Desde o primeiro toque na bola dado na partida entre Flamengo e Bangu, pelo Campeonato Carioca, em 20 de junho — retorno então já apontado como excessivamente precoce — que o futebol brasileiro vem sendo retomado aos poucos em meio à pandemia do novo coronavírus, maior crise sanitária desta geração. Como experimento, competições estaduais e regionais voltaram a ser disputadas em meados de julho e, em agosto, foi dado início ao principal certame de clubes do Brasil, a Série A do Campeonato Brasileiro.
O tema "torcida no estádio" passou a ser discutido nos bastidores antes mesmo de a bola rolar para o Brasileirão, em 8 de agosto. Com todo o prejuízo causado pela paralisação do futebol por quase quatro meses, não contar com bilheteria seria uma perda e tanto para os clubes. Em nome do reinício das competições, entretanto, os clubes cederam e aceitaram abrir mão de seus torcedores e realizar jogos sob rígidos protocolos sanitários, perdendo-se, assim, o clima característico dos estádios nacionais.
A ideia de ter de novo o torcedor na arquibancada, no entanto, esteve sempre presente e pode se tornar realidade já em outubro, com quantidade reduzida de pessoas. O POVO apurou que nos bastidores existe desejo muito forte e até projeções de clubes e federações para que o torcedor possa voltar a frequentar os estádios em breve, ocupando porcentagens pré-determinadas de cada setor e respeitando as orientações de distanciamento entre pessoas.
O presidente da Federação Cearense de Futebol (FCF), Mauro Carmélio, não nega que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) está atenta à possibilidade de presença de público nos jogos há algum tempo, mas ressalta que a prerrogativa pertence aos governos estaduais, a quem competem as autorizações de reaberturas ou fechamentos de estabelecimentos e atividades econômicas. Nesse ponto, dificilmente haveria uma unicidade no país quanto a liberação de torcedores, dado o contexto de cada unidade da Federação em relação à pandemia.
Carmélio acredita, no entanto, que o retorno do público aos estádios não deve acontecer de maneira uniforme. Para o presidente da FCF, com quatro ou cinco cidades liberadas (especialmente aquelas que abrigam mais de um time, como São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, por exemplo), já seria possível um aval da mentora do futebol nacional para um liberação em quantidades limitadas. Há preocupação, entretanto, para que uma retomada nesses moldes não cause desequilíbrio na competição, o que causaria ainda insegurança jurídica ao certame.