Logo O POVO+
Pesquisador alerta para casos de insubordinação entre militares
Reportagem

Pesquisador alerta para casos de insubordinação entre militares

Risco de tensão política por causa do processo eleitoral ano que vem pode alterar cenário no Ceará
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
POLICIAIS no 18º Batalhão durante movimento de 2020 (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE POLICIAIS no 18º Batalhão durante movimento de 2020

Embora o motim de policiais militares de 2020 tenha se encerrado sem que a pauta da categoria fosse atendida pelo Governo do Ceará, o risco de insubordinação de PMs e tensão nos quartéis é uma possibilidade real.

Sociólogo, pesquisador da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e colunista de Segurança do O POVO, Ricardo Moura afirma que as “condições para que um novo motim possa ocorrer não estão totalmente postas”.

Mas pondera: “O ano que vem promete ser um ano com riscos de casos de insubordinação e uma tensão política muito grande. Não teremos um governador se reelegendo, mas um novo governador para o Estado”.

 

É essa “movimentação das forças políticas e a tensão com cenários possíveis”, continua Moura, que “certamente vai incidir em maior ou menor grau sobre a tropa. A gente tem pessoas ligadas aos PMs que vão concorrer a diversos cargos”.

Num histórico recente, as paralisações de militares antecederam processos eleitorais. Foi assim entre 2011 e 2012, que acabaria projetando Capitão Wagner como liderança da categoria no pleito seguinte, tornando-o campeão de votos.

O episódio se repetiu em 2020, também ano de eleições municipais, quando os policiais mais uma vez cerraram fileiras e cruzaram os braços.

 

“Neste momento, não vejo isso como uma grande probabilidade (motim), mas ano que vem é ano eleitoral, que marca fim de ciclo político no Ceará, e certamente essa mudança vai repercutir na corporação”, reitera Moura.

Cientista político e professor, Emanuel Freitas avalia que, mesmo com a derrota da paralisação de PMs ano passado, nomes ligados à segurança pública no Ceará acabaram por se fortalecer. “Para mim, quais são as consequências locais? O fortalecimento de Wagner e de candidatos mais ligados à segurança pública no pleito de 2020”, responde.

Alguns fatores justificam essa avaliação, defende Freitas. Entre eles, a “surpresa com a pouca diferença de votos entre Sarto e Wagner, um fortalecimento para além da segurança, a reeleição de Reginauro como vereador e de outros nomes ligados a Wagner, a colocação da pauta da segurança não mais a partir dos direitos humanos, mas com discurso mais armamentista”. 

O pesquisador entende que, apesar da derrota desses grupos no processo eleitoral de 2020, “esses atores ganharam mais visibilidade” e também “uma maior apresentação disso sem inibição”.

O papel dos Ferreira Gomes

Cid Gomes foi baleado em Sobral um dia após o motim ser deflagrado
Foto: Reprodução
Cid Gomes foi baleado em Sobral um dia após o motim ser deflagrado

Outro ponto levantado por Freitas diz respeito ao papel que os Ferreira Gomes tiveram nesse processo e como isso se refletiu na disputa pela Prefeitura.

Um dia depois de deflagrado o motim, o senador e ex-governador do Estado Cid Gomes (PDT) foi baleado em Sobral ao avançar com um trator sobre grupo de PMs que haviam dominado um quartel.

“Houve um fortalecimento do sentimento anti-Ferreira Gomes. Quando Cid entra no episódio do trator, transforma num enfrentamento dos FG contra as forças policiais. Aquilo teve como uma das consequências um fortalecimento dessa oposição no Estado, foi um símbolo da oposição a esse grupo”, postula o estudioso.

Ao fim das eleições, o candidato cidista, José Sarto (PDT), terminaria com 51,69% dos votos, ante 48,31% de Capitão Wagner. Uma diferença de apenas 3,38 pontos percentuais.

O que você achou desse conteúdo?