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O diálogo e a luta pela saúde pública
Reportagem

O diálogo e a luta pela saúde pública

Desde o início da pandemia, grupo de médicos e médicas atua na defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) e no combate à desinformação
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MÉDICOS Roberto da Justa, Liduína Rocha e Urico Gadelha são alguns dos membros do Coletivo Rebento (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE MÉDICOS Roberto da Justa, Liduína Rocha e Urico Gadelha são alguns dos membros do Coletivo Rebento

Já no primeiro trimestre de 2020, a pandemia do novo coronavírus trouxe inúmeros desafios para o sistema de saúde brasileiro e os profissionais que atuam na área. Não demorou para que o problema sobrecarregasse o Sistema Único de Saúde (SUS), lotando os leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e as unidades de saúde básica em Fortaleza.

Foi com objetivo de promover o debate de ideias em prol do fortalecimento e ampliação do acesso à saúde pública que surgiu o Coletivo Rebento - Médicos em Defesa da Ética, da Ciência e do SUS. Criado durante a pandemia, o grupo reúne hoje 130 médicos da mais variadas especialidades.

De acordo com a obstetra e uma das fundadoras do Coletivo, Liduína Rocha, a ideia da rede de profissionais de saúde surgiu após a divulgação de uma série de fake news envolvendo as mortes pela Covid-19 e a atuação de médicos diante da pandemia.

"A gente começou a se organizar e nosso primeiro ato foi provocar o Conselho Regional de Medicina e a própria Assembleia Legislativa”, lembra.

O grupo ganhou grande destaque após a realização de uma série de atos públicos em Fortaleza. Em agosto, o Rebento se reuniu no Poço da Draga para ato após o Brasil alcançar as 100 mil mortes por coronavírus.

Logo depois, o coletivo esteve no Festival Concreto ofertando serviços gratuitos voltados para a saúde da população do Residencial José Euclides Ferreira Gomes, localizado no bairro Jangurussu. O coletivo também promoveu conteúdo nas redes sociais, inclusive nas eleições municipais em Fortaleza com orientações sanitárias para a hora do voto.

Segundo o infectologista integrante do coletivo e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Roberto da Justa, o grupo teve a “ousadia de se contrapor à hegemonia".

“Tivemos a coragem de colocar o contraponto, dizendo que a pandemia é real e causa vítimas. O Rebento foi muito importante na defesa do SUS, fundamental na resposta à pandemia salvando vidas, mas com sua competência e eficiência sendo questionadas.

O médico acrescenta que a proposta do grupo de se contrapor ao negacionismo recai agora na defesa das campanhas de vacinação, questionados por setores do Governo Federal. “O que a gente vê são as principais lideranças negando a importância das vacinas e ridicularizando a de outros países. O Rebento tem feito essa denúncia e vai continuar fazendo”, diz o infectologista.

Foi para participar de um movimento que fosse “o furo da bolha”, que o psiquiatra Urico Gadelha retornou para a militância médica.

“A gente precisava furar uma bolha hegemônica de uma fala única, lesiva à saúde pública, à ética. Antidemocrática e autoritária. O Rebento, partindo como um movimento de médicos, vinda na contramão do corporativismo estreito, é um movimento de médicos que vai se encontrar com a sociedade”, afirma o decano do grupo.

Pertencente da mesma geração que vivenciou o Movimento da Reforma Sanitária e a inclusão do SUS na Constituição Brasileira, o servidor público aposentado, apesar de não participar ativamente das agendas de rua por ser grupo de risco, aponta que sua participação nas ações do Rebento auxiliam no combate a uma "política nefasta”.

“Eu não poderia me colocar expulso da realidade, do mundo e nem renegar essa luta”, conclui Gadelha.

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