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Tanta: "Isolamento rígido funcionou, e muito, em Fortaleza"
Reportagem

Tanta: "Isolamento rígido funcionou, e muito, em Fortaleza"

Para infectologista, críticos "não sabem do que falam"
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O médico Antônio Silva Lima Neto (Foto: Tatiana Fortes (em 28/06/2016))
Foto: Tatiana Fortes (em 28/06/2016) O médico Antônio Silva Lima Neto

Médico epidemiologista, professor universitário e membro do comitê científico que auxilia governadores do Consórcio Nordeste, Antônio Silva Lima Neto - o Tanta - é um dos maiores especialistas em combate ao coronavírus do Ceará.

Em entrevista ao O POVO, ele reforçou que medidas de isolamento adotadas no Ceará, como lockdowns, são duras, mas se mantêm "urgentes" para evitar descontrole da doença.

O POVO: Medidas de isolamento rígido funcionam?

Tanta: É só olhar os números. A primeira de isolamento foi em março, e a primeira mais rígida (lockdown) veio em 20 de maio, quando estávamos com uma propagação importante da doença, sistema de saúde em semicolapso, fator RT, que é o fator de reprodução da doença, de 2. Ou seja, cada cem pessoas infectadas produziam 200 casos. E o lockdown funcionou extremamente bem. Foram três, quase quatro semanas, e derrubou o fator RT para 0,85, passou de uma epidemia totalmente descontrolada e de crescimento exponencial, para algo controlado. Alguém querer discutir isso hoje, quando temos aí 500 pessoas sem leito, é que eu não consigo compreender. Ou você diminui a transmissão comunitária, porque o aumento de leitos já está no limite, ou as pessoas vão morrer na rua.

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O POVO: Mas há deputados que dizem que elas não deram certo...

Tanta: Como não deram certo? Essas medidas deram certo, e muito. Derrubaram o fator de reprodução, controlaram a média móvel, deixaram o sistema de saúde com condições de atender a população. Quem fala isso não entende nada de epidemiologia. Eu me solidarizo com as pessoas que estão sofrendo com o isolamento rígido, acho até que o colchão social deveria ser maior, que o auxílio emergencial fosse maior, mas não posso achar que é normal deixar tudo acontecendo para as pessoas se contaminarem. São medidas extremas, ninguém diz que são boas. Nem o governador, nem o comitê, nem nada. Só se decreta porque é necessário.

O POVO: Por que elas seguem polêmicas?

Tanta: A questão que se apresenta hoje transcende a ciência, ela é política também. A gente chegou a um momento que, mesmo depois de um ano e com três mil mortos por dia e déficit de vacinas, ainda temos discurso negacionista do presidente, um novo ministro que parece só um títere dessa política. Isso é muito grave. Se você é contra ou a favor do lockdown, as pessoas vão continuar morrendo na rua. Se temos transmissão crescente, elas vão morrer na rua. Nesse momento, ou você diminui essa transmissão, ou vai ter uma tragédia humanitária diária. Isso é muito grave, quando você tem um presidente que promove até aglomerações em meio a uma doença que se transmite pelo ar. Era o caso até de se avaliar uma resposta política, seja uma CPI, ou impeachment, para salvar vidas.

 

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