Prestes a completar 20 anos de fundação em março, o Complexo Industrial e Portuário do Pecém é um gigante com área de 19 mil hectares que tem sido um motor para a economia cearense a partir das empresas instaladas em seu espaço produtivo. Pecém é responsável por boa parte do comércio exterior cearense e parcela importante do Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará. Mas quem vê esse gigante e o enxerga como um oásis a 60 quilômetros de Fortaleza, isolado em sua grandeza, se engana. De acordo com cálculo desenvolvido pela Associação das Empresas do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Aecipp), o potencial de demanda em compras é de R$ 4 bilhões por ano.
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Por conta dessa grandiosa demanda, as possibilidades de criação de negócios no Complexo do Pecém vão além das grandes empresas exportadoras e pequenos empreendedores locais estão se beneficiando das oportunidades. Atualmente já são 33 empresas instaladas, que geram mais de 79,2 mil empregos diretos e indiretos, segundo a Aecipp.
Somente a maior empresa do Complexo do Pecém, a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) comprou R$ 1,3 bilhão em 2021. Desde que foi constituída, em 2008, a CSP já demandou produtos e serviços de 264 pequenas empresas cearenses. Até 2023, a siderúrgica buscará cumprir a meta de comprar exclusivamente de fornecedores de São Gonçalo do Amarante e Caucaia os produtos e serviços de nove categorias: alimentação; material de escritório; material de informática; uniformes; barra/perfil/cantoneira; lavagem de veículos; material de construção; gráfica/reprografia e madeira.
O gerente geral de Relações Institucionais e Comunicação da CSP, Ricardo Parente, destaca o Complexo do Pecém como a joia da coroa da economia cearense e que desde que foi instalado gera empregos para milhares de pessoas, incluindo também a comunidade local nesse desenvolvimento. E a CSP está incluída nesse esforço propondo um diálogo social, com investimentos da ordem de R$ 40 milhões em ações sociais e mais de R$ 1 bilhão nas estruturas e planos de responsabilidade ambiental.
"O social é investir no diálogo, ser agente de transformação dessa região". enfatiza o executivo, lembrando ainda que até as cestas básicas doadas pela CSP na pandemia foram montadas com produtos oriundos de fornecedores locais, de distribuidoras de alimentos próximas do Complexo. Ao todo, cerca de 23 mil pessoas já foram beneficiadas pelo conjunto de ações sociais desenvolvidas.
E para que mais pequenas empresas cearenses se tornem fornecedoras de grandes empresas do Complexo, a CSP está fazendo o 3º ciclo do Programa Território Empreendedor, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Por meio do programa, essas pequenas empresas da região de São Gonçalo do Amarante e Caucaia receberam 100 horas de workshops online e consultorias individuais.
Um dos empreendedores beneficiados em uma das fases foi Ítalo Nayferson, 32. Hoje microempresário legalizado, é dono do lava-jato "Garagem 421", e há cerca de um ano foi credenciado a ser fornecedor da siderúrgica. Ele conta que iniciou o negócio após ser dispensado da empresa que trabalhava no Complexo, mas, ao abrir o negócio mantinha o desejo de prestar serviços, mas não sabia como abrir uma empresa.
"Depois que me legalizei as portas foram se abrindo e os programas abriram a minha e de diversos outros empreendedores daqui da região. Essa região é bem fértil de oportunidades a partir das capacitações que conseguimos", diz Ítalo, que além da CSP, atende outras seis empresas da Aecipp e gerando emprego formal para dois funcionários - e, quando a demanda aperta, o número de trabalhadores pode chegar a seis, acrescenta.
Outra parceria que as empresas mantém é com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) Campus Avançado do Pecém, em que a Aecipp contribui com uma consultoria para a criação e adequação dos cursos ofertados no campus de acordo com as demandas atuais e futuras das empresas associadas, bem como com o Sine/IDT Pecém, para facilitar o acesso da população local às oportunidades de trabalho no Complexo através do Projeto Aproximar.
A diretora de Relações Institucionais do Complexo do Pecém, Rebeca Oliveira, destaca que a atuação industrial e portuária impacta duas cidades, São Gonçalo do Amarante e Caucaia, e, desde o início tem procurado estar próximos das gestões municipais e comunidades para gerar desenvolvimento econômico e social.
A executiva ainda destaca que o crescimento do Complexo está muito pautado na sustentabilidade, que também passa pela comunidade. "Assim, não temos dúvidas dos benefícios que o Complexo trouxe para a região. A geração de empregos diretos e indiretos é o principal. Mas também estamos preocupados em aperfeiçoar a mão-de-obra local. Por isso, ofertamos diversos tipos de cursos para a comunidade da região. Especificamente para as comunidades do Cumbuco, Pecém e Taíba".
Alci Porto: Trabalho em parceria beneficia toda cadeia econômica
O POVO - Como tem se desenvolvido essa relação entre o Sebrae e as empresas do Complexo do Pecém?
Alci Porto - O Sebrae e as empresas do complexo estão, há alguns anos, estabelecendo parcerias para o desenvolvimento dos pequenos negócios estabelecidos na região e que são influenciados pela dinâmica econômica do complexo industrial do Pecém. Iniciativas de estímulo ao empreendedorismo e desenvolvimento dos negócios locais, buscam animar a população a desenvolver atividades empreendedoras e aproveitar as oportunidades que a instalação das empresas do Complexo Industrial e Portuário do Pecém- CIPP, geram para a região. Essas iniciativas propiciam um ambiente favorável à criação e formalização de novos negócios, além tornar as empresas mais competitivas para que possam fornecer seus produtos e serviços para grandes empresas instaladas na região.
OP - Como o Sebrae tem trabalhado de forma a desenvolver uma cadeia de fornecedores de produtos e serviços no entorno do Complexo? Quantas formações empreendedoras já foram feitas e quantos empreendedores formalizados?
Alci - O Sebrae vem estabelecendo parcerias com as grandes empresas da região, a partir da formação e e capacitação de lideranças dos municípios influenciados pelo CIPP, com realizando ações de capacitação e consultoria com empreendedores locais, além de estabelecer iniciativas com o poder público, no caso os municípios, para tornar o ambiente de negócios mais favorável à criação de novos negócios. Em parceria com a Companhia Siderúrgica do Pecém - CSP, o Sebrae vem desenvolvendo um programa de Encadeamento Produtivo, que já está capacitando as empresas do entorno da CSP para que elas possam fornecer produtos e serviços para as grandes empresas do Complexo, gerando mais empregos e renda no próprio território. Atualmente 90 empresas dos municípios de Caucaia e São Gonçalo do Amarante, com potencial para fornecer para grandes empresas, foram identificadas e selecionadas para participar do programa.
OP - Existem prospecções para novos projetos nesse sentido?
Alci - Sim, a intenção é que o Sebrae continue o relacionamento com os empreendedores locais, estabelecendo, de forma continuada, capacitações e consultorias que possam fortalecer a gestão das empresas e estabelecer diferenciais competitivos para atender as demandas das empresas estabelecidas no complexo industrial.
OP - De que forma o Sebrae analisa essa iniciativa das grandes empresas do Complexo de demandar os empreendedores locais e movimentar a economia cearense?
Alci - É uma estratégia em que todas as partes são beneficiadas. As grandes empresas são beneficiadas por reduzir seus custos de aquisição e melhorar a logística para receber produtos e serviços de seus fornecedores, já que o fornecedor local está mais próximo. Já as empresas da região ficam mais competitivas e estabelecem um novo mercado para vender seus produtos e serviços. Já o município, se fortalece por receber mais contribuição, possuir uma economia mais dinâmica, com maior capacidade de gerar empregos e renda para a
sua população.
Qualificação com foco na demanda
O diálogo próximo entre as empresas do Complexo do Pecém e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) Campus Avançado do Pecém tem rendido frutos positivos. Segundo a diretora do IFCE Pecém, Lívia Costa, a procura pelos cursos é grande e, nos cursos técnicos e de curta duração voltados às demandas do Complexo, o aproveitamento das turmas é de quase 100%.
Formações como para operador de termelétrica, operador eletromecânico, soldagem, inglês e informática, além da oferta regular (curso de dois anos) em automação industrial, eletromecânica e segurança do trabalho são grandes destaques. A última, por exemplo, terá a primeira turma formada em março, e existe a expectativa de boa absorção dos formandos nas empresas.
"No geral, podemos dizer que a maioria dos estágios formais, supervisionados, são para o Complexo. Alguns se empregam na região de Fortaleza, mas a grande maioria fica nas empresas do Complexo a partir dos estágios e contratações", afirma Lívia. E a perspectiva é que mais cursos sejam postos em oferta. O boom que o hidrogênio verde já produz é observado pelo IFCE.
"Estamos preparando um projeto de especialização para nível Superior e, depois que concluir, trabalharei também no nível Técnico", completa.
Esse potencial de crescimento já tem reverberado em dados concretos. De acordo com dados do IBGE do PIB dos Municípios, São Gonçalo do Amarante participava de 0,26% do PIB do Ceará em 2002. Em 2019, o percentual chegou a 2,3%. E, fazendo um recorte da proporção do PIB por habitante, o município é o mais rico do Ceará e ocupa a posição 133 do País, com PIB per capita de R$ 77.639.
Já o município de Caucaia, que tem em seu território as empresas da ZPE, comemora a implantação de 500 mil metros quadrados de construção de indústrias e empresas de logística nacional e internacional no período do último ano e se projeta como uma referência mundial em logística para os próximos anos com potencial de ser um dos municípios que mais gera vagas de emprego no País, destaca o prefeito de Caucaia, Vitor Valim (Pros).
A ideia, segundo Valim, é aproveitar o acordo com o Governo do Estado que liberou cerca de 1 milhão de metros quadrados dentro do Complexo do Pecém para instalar um parque industrial municipal. "Servirá exatamente para instalação de pequenas e médias empresas para que possam aproveitar as sinergias de negócios geradas pelas grandes indústrias e assim fortalecer as pequenas empresas locais", diz.
Empresas com compromisso social devem contribuir na missão de diminuir desigualdades
Para quem observa o trabalho desenvolvido desde o início no Complexo do Pecém a análise é parecida e está em torno da afirmativa: "o Ceará deu um salto muito forte" e que nos próximos anos o desenvolvimento do projeto "está fadado ao sucesso". Essas foram as afirmações de dois experientes analistas consultados pelo O POVO, Wilton Daher, conselheiro do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef) e do economista e consultor empresarial Alcântara Macêdo.
Presidente do Centro Industrial do Ceará (CIC) na época da inauguração do Porto do Pecém, Macêdo lembra que o pensamento de longo prazo na estrutura é um diferencial que mudou o panorama do Estado, até então pouco industrializado e que sofria com mais de 80% de seu território no semiárido.
Para Alcântara, o desafio agora é ser assertivo na missão de distribuir renda no Estado a partir do trabalho que está sendo desenvolvido. "O Complexo do Pecém foi montado com imaginário estratégico. Hoje vemos um projeto de desenvolvimento importante e, daqui para frente, devemos ver o compromisso social, diminuindo as nossas diferenças que estão muito grandes".
"Precisamos inserir mais da metade da população do Ceará nessa festa. Na medida em que aumenta a distribuição de renda para a população, aumenta também a demanda de maneira geral", observa.
Wilton lembra que na época da inauguração do Porto do Pecém desempenhava funções em conselhos de administração de empresas do setor de energia. E acompanhou no mercado o desenvolvimento das ações de impacto social das empresas. Ele destaca que as grandes empresas do Complexo do Pecém seguem a mesma lógica de compliance que prevê que as ações sejam profundas e gerem impacto de longo prazo, fugindo do simplismo ou da mera filantropia.
Citando o exemplo de Camaçari, quando implantou o polo industrial em torno da refinaria, Wilton diz que visitou o espaço em 1985, quando "era só mato". Hoje tem mais de 400 mil habitantes vivendo no entorno. No Pecém, projeta algo parecido.
"Os projetos sofisticados, como o do hidrogênio verde, devem trazer muitas pessoas de fora da região, com vivência e experiência para contribuir demais com esse ambiente", continua. E o desenvolvimento social na região deve ser potencializado, espera Wilton.
"Os investidores internacionais são muito afinados com o desenvolvimento social que as empresas propõem. Todas elas tem fundamentos de responsabilidade social muito aguçados, estabelecendo relações de mão dupla, acordos e metas sem enganação. Balanço social das empresas é uma coisa real, vai além do modismo e das boas intenções", completa.
IMPACTO POSITIVO
Geração de negócios com empreendedores do entorno do Complexo do Pecém
Potencial de compras por ano: R$ 4 bilhões
Empresas instaladas: 33
CSP compras realizadas em 2021: R$ 1,3 bilhão
CSP compras realizadas no entorno do Pecém desde o início da operação: R$ 4 bilhões
CSP quantidade empresas cearenses que já forneceram produtos e serviços: 264 empresas
CSP E AS AÇÕES SOCIAIS
R$ 40 milhões: Somente a CSP já investiu esse montante no apoio e desenvolvimento de projetos sociais, culturais e de incentivo ao empreendedorismo nas comunidades do entorno do Complexo do Pecém.
23 mil pessoas: O conjunto de ações já beneficiou aproximadamente 23 mil pessoas e culminou na criação do Conselho Comunitario do Complexo Industrial e Portuário do Pecém.
38 micro e pequenas empresas: O 3º ciclo do Programa Território Empreendedor está beneficiando 38 micros e pequenos empreendedores da região próxima ao Complexo do Pecém com capacitação para que se tornem aptos a ser fornecedores de produtos e serviços para as grandes empresas instaladas no Ceará. O investimento foi de R$ 1,1 milhão e é desenvolvido em parceria com o Sebrae.
Fonte: AECIPP / CSP
IMPACTO POSITIVO
Geração de negócios com empreendedores do entorno do Complexo do Pecém
Potencial de compras por ano: R$ 4 bilhões
Empresas intaladas: 33
CSP compras realizadas em 2021: R$ 1,3 bilhão
CSP compras realizadas no entorno do Pecém desde o início da operação: R$ 4 bilhões
CSP quantidade empresas cearenses que já forneceram produtos e serviços: 264 empresas
CSP E AS AÇÕES SOCIAIS
R$ 40 milhões: Somente a CSP já investiu esse montante no apoio e desenvolvimento de projetos sociais, culturais e de incentivo ao empreendedorismo nas comunidades do entorno do Complexo do Pecém.
23 mil pessoas: O conjunto de ações já beneficiou aproximadamente 23 mil pessoas e culminou na criação do Conselho Comunitario do Complexo Industrial e Portuário do Pecém.
38 micro e pequenas empresas: O 3º ciclo do Programa Território Empreendedor está beneficiando 38 micros e pequenos empreendedores da região próxima ao Complexo do Pecém com capacitação para que se tornem aptos a ser fornecedores de produtos e serviços para as grandes empresas instaladas no Ceará. O investimento foi de R$ 1,1 milhão e é desenvolvido em parceria com o Sebrae.
Fonte: AECIPP / CSP