Entre os dias 13 e 16 de fevereiro deste ano - se fosse um ano normal, é claro, celebraríamos o Carnaval. No entanto, sendo a pandemia de Covid-19 uma realidade e a vacina, apenas uma expectativa, a festa não acontecerá oficialmente, ou seja, não haverá programação organizada pelo poder público e nem autorização para eventos particulares, independentemente do uso de espaços públicos ou privados.
Em alguns polos tradicionais brasileiros, como Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Bahia, não há definição de quando o Carnaval será realizado, sendo a única certeza o fato de que não será em fevereiro. As discussões sobre a possibilidade da festa ser realizada em junho, que ganharam força em meados do ano passado, perderam impulso. A grande maioria dos organizadores públicos e privados da maior festa popular brasileira preferem esperar pela campanha de vacinação ampla.
No Ceará, as prefeituras têm mantido a postura de seguir as recomendações do governo estadual, o qual, por sua vez, toma as decisões sobre o novo coronavírus pautadas pelo Plano de Retomada Responsável das Atividades Econômicas e Comportamentais, baseado em estudos epidemiológicos e relatórios técnicos. Essas informações são compartilhadas com o comitê ampliado, que reúne o Governo do Ceará, Prefeitura de Fortaleza, Tribunal de Justiça, Assembleia Legislativa, Ministério Público Estadual e Federal.
A reunião do Comitê que baterá o martelo sobre a situação ainda não ocorreu e nem tem data para acontecer, mas segundo a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), o momento é preocupante, dado o aumento na ocupação dos leitos de Covid.
A Associação dos Municípios e Prefeitos do Estado do Ceará (Aprece) afirmou que em tempos normais, a entidade já estaria fazendo uma enquete com os gestores municipais para saber quais municípios iriam ou não realizar os festejos, mas que por causa da pandemia, não está sendo feita nenhum tipo de sensibilização junto aos prefeitos e que tudo vai depender dos decretos e da situação da Covid.
A Prefeitura de Aracati, município que arrasta multidões para uma das maiores festas do estado, disse que até o momento, não irá realizar o Carnaval. Mesma resposta de Sobral. Já a Prefeitura de Guaramiranga informou que o adiamento seria para os meses de junho e julho. Beberibe, Paracuru, Cascavel e Caucaia não responderam.
Em entrevista ao O POVO, o cientista Miguel Nicolelis, coordenador do Comitê Científico de Combate ao Coronavírus no Nordeste, criado para reunir informações para orientar e articular as ações dos Estados e Municípios para o combate à pandemia de covid-19, prevê que não haverá Carnaval neste ano.
"Eu não acho que vamos conseguir ter um Carnaval oficial, ou pelo menos não deveria ter. A recomendação seria para o cancelamento de todas as festas públicas, porque não vai dar tempo de ter vacinação em massa, neste ano", destaca. "Infelizmente, imagino que vai ter festas espontâneas, blocos, essas coisas que não são oficiais. É uma temeridade, haja visto que as festas de fim de ano já vão contribuir ainda mais para essas curvas crescentes que estamos vendo nesse momento", conclui.
Carnavais tradicionais já adiados ou cancelados no Brasil em 2021
Rio de Janeiro
A Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (RioTur) informou que não existe uma data para o Carnaval 2021, dando como única certeza o fato de que não será em fevereiro. O prefeito Eduardo Paes (DEM) deve anunciar nos próximos dias o entendimento feito com escolas de samba e blocos carnavalescos.
Belo Horizonte
O Carnaval que tem como forte o desfile de blocos está suspenso na capital mineira. A prefeitura afirmou que seguirá o calendário definido por Salvador e Rio de Janeiro.
Florianópolis
De acordo com a prefeitura, já está decidido que a festa está vetada para 2021, tanto em relação ao evento das agremiações no sambódromo quanto aos blocos de rua.
São Paulo
A prefeitura disse em nota que o Carnaval 2021 não está cancelado, mas condicionado “à imunização da população contra a Covid-19 e, por conta disto, não há uma data definida” e que “já articulou conversas com Salvador sobre a definição de uma data conjunta”. A ideia seria “estender as tratativas para outros centros carnavalescos como as cidades de Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife, para que o Carnaval 2021 possa acontecer em todas as cidades brasileiras na mesma data, mantendo a tradição cultural e sua potência turística”.
Salvador
O Carnaval está suspenso enquanto não existirem condições sanitárias adequadas e não houver a disponibilização de vacina contra a Covid-19.
Recife
Um decreto publicado em 17 de dezembro de 2020 pelo governo de Pernambuco cancelou a atividade em todo o estado.
Sem festa, Fortaleza analisa medidas para compensar setor
Até a metade da primeira década deste século, o Carnaval de Fortaleza era representado pelos maracatus, blocos, afoxés e escolas de samba que desfilam na avenida Domingos Olímpio. Havia também blocos de Pré-Carnaval, como o tradicionalíssimo Periquito da Madame, o Que Merda é Essa? e sua dissidência necessária, O Cheiro. A partir daquela década, o Pré-Carnaval cresceu e se espalhou, impulsionado por edital da Prefeitura. Enquanto o Pré crescia, em 2008, a arquibancada da Domingos Olímpio desabou e dezenas de pessoas ficaram feridas. Show de Ednardo foi cancelado. Paradoxalmente, foi o ponto de virada.
O Carnaval ganhou investimento, ampliou-se sem abandonar a tradição. Blocos de Pré se tornaram agremiações de Carnaval. A festa passou a envolver muita gente, atrair patrocinadores para alguns blocos. Uma economia se organizou. Acabou a versão de que Fortaleza era cidade que não tinha folia. Sentença que voltará a ser verdade neste fevereiro amargo para os foliões.
Na terça-feira passada, o novo secretário da Cultura de Fortaleza, Elpídio Nogueira (PDT), que é médico, descartou Carnaval em fevereiro. "Não tem planos para ocorrer o ciclo carnavalesco no mês que vem, nós estamos no meio da pandemia", disse o vereador licenciado ao jornalista João Gabriel Tréz.
Na véspera, em transmissão ao vivo no Facebook, Elpídio havia falado em abrir o diálogo com as pessoas que fazem o Carnaval para saber como trabalhar no período. Porém, o secretário explicou, isso não significa cogitar Carnaval em fevereiro. A questão para ele seria ter ações para atenuar o impacto econômico para quem trabalha com a folia e ficará sem essa renda. Um segmento — de artistas, músicos — que já tem sido bastante atingido pela pandemia de Covid-19.
"Estamos elaborando com minha equipe medidas que seriam, ou serão, compensatórias para o pessoal que trabalha com o ciclo carnavalesco aqui em Fortaleza", disse Elpídio, sem antecipar que ações seriam essas.
A festa de Carnaval na Capital já havia sido descartada pelo prefeito José Sarto (PDT), irmão de Elpídio, três dias após ser eleito. "Pelo que estou observando agora, não é prudente a gente falar em Carnaval. A vacina ainda não chegou. Está chegando, mas ainda não chegou", ponderou o então prefeito recém-eleito em 4 de dezembro passado.
Até mais reticentes que cidades com maior tradição carnavalesca, e que já traçam seus rumos sem a folia neste fevereiro, Fortaleza segue a tendência que é também de Olinda, Salvador e Rio de Janeiro. No caso da capital cearense, um cancelamento — ou adiamento — que tem a particularidade de ser um local que só recentemente redescobriu o Carnaval em larga escala. (Érico Firmo)