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Entrada no mercado de trabalho em plena pandemia é desafio para jovens
Reportagem

Entrada no mercado de trabalho em plena pandemia é desafio para jovens

Profissionais com faixa etária entre 18 e 24 anos foram os mais impactados pela crise sanitária, segundo dados do Ipea
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Daniel Paiva Lopes passou cerca de um ano e meio buscando emprego, desde que concluiu o ensino médio (Foto: JARBAS OLIVEIRA.(85) 99988.6898)
Foto: JARBAS OLIVEIRA.(85) 99988.6898 Daniel Paiva Lopes passou cerca de um ano e meio buscando emprego, desde que concluiu o ensino médio

A dura realidade do desemprego ainda faz parte da vida da família de Daniel Paiva Lopes, de 22 anos. Ele vive com parentes em uma casa no bairro Cristo Redentor em Fortaleza. Todos ficaram sem trabalhar em, pelo menos, algum momento desde a eclosão da pandemia de Covid-19 e o pai perdeu o emprego no início de 2021.

O próprio Daniel passou cerca de um ano e meio buscando emprego desde que concluiu o ensino médio. O jovem engrossava, até sete meses atrás, as estatísticas que apontam uma taxa de desocupação, entre os profissionais com idade entre 18 e 24 anos, mais de duas vezes superior à média geral da população economicamente ativa.

De acordo com a última ‘Carta de Conjuntura’ publicada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no quarto trimestre de 2020, 29,8% dos trabalhadores nessa faixa etária estavam sem emprego. No mesmo período, essa taxa foi de 14,1% quando considerado o conjunto total de pessoas que integram o mercado de trabalho.

Esse também foi o grupo populacional que mais viu crescer os índices de desemprego em relação ao ano anterior, quando a desocupação entre os jovens era de 23,8%. Isso representa um aumento de seis pontos percentuais em apenas 12 meses, o maior entre as faixas etárias pesquisada no levantamento feito pelo Ipea. Tal período corresponde, em linhas gerais, à primeira onda da pandemia no País.  

Embora tenha sido a força de trabalho mais impactada pela pandemia, os jovens já eram historicamente aqueles com maior dificuldade para arranjar um emprego ou mantê-lo. De acordo com o coordenador do Laboratório de Estudos do Trabalho e Qualificação Profissional (Labor) da Universidade Federal do Ceará, Eneas Arrais Neto, entre as principais explicações para esse fenômeno, além da menor qualificação em relação a trabalhadores com mais idade, está o próprio fato de esse tipo de profissional estar apenas no início de sua caminhada no mercado de trabalho.

“Os empregadores costumam valorizar certos tipos de saberes e práticas que o profissional só adquire com o tempo, geralmente depois de passar pelo primeiro ou segundo emprego. Por outro lado, o jovem leva vantagem sobre o trabalhador idoso com relação às condições físicas. Nesse sentido, a faixa intermediária, entre 30 e 50 anos, acaba sendo favorecida pelo mercado de trabalho por, teoricamente, conciliar a parte física com a intelectual”, analisa o pesquisador, que é também professor do Instituto Federal do Ceará (IFCE).



Para Arrais Neto, contudo, há um excesso de foco na questão da qualificação profissional do jovem e faltam políticas públicas para reduzir as taxas de desocupação nessa faixa etária. “A resposta para essa questão é mais social, política e econômica que uma questão individual do profissional de 18 a 24 anos. Imaginemos que todos esses jovens pudessem ser qualificados em alto nível! Isso não geraria um posto de trabalho sequer!”

Apesar disso, o pesquisador admite que uma política de qualificação, desde que focada no aumento do acesso ao ensino superior, pode ter impacto, no médio prazo, para a redução da taxa de desocupação juvenil. “No Brasil, cerca de 15% da população tem ensino superior. Em países vizinhos, esse percentual chega a 30%. Então, quanto maior for essa taxa, mais a pressão sobre o mercado de trabalho cai. Hoje, se o jovem de 18 anos já está buscando emprego é porque sai do ensino médio sem perspectiva de fazer uma faculdade”, pondera.

De todo modo, para os jovens que estão em busca do primeiro emprego, a gerente de recursos humanos da Flow Desenvolvimento Integral, Socorro Viana, aconselha que programas como o Jovem Aprendiz e estágios, de um modo geral, são boas portas de entrada no mercado de trabalho. Por outro lado, para aqueles que já estavam trabalhando e ficaram desempregados durante a pandemia ela afirma que é importante não desanimar.

“Com a pandemia, surgiram muitas oportunidades de cursos online e gratuitos, com alto valor agregado, alguns dos quais em condições normais exigiriam um alto investimento. Então, é importantíssimo não desanimar, aproveitar essas oportunidades. Mesmo à distância em muitos desses cursos você pode interagir por meio de chat e é quando o jovem pode não só tirar dúvidas, mas também ir formando o seu networking”, orienta.

E foi aproveitando as raras oportunidades que surgem para um jovem de periferia que o Daniel, citado no início dessa reportagem conseguiu trabalho no setor de estoque de uma grande rede recém-instalada no Ceará, o Hard Rock Café.

Ele o irmão caçula, de 20 anos, hoje respondem por grande parte da renda familiar. “Meu grande sonho agora é ser efetivado para poder estudar e um dia passar em um concurso público”, conclui o jovem.

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