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Adão Linhares Muniz: A prática de quem olha o futuro da energia
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Adão Linhares Muniz: A prática de quem olha o futuro da energia

|Desenvolvimento| A história profissional do engenheiro mecânico é diretamente relacionada ao desenvolvimento da geração de energias renováveis no Ceará. Aqui, ele relembra os marcos e projeta o futuro apontando para as eólicas offshore e o hidrogênio verde
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FORTALEZA, CE, BRASIL, 17.06.2021: Paginas Azuis - Economia - Seinfra - Adão Linhares (Thais Mesquita/OPOVO) (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita FORTALEZA, CE, BRASIL, 17.06.2021: Paginas Azuis - Economia - Seinfra - Adão Linhares (Thais Mesquita/OPOVO)

Os anos de 1990 representam o início dos estudos de energia renovável no Ceará – com foco na geração eólica –, movimento que culminou numa legislação nacional para o setor e na instalação de parques por todo o Nordeste brasileiro, os quais chegam, atualmente, a deter mais de 40% da matriz energética nacional. O desenvolvimento das energias limpas a partir de definições de regras para operação, atração de investidores e articulação entre empresas conta com a participação decisiva de um cearense de Santa Quitéria.

Adão Linhares Muniz saiu do Ceará para acompanhar a construção da usina nuclear de Angra 2. Passou temporadas na Alemanha trabalhando com energia nuclear e térmicas até conhecer a geração de energia pelos ventos. Com a morte do pai, voltou ao estado onde nasceu justamente quando o assunto era alvo de investidas do governo. Fez contatos, recebeu convites, desenvolveu pesquisas, liderou equipes e associações e passou a ser referência nacional no assunto.

Hoje, ele relembra os feitos, orgulha-se da caminhada e aponta os parques offshore e o hidrogênio verde como alvos da próxima jornada. Uma história que tem como clímax os marcos de transformação do setor de energia no Ceará e que é contada nestas páginas azuis por um dos protagonistas.

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O POVO - As escolhas profissionais do senhor o levaram a momentos importantes do setor energético cearense. Como foi essa trajetória observando as matrizes energéticas brasileiras e, principalmente, quando iniciou com as renováveis?

Adão Linhares - A palavra é trajetória, destino, algo neste sentido mesmo. Eu sou de Santa Quitéria (na região norte do Ceará, a 282,5 km de Fortaleza), mas vim para Fortaleza aos 14 anos para estudar. Eu fiz engenharia mecânica na UFC (Universidade Federal do Ceará) e me formei em 1981. Para ver como a gente não sabe as coisas que estão traçadas, o meu pai deu uma ordem que eu deveria estudar alguma coisa à tarde. Então, eu fui fazer inscrição na Casa de Cultura Britânica. Mas a fila era muito grande, eu fui procurando e achei uma só com quatro pessoas. Era a Casa de Cultura Alemã. Eu me inscrevi e passei os cinco anos da faculdade estudando alemão. Ao término do curso, era uma opção natural ir estudar óleo e gás na Bahia. Eu optei por fazer inscrição no mestrado de Engenharia Nuclear, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sem saber, a prova para o mestrado era concurso para emprego na Nuclebrás Engenharia (posteriormente Eletrobras Eletronuclear), o que foi uma surpresa, porque eu estava contratado em 1982, quando estavam acontecendo demissões em geral no Brasil, um tempo de crise. E voltei a estudar alemão porque a empresa participava do acordo de cooperação Brasil-Alemanha. Fui muito bem aceito, tive a satisfação de trabalhar com engenharia pura. Morei em Angra dos Reis acompanhando a construção da usina nuclear Angra 2 e em Taubaté acompanhando uma fábrica de equipamentos para usinas nucleares quando estava entre 24 e 25 anos.

Já em 1987, fui pela primeira vez para Alemanha, inicialmente, para passar um ano, fiquei os três permitidos para um engenheiro brasileiro. Trabalhei em três usinas nucleares lá. Voltei em 1990 ao Brasil. Em 1994, eu vou mais uma vez para a Alemanha por três anos, mas para trabalhar com termoelétricas com gás natural e vapor. Mas nessa época foi que me interessei e passei a conhecer a fundo a geração eólica. Não na empresa. Já que eu estava na Alemanha, resolvi estudar. Foi aí que eu conheci o início da área de energia renováveis que acontecia na Alemanha e os primeiros projetistas de aerogeradores na universidade de Erlangen-Nuremberg com projetos pequenos ainda, de 100 quilowatts. Na época, eu acompanhava por notícias e o Ceará estava pioneiro nisso, com as primeiras medições de vento feitas pela Coelce (Companhia Energética do Ceará), ainda estatal, com apoio privado do grupo J. Macêdo.

OP - Foi quando decidiu voltar ao Ceará e trabalhar com energias renováveis?

Adão - Não. Em 1997, o pessoal da Alemanha me chamou para passar mais uma temporada de três anos lá. Eu acabei reduzindo para três meses. Em 1998, meu pai fazia 80 anos. Eu fui para Santa Quitéria, tivemos o aniversário dele e ele morreu. Isso foi um marco para mim. Antes de eu voltar ao Rio, o meu primo Paulo Linhares me perguntou se não queria ficar no Ceará, pois ele me apresentaria às pessoas do Governo do Estado. E foi quando eu conheci o Maia Júnior (atual secretário de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho), que era secretário de Transporte, Energia e Comunicação. Eu conversei com ele, que contou a história da Coelce, e eu disse que estava muito bem profissionalmente. Mas foi o ponto de decisão, porque eu percebi que existia a possibilidade de trânsito para profissionais de empresas estatais entre governos. Então, passei essas informações e, para a minha surpresa, recebi uma carta em agosto de 1998 do governador Tasso Jereissati solicitando a minha transferência ao Ministério de Minas e Energia. Era a efervescência aqui. A Coelce tinha acabado de ser privatizada. No processo, praticamente todo o departamento de planejamento estratégico tinha sido demitido e a ideia do Maia era criar um departamento de planejamento estadual. Até falei para eles que isso era atribuição do Governo Federal, estava escrito na constituição, e tive uma resposta clara do governador: “Eu não estou perguntando isso. Eu quero formar aqui um departamento porque o Brasil é muito grande e eu quero fazer o nosso, saber o que o Estado quer em relação à energia”. E nós começamos a fazer o trabalho. E foi muito, muito bom, porque a gente pegou a oportunidade de pegar as coisas exatamente no início.

PIONEIRISMO

OP - E quais os primeiros passos desse pioneirismo cearense?

Adão - A primeira coisa que nós procuramos fazer foi mapear o potencial do Estado do Ceará. Quer dizer, o potencial de geração de energia eólica. Então, juntei as empresas que estavam envolvidas aqui fazendo alguma prospecção e nós conseguimos fazer e produzir o primeiro atlas de um estado brasileiro. Quando eu cheguei no Estado já havia o parque do Mucuripe, que era um convênio entre a Coelce, a Chesf a Docas do Ceará e a Seinfra para um piloto com aerogeradores que foram praticamente doados pela Alemanha, de uma empresa que faliu. Então, não tinha mais referência técnica, tivemos que resolver os problemas aqui mesmo e era muito caro. Mas foi um aprendizado enorme de como é que não se deve fazer eólica no Ceará. Não é igual se faz na Alemanha. Esse foi o primeiro aprendizado que eu tive: não é trazendo um equipamento lá da Europa, do jeito que se faz lá que vai conseguir produzir energia no Brasil. Ou seja, você precisa de uma adequação para as condições locais.

Logo que cheguei também, em 1999, participei da primeira festa de inauguração dos parques de Taíba e Prainha. Os primeiros comerciais, feito em um leilão de compra de energia, ou seja, o Ceará era um top de pioneiro em termo de geração eólica e que não era no Brasil, era na América Latina. Não existia nada, nenhuma movimentação naquela época tentando utilizar o potencial eólico. E o atlas foi em 2000. Muito bem feito, foi uma referência em muito tempo pra todos os estados brasileiros. Além de referência até internacional.

Fizemos duas apresentações no exterior, que lembro bem, na Espanha e na Alemanha que surpreenderam. Fiz a apresentação em alemão e criamos uma relação muito forte. Conseguimos fazer um primeiro evento de energias renováveis aqui no Ceará, trazendo empresas da Alemanha para cá, no antigo Centro de Convenções.

OP - Em 2001 aconteceu a maior crise energética do País em 20 anos, quando tivemos racionamento e apagões. Como o Estado lidou com isso?

Adão - Recebi completa autonomia do Estado para trabalhar em processo de revisão do que a gente estava fazendo sobre o ponto de vista de evitar o racionamento. Fizemos um trabalho conjunto com a Coelce e a Fiec (Federação das Indústrias do Estado do Ceará), levantando todos os geradores diesel parados, acompanhamos todo o processo de contratação de energia emergencial, chamamos os interessados em montar termelétricas aqui urgente e, em seis meses, foi montado uma termelétrica, aquela do Eike Batista. Acompanhei o processo de dificuldade de transferência de energia nas linhas de transmissão da Chesf (Companhia Hidroelétrica do São Francisco), que eram fracas e um dos problemas principais daquela época era exatamente isso. Outra ação foi aquele comitê central de crise que foi conduzido pelo ministro Pedro Parente e eu fazia parte das reuniões semanais em Brasília.

PÓS-CRISE

OP - Como ficaram os trabalhos de desenvolvimento de energias renováveis após a crise?

Adão - As ações do Governo do Estado eram muito objetivas. Vamos utilizar energia renovável. Certo, então, o que vamos fazer? Aí entrou um grande amigo meu, que era da Sefaz (Secretaria da Fazenda), o Alexandre Adolfo, e nós praticamente escrevemos a lei que estabeleceu um programa de incentivo à energia eólica. Naquela época, a gente não estava vendo o Sol como deveria. Então, essas políticas foram bem estabelecidas e bem focadas.

A outra política foi a universalização do acesso à energia elétrica. Então, contamos quantas casas não tinham energia para colocar rede elétrica. Isso foi feito, principalmente, através do projeto São José. Depois, pelo Governo Federal, no projeto Luz no Campo, que foi uma cooperação, com recursos do Governo Federal, da Coelce e do Estado. Mas o projeto São José foi a semente de todo o programa de eletrificação rural do Brasil todo. O Ministério de Minas e Energia se baseava num modelo de Santa Catarina, inicialmente. Quando nós apresentamos o nosso, eles reconheceram imediatamente que era o que precisavam. Quando começamos, para se ter uma ideia, no meio rural do Ceará, de cada 100 residências, só 36 tinham energia. Conseguimos levar energia para as 100. Foi um negócio grandioso. Tivemos ainda o Luz em Casa, que era na área urbana. Isso foi em 2004. Ou seja, eu tive a oportunidade de fazer parte de todos esses processos de evolução desde 1999 até 2007.

E na área de energia eólica foi interessante porque nós começamos a mostrar a viabilidade de energia eólica para o Governo Federal. Nós fomos indutores. Nessa época, eu estava no Ceará, tinha o Jurandir Picanço também e, em Pernambuco, tinha o Everardo Feitosa. Nós fizemos várias reuniões para elaborar um programa de incentivo à energia eólica do Nordeste e discutimos bastante com o ministro Rodolpho Tourinho para formatar um programa de 1.050 megawatts no Nordeste. Quando a gente mostrou como é que faria, ele disse que não podia ser só para eólica, tinha que ser para as outras formas de geração de energia também. Foi aí foi que nasceu o Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica).

OP - Neste período a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) foi criada, correto?

Adão - Isso. Porque havia 11 players brigando entre si porque não haviam regras ou entendimentos a serem seguidos. Foi aí que tive uma permissão para ajudar a criar e ser presidente de uma associação privada, embrionária, de uma indústria de futuro, uma indústria na qual nenhum dos associados ainda tinham receitas vindo de eólicas na época. A gente criou essa célula que veio a ser, hoje, uma das maiores associações de indústria e com uma influência enorme no mercado do setor de energia brasileiro.

OP - E pouco tempo depois surgiu o projeto da primeira usina solar da América Latina, em Tauá?

Adão - Em seguida, teve, através de leilão, a instalação das térmicas a carvão da MPX no Pecém, e, para conseguir o financiamento do Banco Mundial, era preciso fazer contrapartidas ambientais. As contrapartidas foram dois projetos que eu participei diretamente: o projeto Solar de Tauá e um projeto de extração do CO2 da chaminé da termelétrica a carvão e alimentar microalgas, para produzir biodiesel. O projeto de solar deu certo e está funcionando até hoje, com cerca de 12% a 15% acima da eficiência projetada. Nesta época, depois de 2007, eu tinha me licenciado da Eletronuclear e estava com a minha empresa, a Energo, focado em energia renovável e os projetos da MPX foram nossos primeiros. Fizemos, inicialmente, projetos, principalmente de eólicas, no Nordeste. Antes, eu passei um ano na Adece (Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará), quando estava sendo criada, como diretor de infraestrutura. Mas eu preferia só energia e fiquei apenas um ano na Adece.

OP - E quando acabou a licença, quais foram os trabalhos de volta às estatais?

Adão - Quando passaram cinco anos, que é o limite máximo de licença não-remunerada, eu tive que voltar para o Rio, mas queria ficar aqui no Ceará. Foi quando conversei com o Antônio Varejão, que era o Presidente da Chesf, e ele me perguntou se eu queria ficar no atendimento de grandes linhas para energia renovável na região Nordeste. E nesse trabalho, participava de reuniões e decisões relacionadas com projetos de pesquisa e desenvolvimento. Por exemplo, um dos projetos que a gente trabalhou junto lá com a Chesf foi um projeto grande de desenvolvimento de energia a partir de correntes marinhas. Era no Cepel (Centro de Pesquisas em Energia Elétrica) lá no Rio de Janeiro, na Ilha do Fundão, e que estava sendo desenvolvido. Foi na Chesf que eu encerrei minha carreira em estatais ao me aposentar.

EÓLICAS

OP - Nesse tempo, o Ceará saiu com uma postura de estímulo para demonstrar que possui potencial e está disposto a negociar com o investidor. E isso abriu margem para perder a liderança do setor no País...

Adão - É interessante essa percepção. Quando eu saí do Estado em 2007, o Ceará era o pioneiro, dava exemplo aos outros estados do Nordeste. Para se ter uma ideia, nas feiras do setor, a gente via os governadores dos estados montando presença nos estandes, conversando com as empresas, fazendo atrações, copiando o Estado do Ceará, dito até pelo governador Jaques Wagner da Bahia. E aí, o que aconteceu com a eólica? A eólica passou a ser leilão, passou a ter escala, passou a crescer, as empresas que fizeram essa adequação e tropicalização dos seus equipamentos para as características dos ventos brasileiros se deram bem. O que aconteceu? Tinha uns gargalos naturais de infraestrutura, porque o Brasil não estava montado para receber essa quantidade de geração eólica. Um dos gargalos: linha de transmissão. Os linhões foram todos reforçados para evitar um segundo apagão, mas, para eólica, faltava. Então, isso enfraqueceu o Ceará, assim como a perspectiva do governo de achar que todos os investidores já sabem que o vento está aqui, então, não precisa mais fazer nada. Os outros não, Rio Grande do Norte continuou fazendo, Bahia continuou fazendo e foi atraindo mais players.

Veio ainda outro problema: o Estado do Ceará foi o primeiro a produzir mais energia eólica do que ele mesmo precisava e precisava transmitir o excedente da energia. O investidor aplicava o recurso, terminava o parque e não podia escoar a energia. Então, a gente começou a batalhar com o Governo Federal para a expansão da transmissão, levando essa energia excedente que é produzida no Nordeste para o Sudeste. Isso começou na Abeeólica e se consolidou com o meu retorno para a Câmara Setorial de Energia Eólica. Nessa época, o Nordeste era completamente vazio de transmissão. Antes, só instalava linha para entregar energia, e não para buscar. O modelo de transmissão mudou e tivemos participação nessa alteração. Foi o primeiro trabalho que a gente fez no início da Câmara Setorial de Energia. Fizemos reuniões quadrimestrais de planejamento de expansão dessa transmissão, que ainda hoje é assim, e serviu de exemplo para o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) fazer nas outras regiões.

OP - Já na última década, o Ceará refez o atlas, sinalizou o potencial offshore (geração de energia eólica em alto mar) e veio, em seguida, o hub de hidrogênio verde. Ao mesmo tempo, o senhor volta ao governo para a secretaria executiva de Energia da Seinfra e é designado para o Conselho Nacional de Política Energética para a construção do Programa Nacional de Hidrogênio Verde. Como está sendo esse novo momento?

Adão - Volto em 2018 a convite do secretário da Infraestrutura, Lúcio Gomes. Novamente na Câmara de Setorial, acompanhávamos os debates sobre os limites máximos para geração eólica no Nordeste e no Ceará e sobre o que fazer com o excedente de energia que não podia ser transferido para o Sudeste. Tivemos um seminário sobre hidrogênio com a participação muito ativa do Jurandir Picanço, presidente da Câmara, que foi quem disse: “o que tiver de excedente a gente põe para gerar hidrogênio e exporta hidrogênio”. Esse foi o olhar do futuro mesmo. Ele começou a promover uma discussão de como é que a gente poderia criar um ambiente de convencimento como políticas públicas para o Ceará aproveitar essa janela e colocar essa oportunidade de pauta. Foi muito bem recebido. Os gargalos passaram a ser oportunidades. As energias renováveis não são uma indústria só para acender luz na tomada. É desenvolvimento, é geração de emprego e renda.

E a necessidade colocada pela descarbonização, a substituição do gás natural, a substituição dos combustíveis fósseis está se tornando a melhor oportunidade de produção de hidrogênio verde para Europa e Estados Unidos nos próximos dez anos. E nós vamos ter o hidrogênio verde mais barato do mundo, pode ter certeza. A nossa competitividade em energia renovável é muito alta. O nosso custo de energia, a nossa produção de energia por conta das características que você encontra no vento, da logística, do ambiente de produção de geração de energia, são ótimos.

Quando me enviaram para Conselho Nacional de Política Energética, o órgão máximo no Brasil, logo na primeira reunião a pauta era a criação do Plano Nacional de Hidrogênio. A primeira pergunta que fiz foi por que não coloca logo hidrogênio verde? Disseram que seria arco-íris, para ser todas as cores, mas reconheceram o potencial nacional. Na resolução ficou naturalmente hidrogênio, mas nas discussões que estão se desdobrando se está compreendendo que não há outra tecnologia melhor. Porque o Hidrogênio cinza e azul, a partir do gás natural, chegam a ser mais baratos que o verde, mas nos parâmetros europeus. Quando a gente traz para cá, não tem quem bata a geração de hidrogênio verde no Nordeste brasileiro.

Mas o projeto está interessante e devemos ter coisas boas logo, logo, e teremos surpresas como programas para substituição de combustíveis de transportes público, motores, até porque no mesmo dia foi votado e aprovado o Programa Nacional de Combustíveis do Futuro, no qual entra também o hidrogênio.

OP - Então, essa é a próxima jornada de vida na energia?

Adão - Eu sou engenheiro, meu produto é o que está na minha cabeça, é o conhecimento. Como me disse meu avô quando eu era criança. Ele me chamou, eu com um calção cheio de bilas e ele me disse: você estude porque qualquer um pode vir e roubar as suas bilas, mas o que está na sua cabeça, não. Então, eu sempre trabalhei com energia e olhando para o futuro. Agora, na energia offshore, a gente já está estudando muito, desenvolvendo e tentando fazer a melhor solução possível de eólica offshore no Brasil, em especial, no litoral do Nordeste. Então, todos os meus esforços, em termos de pensamento, de conhecimento, tão sendo focados para encontrar, a partir das dificuldades dos projetos no mar do Norte, na Europa, uma solução que traga melhores resultados

Mas a gente está pensando soluções também para o problema da água. É um problema nosso, natural. E a gente não vai pegar água do Castanhão, produzir hidrogênio com água que a gente precisa para beber. Essa é outra questão que vai ter a canalização dessa energia. Então, eu estou olhando, a gente está trabalhando muito, muito forte mesmo. O nosso olhar é produzir energia o mais barato possível, com qualidade para produzir hidrogênio.

Momentos históricos

Na primeira vez que foi para a Alemanha, Adão desembarcou próximo ao dia do discurso do ex-presidente americano Ronald Reagan no Portão de Brandemburgo pedindo ao ex-secretário geral do Partido Comunista da União Soviética, Mikhail Gorbatchov, para derrubar o Muro de Berlim. Na época, tinha uma filha de três anos e o filho nasceu exatamente em dezembro de 1989, dois meses depois da abertura e queda do Muro. A família ainda acompanhou a tensão vinda de Chernobyl, com as orientações de não comprar qualquer salada na feira.

 

Segunda casa

Essa situação de ir e voltar para Alemanha é considerada por ele como "muito bom para a família", e o país "uma segunda casa". A filha é fluente em alemão, estudou no ginásio de Maria Teresa. O filho nasceu lá, foi alfabetizado e a esposa, era pianista. Então, estudou com as melhores professoras de piano da Alemanha.

Angra dos Reis

Adão morou em Angra dos Reis acompanhando a construção da usina nuclear Angra 2 e em Taubaté acompanhando uma fábrica de equipamentos para usinas nucleares quando tinha ainda apenas entre 24 e 25 anos.

 

Momento atual

A Energo, empresa fundada por Adão e que conta com jovens engenheiros desenvolvendo estudos inovadores em energia, é também um reflexo do momento atual dele: olho no futuro e fortes parcerias. A atual esposa, inclusive, conduz a parte administrativo-financeira. "Tenho um filho de 11 anos, o Artur, e eles são meu sustentáculo, agora", destaca.

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