No mundo dos negócios, há o entendimento de que toda crise econômica oferece oportunidades. No Brasil que enfrenta a pandemia do novo coronavírus, o mercado de trabalho precisou se reorganizar e, desde então, passa por intensa transformação. Nesse contexto, o home office saiu de necessidade para solução. Pressionadas financeiramente pela crise gerada pela Covid-19, empresas e governos optaram pelo modelo para reduzir custos e estão percebendo que ele veio para ficar.
O Governo Federal, por exemplo, economizou cerca de R$ 691 milhões com custeio administrativo durante a pandemia, de abril a julho deste ano, segundo dados do Ministério da Economia. Somente com diárias, passagens e despesas com locomoção, foram R$ 375,1 milhões a menos, em relação a igual período de 2019. Com serviço de energia elétrica, a redução foi de R$ 211,4 milhões.
Nas empresas não é diferente. O home office, também chamado de trabalho remoto ou teletrabalho, proporcionou redução de despesas entre empregadores e empregados, combinado à melhora na produtividade do trabalho na maioria dos casos, tanto quantitativa quanto qualitativamente. O retorno vem sendo tão satisfatório que já existem negócios de diversos setores repensando seus modelos de trabalho e diminuindo a procura por salas comerciais.
De acordo com a diretora do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Ceará (Creci-CE), Silvana Mourão, a pandemia está refletindo diretamente no mercado de aluguel de imóveis. "Em determinadas atividades, o home office é mais produtivo e menos oneroso. O espaço para locação de alguns segmentos ficaram mais reduzidos a partir da pandemia. A demanda por salas comerciais caiu de forma muito acentuada", observa.
A "revolução" que o home office causará no pós-pandemia deverá fazer até com que as cidades, principalmente as grandes metrópoles, sejam repensadas no mundo todo. Mauro Rochlin, doutor em Economia e professor dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirma que esse modelo de trabalho não é um modismo, mas uma tendência que será cada vez mais presente no dia a dia das empresas, pois está aliada à sofisticação das tecnologias de comunicação. Isso tende a ganhar mais força com a chegada da internet de quinta geração (5G) ao Brasil.
"É uma mudança de perspectivas no mercado de trabalho nacional. Vamos deixar de encarar partes dos centros urbanos como áreas de negócios, e vai haver um espalhamento da densidade populacional nas grandes cidades. Teremos impacto sobre moradia, urbanização e desdobramentos no mercado imobiliário", analisa.
Um estudo da FGV aponta que, neste primeiro momento, pelo menos 30% das empresas brasileiras tendem a manter o home office, mesmo após a reabertura das atividades econômicas. A CEO da MCM Brand Group, Mônica Schimenes, observa que as empresas precisam acompanhar os novos hábitos de consumo, ainda mais nesse contexto de rápidas transformações, para continuarem no mercado e tomarem decisões certas no dia a dia do negócio.
"As tendências sempre existirão, às vezes levam décadas para se estabelecerem, pois os comportamentos de consumo mudam o tempo todo. É praticamente um estudo antropológico e sociológico", destaca.
Para o assessor da presidência do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho do Ceará (IDT-CE), Antenor Tenório, o desenvolvimento do home office no Brasil é mais uma fase das evoluções pelas quais o mundo do trabalho vem passando nos últimos anos, em razão da digitalização dos negócios.
Quando à inovação tecnológica, reflete, a pandemia fez as mudanças avançarem cinco anos em cinco meses. Empresas e profissionais com esse foco ou em desenvolvimento para isso vão seguir firmes nesse novo mercado. Do contrário, correm o risco de fechar ou ficar desempregados.
"É uma mudança sem volta. As interações são remotas, por videoconferência, otimizando recursos e diminuindo o custeio. Alguns setores já perceberam que a empresa não precisa ser tão grande em espaço físico", acrescenta.