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Solidariedade que veio antes do Natal
Reportagem

Solidariedade que veio antes do Natal

As histórias de pessoas que criaram redes de solidariedade em um ano que, mais do que nunca, foi necessário partilhar
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FORTALEZA, CE, BRASIL, 14.12.2020: ESPECIAL DE NATAL. Valéria Pinheiro (oculos) /  Jamieson Simões /  Natália Escóssia (Cabelo Rosa) / Lídia Raiely Borboleta (Turbante). Especial de Natal. Entrevista com integrantes do Projeto Ser Ponte, que tem foco na transferência solidária de renda para mulheres chefes de família em áreas precarizadas de Fortaleza. Em época de COVID-19. (Foto: Aurelio Alves/O POVO). (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves FORTALEZA, CE, BRASIL, 14.12.2020: ESPECIAL DE NATAL. Valéria Pinheiro (oculos) / Jamieson Simões / Natália Escóssia (Cabelo Rosa) / Lídia Raiely Borboleta (Turbante). Especial de Natal. Entrevista com integrantes do Projeto Ser Ponte, que tem foco na transferência solidária de renda para mulheres chefes de família em áreas precarizadas de Fortaleza. Em época de COVID-19. (Foto: Aurelio Alves/O POVO).

Se há um verbo que consegue definir de que trata o Natal, esse verbo é partilhar. Seja na celebração à mesa de casa, rodeado pelos seus, seja nas ruas ofertando ajuda a quem precisa, há no âmago do Natal a partilha. 2020, este ano que vai findando, no entanto, escancarou necessidades e mostrou que é preciso tornar verdade aquela máxima de fazer o Natal durar o ano todo. A pandemia de Covid-19 ceifou existências, adoeceu milhões, tirou temporariamente ou não a convivência de entes. E fez mais: aprofundou desigualdades, reforçou vulnerabilidades… abriu outras pandemias em meio ao vírus.

Diante da vida de lonjuras, houve quem foi capaz de estar presente, houve quem criou formas de partilhar, houve quem fez o Natal começar mais cedo. Gente que juntou as próprias habilidades a de outros, desbravou territórios, uniu a vontade de compartilhar com a necessidade de muitos.Gente que se travestiu de solidariedade onde as mãos das políticas públicas não conseguem alcançar, que separou tempo e dedicação para ser elo em muitas frentes.

Gente que, à luz da ciência, combateu o obscurantismo do negacionismo. Um levante em defesa de um Sistema Único de Saúde (SUS) fortalecido - única possibilidade de se opor às mortes que a Covid-19 impôs. Assim se estruturou o Coletivo Rebento, com 130 médicos que reúnem informação e defesa científica e ética quando um mar de fake news se instalava sobre a pandemia. Um ajuntamento que não perde a importância, com a horda antivacina ganhando força.

Como as mulheres que nos bairros periféricos de Fortaleza ampliaram a atuação do Instituto Esporte Mais. As atividades esportivas se adaptaram às novas possibilidades e passaram a ser virtuais, mas não só. Foi preciso mobilização para atacar outro ponto: a da segurança alimentar. Assim, agregaram apoios para distribuir cestas básicas para 1.336 famílias, além de bolas de futebol para que crianças e adolescentes continuassem a prática esportiva.

Sem possibilidade de trabalho, isoladas em casa, ou nas ruas, porque a miséria é antiga presença antes mesmo do novo coronavírus, era preciso combater uma outra pandemia: a da fome. Assim, a Auê do Amor chegou a distribuir 9 mil refeições semanais no auge do isolamento social. A parceria foi criando laços que se estendem até hoje e busca fortalecer projetos perenes de cidadania, como o Pensando Bem e o SOS Periferia.

A forma tradicional de escoar a produção nas feiras livres foi prejudicada e era preciso inovar para garantir o sustento de famílias que têm na agricultura a principal e por vezes única fonte de renda. Lideradas por mulheres e auxiliadas pelo Sebrae, encontraram um jeito de levar o que era produzido, Do Chão do Maciço à mesa de casas cada vez mais longe. Ganharam em não parar de produzir e nem perder o que já havia sido feito, mas ganharam também em fortalecimento de uma cultura sustentável e familiar, alinhada com o cuidado do meio ambiente.

O coletivo que buscou Ser Ponte e intuiu que era preciso chegar junto, amparar e construir caminhos para a autonomia, prioritariamente, de famílias lideradas por mulheres com crianças ou idosos e que não recebessem ajuda governamental. Uma organização que começou com 75 famílias e hoje atende 210.

Com o lar transformado, em muitos casos, em cárceres para mulheres vítimas de violência doméstica, outras mulheres se uniram em busca de soluções que não carecessem de deslocamentos e conseguissem levar proteção. Assim surgiu em março o projeto Justiceiras - que atende denúncias por meio de Whatsapp e busca saídas às violências cotidianas que se tornaram ainda mais frequentes na pandemia.

Esses foram alguns exemplos de gente capaz de sentir a dor do outro e ser doação sem estar preso a amarras de calendário, e sim guiadas pelo desejo de fazer o bem - essa força propulsora de que é feito o Natal, que começou antes e que vai se estender e seguir alumiando doravante. Essas histórias e as muitas mãos que se juntaram para escrevê-las e mudar destinos ao longo do ano estão reunidas nas próximas páginas deste especial.

 

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