As condições atuais do Ceará no mercado de hidrogênio verde (H2V) fazem do Estado um ambiente apto para superar os marcos temporais estabelecidos pelo Plano de Trabalho Trienal do Programa Nacional de Hidrogênio (PNH2) em três anos, segundo projeta Adão Linhares, secretário Executivo de Energia e Telecomunicações da Secretaria da Infraestrutura do Ceará (Seinfra-CE).
Publicado no fim de agosto pelo Ministério de Minas e Energia (MME), o documento estabelece metas para as iniciativas locais, colocando 2025 para disseminação de plantas pilotos no País, 2030 para tornar o Brasil o produtor mais competitivo e 2035 para a consolidação dos hubs de produção.
Linhares, que participou de todas as discussões da elaboração das diretrizes no Conselho Nacional de Política Energética como representante dos Estados Distrito Federal, diz que o Ceará já apresenta planta piloto em operação - e até comercialização em baixa escala do H2V gerado -, figura em estudos de competitividade como uma área de menor custo de produção e, por fim, já tem um hub com processo de licenciamento ambiental em curso.
“Isso quer dizer que nós temos uma uma configuração que faz com que o hidrogênio daqui seja extremamente viável e competitivo a nível mundial. O Plano Nacional de Hidrogênio tem que ser colocado não com uma régua para nivelar o Brasil todo em uma situação média. Mas, sim, aproveitar os diferenciais e as características de cada coluna de produção”, observa.
Fabiola Carvalho, pesquisadora do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), atuou diretamente na formulação do Plano e reforça o dito por Linhares ampliando o pioneirismo em hidrogênio para todo o Nordeste.
"O plano trata de H2 de baixo carbono, incluindo o H2V, e, nesse sentido, o Nordeste apresenta um enorme potencial em função da suas características diferenciadas para geração de energia renovável, que é imprescindível para produção. E sendo uma das metas tornar esse preço competitivo, estamos muito à frente nesse aspecto", ressalta.
Ela aponta as iniciativas de Ceará, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte como as mais aptas a encabeçar o atendimento à demanda por hidrogênio, especialmente, pelas condições logísticas para atender os mercados local e internacional.
O documento, que considera todas as trilhas de produção, projeta um aumento no investimento em pesquisa para o setor do hidrogênio no País, saindo de R$ 29 milhões (2020) para R$ 200 milhões (2025). A projeção é de que o Brasil possa produzir 1,8 gigatonelada de hidrogênio por ano a partir de US$ 30 bilhões em projetos, contabilizados hoje.
No Ceará, como observa Constantino Frate, coordenador do Núcleo de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), a projeção é de que a soma dos investimentos no hub do Pecém cheguem a US$ 30 milhões já em 2030.
“Vamos colocar um Ceará certamente na dianteira desse processo e acelerar isso ajudará sem dúvida nenhuma a acelerar esse ambiente, inclusive do país”, ressalta Frate, afirmando que a articulação entre governo, academia e setor produtivo na promoção desse ambiente.
Luiz Carlos Queiroz, presidente do Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Estado do Ceará (Sindienergia/CE), ressalta que toda cadeia produtiva confia nessa liderança projetada para o Ceará a partir dessa articulação citada por Frate.
Ele diz que “investimentos foram feitos em mais de 20 anos que garantiram esse protagonismo nas energias renováveis” e aponta o hidrogênio verde como um passo a mais, que assegura mais desenvolvimento ao Estado. “No que diz respeito ao Estado do Ceará, a gente vê como realidade essas plantas piloto. Então realmente essa realidade de hidrogênio, ela já é fato”, arremata.