A turbulência política que promete agitar a economia no próximo ano, especialmente por conta das eleições, não deve causar mais do que um tumulto nas grandes empresas cearenses, segundo avaliam analistas. Mesmo sujeitas às movimentações do mercado a partir das ações do Executivo - como se observou nos dias após o 7 de setembro deste ano -, os negócios com sede no Ceará gozam de um ambiente de negócio menos agitado e que desperta otimismo em setores estratégicos, como infraestrutura, energias renováveis e alguns outros.
A menos de quatro meses de 2022, esses players começam a construir os planejamentos estratégicos e trazem para o primeiro plano das análises os cenários projetados para o ano seguinte, com as eleições na esteira.
Para Raul dos Santos Neto, vice-presidente do Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças no Ceará, há um motivo de o empresariado cearense estar mais confiante: "nosso estado é pouco endividado, tem as contas em ordem e mesmo os entes que não dependem do governo enxergam isso como um ambiente propício para gerar negócio."
Esse ambiente, segundo ele, ameniza os efeitos da "antecipação da disputa pela presidência". Raul compara as empresas de contratos com o Governo Estadual, que classifica como mais confiantes, com as contratadas pelo Governo Federal, que diz serem mais céticas sobre 2022, e alerta: "todo ano de eleição é um ano de volatilidade, câmbio e inflação pressionando e se cria um ambiente hostil."
"É a coerência. Ainda há muita desigualdade, muita pobreza, mas, desde o governo Tasso (Jereissati, entre 1987 e 1990), o Porto do Pecém foi idealizado. E todos os governos depois dele vem investindo lá, independente do partido", observa.
Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), compartilha da interpretação de Santos e aponta mais um fator favorável: o desempenho da economia estadual, que "vem sempre crescendo acima da média nacional e, quando cai, sempre cai abaixo da média brasileira".
"A situação fiscal do Estado ao longo de 3 décadas se consolidou, com atração de investimentos, formação de capacidade de investimento do setor público, como o hub aéreo, marítimo, tecnológico e a atração de novos negócios. Isso vem se materializando na solidez das empresas. Nos últimos 24 e 36 meses, por exemplo, tivemos um número significativo de cearenses que foram à bolsa de valores."
A realização do IPO, segundo ressalta, só é levada adiante pelas empresas quando se há um ambiente de negócios favorável. Ao citar a entrada na B3 da Brisanet e o processo de fusão do Hapvida com a Notre Dame, ele afirma que "isso mostra o quanto a economia cearense está se fortalecendo."
No entanto, ambos são categóricos ao recordar que o Ceará está dentro do Brasil, e comportamentos avessos à estabilidade podem comprometer o desempenho local. Os últimos foram as ameaças à democracia feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nos dias ao redor do 7 de setembro, quando bolsa e dólar reagiram negativamente.
Para Coimbra, a polarização entre Bolsonaro e Lula tem levado o presidente ao extremo e os recuos demonstram que ele foi alertado do quanto o comportamento prejudica a economia e esvazia o governo de apoios.
"A gente começa a observar no mercado que houve uma reversão das leituras. O mercado, hoje, já começa a dar indicação de que é interessante um Lula 3 do que um Bolsonaro 2. Lula se aproxima do que acontece com os Estados Unidos, redimensionando políticas ambientais e econômicas. Isso pode ajudar para as pautas reais da nossa economia, debater situação fiscal, reformas, mecanismo de controle da inflação e geração de emprego", avalia.
Lauro Chaves Neto, professor da Universidade Estadual do Ceará e conselheiro de economia, alerta que as empresas precisam aumentar o rigor no planejamento estratégico em cenários cujos riscos são maiores.
"A pandemia de Covid-19 aumentou muito a incerteza. No Brasil, temos ainda um ambiente político muito acirrado de debates extremos e isso compromete a economia. Quanto mais incertezas existem, mais importante elaborar a técnica de cenários e revisá-los com mais frequência", aconselha, acrescentando que, "muitas vezes, é justificável ter revisão semestral e até trimestral do cenário para adequar as decisões às mudanças".
No planejamento, ele indica separar as variáveis gerais - PIB, inflação e taxa básica de juros- das específicas - com estudos de concorrentes, fornecedores e mercado consumidor.
"Um cenário aleatório não funciona para todas empresas", alerta sobre a necessidade de dados importantes para embasar tomadas de decisão.