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Menos de 1% das vítimas de assassinato tinha ensino superior; 75% não concluíram ensino médio
Reportagem

Menos de 1% das vítimas de assassinato tinha ensino superior; 75% não concluíram ensino médio

Apenas 26 das 4.039 vítimas de homicídio no Ceará tinham graduação, conforme SSPDS Números evidenciam forte correlação entre acesso à escolaridade e a violência, já mostrada em pesquisas e por especialistas
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2º Prêmio Literário Máquina de Contos teve um escritor cearense como um dos vencedores; foto de apoio (Foto: Aurelio Alves/ O POVO)
Foto: Aurelio Alves/ O POVO 2º Prêmio Literário Máquina de Contos teve um escritor cearense como um dos vencedores; foto de apoio

Das 4.039 vítimas de assassinato no Ceará em 2020, apenas 26 tinham ensino superior completo, conforme dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), obtidos pelo O POVO por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). Os dados do ano passado repetem a tendência de anos anteriores e evidenciam o que pesquisas e especialistas já apontavam: existe no Ceará forte correlação entre acesso à escolaridade e a violência.

Leia também | O retrato dos assassinatos no Ceará em 2020

Conforme os números, 75,8% das vítimas não concluíram o ensino médio. A escolaridade mais comum informada pelos agentes de segurança sobre as vítimas é "Alfabetizado": 1.325 pessoas que foram assassinadas constam assim nos dados da SSPDS. Conforme a SSPDS, as pessoas cadastradas como "alfabetizadas" na plataforma SIP3W (Sistema de Informações Policiais), que é usada no registro das ocorrências, são aquelas que "não possuem a capacidade de escrever um bilhete simples, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)".

Escolaridade de vitimas de crimes violentos letais e intencionais no Ceara
Foto: Escolaridade de vitimas de crimes violentos letais e intencionais no Ceara
Escolaridade de vitimas de crimes violentos letais e intencionais no Ceara

Em seguida, a escolaridade que mais aparece entre as vítimas de homicídio é o ensino fundamental incompleto: 801. Ensino fundamental completo vem em seguida, com 521, mas com marca inferior àqueles em que não foi informado o nível de estudos, que somam 554.

Os números de vítimas de homicídios vão se reduzindo à medida em que a escolaridade cresce, até despencar quando chega ao ensino superior. São apenas 26 mortos com ensino superior completo. Também é baixo o número de vítimas com o ensino superior incompleto: igualmente, 26.

Números semelhantes já haviam sido registrados um ano antes. Em 2019, Em 2019, os apenas alfabetizados também foram maioria entre as vítimas de homicídio: 739 (32,7% do total) dos 2.257 mortos daquele ano. Em seguida, também vieram aqueles com o ensino fundamental incompleto: 472, 20,9% do total. Na soma, de 6.297 mortos no Estado em 2019 e 2020, apenas 37 tinham ensino superior completo.

Entre as evidências da importância da educação no combate à criminalidade citadas pelo delegado Leonardo Barreto e pelo Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA) está o estudo realizado pelo economista Daniel Cerqueira "Nota Técnica Indicadores Multidimensionais de Educação e Homicídios nos Territórios Focalizados pelo Pacto Nacional pela Redução de Homicídios". A conclusão do pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) foi de que para cada 1% a mais de jovens entre 15 e 17 anos nas escolas, há uma diminuição de 2% na taxa de assassinatos nos municípios.

A pesquisa, apresentada em 2016, analisou a relação entre o número de homicídios e a qualidade das escolas de 81 municípios brasileiros. Entre as conclusões da pesquisa, está que o envolvimento com crimes não é uma constante. "Existe um ciclo que começa por volta dos 12 ou 13 anos e vai até os 30. Se a pessoa não se envolveu até essa idade, dificilmente se envolverá". Por isso, a qualidade da educação nessa faixa etária é fundamental. "Se o grupo de colegas dentro da escola é melhor do que aquele que o jovem tem fora, nas ruas, o comportamento dele tende a melhorar, o que acaba afastando-o das atividades criminais", declarou o economista ao divulgar a pesquisa.

 

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