: Carolina Antunes/Presidência da República EM NOVO pronunciamento em rede nacional, o 5º desde o início da pandemia, Bolsonaro voltou a adotar tom mais brando e a defender o uso da cloroquina

Ainda que sem confirmação de eficácia no combate à Covid-19, a hidroxicloroquina já virou arma política no Brasil. Durante todo o dia de ontem, Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), protagonizaram novo round da disputa pela "paternidade" do uso do medicamento, com o presidente citando o remédio inclusive em pronunciamento à nação.

"Há mais de 40 dias eu tô falando dessa possibilidade", disse Bolsonaro, na tarde de ontem, em entrevista à Rede Bandeirantes. Horas depois, no pronunciamento oficial, ele "cumprimentou" o médico Roberto Kalil Filho, diretor do Hospital Sírio-Libanês, por ter admitido uso do medicamento em si mesmo e em pacientes "desde sua fase inicial".

"Essa decisão pode entrar na história como tendo salvo milhares de vidas no Brasil", disse. O elogio de Bolsonaro tem ares de ataque indireto a João Doria. Nos últimos dias, circularam imagens de uma receita indicando que o infectologista David Uip, coordenador do combate à Covid-19 em São Paulo, teria utilizado do medicamento em seu tratamento da doença.

Diagnosticado com o novo coronavírus em 23 de março, Uip vem sendo desde então cobrado por pessoas ligadas a Bolsonaro a esclarecer se usou a hidroxicloroquina, que acusam o médico de esconder o uso por "questões políticas". Na manhã de ontem, em entrevista à rádio Gaúcha, Uip confirmou a veracidade da receita, mas não confirmou ter usado o remédio.

Doria rebateu os ataques "da milícia virtual" na tarde de ontem, afirmando que quem indicou primeiro o uso da cloroquina na crise foi o próprio Uip, em comunicado ao ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde). "Presidente, quando o senhor precisou salvar sua vida, o senhor veio ao hospital Albert Einstein e foi atendido pelos mesmos médicos da equipe do doutor David Uip".

A declaração acabou sendo rebatida por Mandetta em coletiva do Ministério da Saúde. "Esse medicamento não tem paternidade, um governador não precisa querer politizar esse assunto (...) ele (Bolsonaro) defende, como todos nós defendemos, que se há chance melhor para esse ou aquele paciente, que a gente possa garantir o medicamento", afirmou Mandetta.

A declaração do governador tucano também gerou grande repercussão entre aliados do presidente nas redes sociais. No Twitter, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) chegou a chamar Doria de "canalha". "Canalha! Mil vezes canalha! O senhor não tem o mínimo senso de escrúpulo! Não tem vergonha na cara, governador?", disse o filho do presidente.

Na tarde de ontem, Jair Bolsonaro também revelou que deverá ser divulgado, nos próximos dias, estudo sobre a eficácia do medicamento. "Me parece que talvez amanhã ou depois, o Einstein dê uma parcial das pessoas que estão sendo tratadas lá pela cloroquina". O hospital confirmou andamento da pesquisa, mas disse que ela ainda está no estágio de recrutamento de pacientes não tem previsão de conclusão.

Defensor praticamente isolado do fim de medidas de isolamento social, o presidente tem feito da defesa da cloroquina uma forma de disputa política e ataque a adversários. A defesa do medicamento ocorre desde vídeo divulgado pelo presidente em 21 de março, seguindo falas semelhantes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o mesmo tema.

 

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