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Saúde mental do trabalhador é tabu e atinge mais os 20 a 34 anos no Ceará
Reportagem

Saúde mental do trabalhador é tabu e atinge mais os 20 a 34 anos no Ceará

Ceará tem números irrisórios de registros de trabalhadores com transtornos mentais. Vergonha e falta de tato para lidar com problema são apontados como motivos para se esconder situação
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FORTALEZA, CEARÁ, 13-01-2023: Saúde mental dos trabalhadores (Foto: Thais Mesquita/ O Povo) (Foto: THAÍS MESQUITA)
Foto: THAÍS MESQUITA FORTALEZA, CEARÁ, 13-01-2023: Saúde mental dos trabalhadores (Foto: Thais Mesquita/ O Povo)

O mês de janeiro, para a maioria das pessoas, tem a função de programar metas, cuidados e recomeços. Há 10 anos, aproveitando essa abertura de repensar hábitos, foi criada a Campanha Janeiro Branco, iniciativa social criada no Brasil, com o intuito de debater a importância da Saúde Mental nas relações humanas.

Neste sentido, e buscando falar na saúde mental, é justo que se lembre que a maioria das pessoas passa o maior tempo da sua vida no trabalho e que a saúde mental também perpassa por este cenário.

O relatório sobre saúde mental e trabalho, de setembro de 2022, da OMS (Organização Mundial da Saúde) e da OIT (Organização Internacional do Trabalho) traz o número alarmante de 15% dos trabalhadores adultos vivendo com algum transtorno.

O mesmo documento estima que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido à depressão e à ansiedade que custam à economia global quase um trilhão de dólares.

No Ceará, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan Net) do Ministério da Saúde, nos últimos 5 anos, 292 trabalhadores foram acometidos com algum transtorno mental.

Destes, o maior número é relativo a “transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o ‘stress’ e transtornos somatoformes”, que apresentam 117 casos, seguidos pelos 80 casos de “transtornos de humor”, que aparecem em segundo na lista.

Em 2022, foram registrados 45 casos de trabalhadores acometidos de algum transtorno mental. A faixa etária mais atingida no Estado é de 20 a 34 anos, com cerca de 50% dos casos, seguida pela faixa etária dos 35 a 49, apresentando em torno de 35%.

O número de registros do Estado, em comparação com os dados apresentados mundialmente pela OMS e OIT, é apontado como irrisório ou inexistente pelo auditor Fiscal do Ministério do Trabalho no Ceará, Daniel Arêa Leão Barreto. Ele afirma que as doenças mentais estão em último lugar no ranking de recebimentos de denúncias do órgão de fiscalização.

Barreto também pondera que são vários os motivos para este baixo número de relatos, como o não reconhecimento do adoecimento, tanto do empregado como do empregador. “Quando há reconhecimento pelo empregado pode haver resistência em denunciar por vergonha de expor sua condição.”

O auditor também destaca que o empregador dificulta a notificação aos órgãos de saúde ou de fiscalização, também por essas crenças de ser fraqueza do empregado. “Além disso, o trabalhador tem medo de perder o emprego, em razão da doença ser ainda avaliada pelos olhos de maior parte da sociedade como falta de vontade.”

Segundo Adriana Schneider, CEO da Humanare, especialista em desenvolvimento humano e organizacional e colunista do O POVO, o trabalhador vem apresentando níveis elevados de ansiedade, depressão, fobias sociais, entre outros transtornos emocionais com graus variados de angústia.

Como principais causas ela aponta o alto e prolongado nível de estresse gerado por fatores como a supervalorização da produtividade, competitividade, perfeccionismo e o medo do fracasso e humilhação.

“Ambientes de trabalho saudáveis são os que possuem espaço para o diálogo, expressão do que se pensa e sente, rotinas estruturadas, senso de propósito compartilhado e realização.”

Adriana também destaca que lideranças humanizadas, “que mesmo diante dos novos desafios laborais advindos do trabalho híbrido e remoto, são capazes de criar conexão com seus colaboradores”, são imprescindíveis para se manter um ambiente de trabalho saudável.

“Além disso, estratégias corporativas de metas compartilhadas e avaliações que vão além do desempenho, que considerem os valores e os comportamentos desejáveis também são válidos.”

Quando questionada sobre como o empregador deve agir ao identificar algum sintoma no trabalhador, a especialista em desenvolvimento humano recomenda que se trate o assunto com discrição.

“Reduzir a carga de trabalho, incentivar o autocuidado para a saúde física, emocional e mental, além de oferecer espaços (físicos e virtuais) para descompressão, rodas de conversa sobre saúde mental, campanhas de incentivo às atividades físicas, apoio psicológico, também são exemplos de se lidar com o assunto”, pondera. 

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Sintomas que alertam para doença mental relacionada ao seu trabalho

Depressão

Ansiedade

Desânimo

Irritabilidade

Pessimismo

Sentimentos de sobrecarga e incapacidade

Redução de concentração

Redução de Criatividade

Queda de desempenho

Problemas nas relações interpessoais

Baixa tolerância à frustração

Desinteresse

Isolamento

Atitudes que ajudam a manter a saúde mental da equipe

  • Combater pressões desnecessárias e assédios
  • Incentivar a colaboração e socialização
  • Respeitar horários de trabalho e descanso
  • Ter pessoas para ouvir e ajudar funcionários em situações difíceis (profissionais ou pessoais)

Fonte: Unimed.coop.br

Dicas de como organizar o dia a dia no trabalho para se manter saudável

Liste as tarefas e estabeleça prioridades

Delegue mais: não centralize as responsabilidades

Conheça seus limites: aprenda a dizer "não" para evitar sobrecarga

Não extrapole seus limites por períodos frequentes ou prolongados

Se fizer uma jornada mais longa, compense dormindo e comendo bem

Exercícios de respiração para se acalmar: inspire pelo nariz dilatando os músculos do abdômen. Expire contraindo os músculos

Fonte: Unimed.coop.br

Dicas de ouro para a carreira e para a vida:

  • Cuide da sua alimentação, de forma saudável e nutritiva
  • Pratique exercícios três vezes por semana
  • Diversifique interesses – tenha passatempos
  • Consulte seu médico, perante sinais ou sintomas de perturbação emocional

Fonte: Unimed.coop.br

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