Aumento das secas, enchentes, elevação do nível do mar, ondas de calor, animais em extinção são alguns dos efeitos das mudanças climáticas, cada vez mais sentidas no dia a dia dos seres humanos. Contudo, o setor econômico também pode enfrentar desafios.
Isso porque, segundo o estudo da revista Nature, mesmo com reduções drásticas nas emissões de CO2, o Produto Interno Bruto (PIB) global pode cair 19% até 2050. Além disso, uma pesquisa realizada pelo Banco Mundial aponta que cerca de 800 mil a 3 milhões de pessoas podem ficar em situação de pobreza extrema até 2030 no Brasil por causa das alterações na temperatura média.
Para Fábio Sobral, professor de economia ecológica na Universidade Federal do Ceará (UFC), a preocupação desses dados é enorme porque, pensando no Ceará, já existem mais de 4,7 milhões de pessoas em situação de pobreza, ou seja, vivendo com menos de R$ 644 por mês.
"Essas pessoas mais pobres são geralmente as mais afetadas pelos fenômenos climáticos extremos. Durante as secas, elas tendem a ser impactadas pela fome e, durante as inundações, vivem em áreas de risco e são as mais penalizadas por estarem em locais extremamente vulneráveis, construindo moradias em áreas passíveis de deslizamento."
Assim, os impactos sentidos por esses indivíduos, conforme apontado por Fábio Sobral, são diversos: riscos de vida, aumento do desemprego, escassez e sofrimento hídrico e também a redução na capacidade de consumo.
Já Morgana Almeida, meteorologista no Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), explica que tudo hoje em dia falado em relação às mudanças climáticas é baseado nos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
"No último relatório, o AR6, o IPCC afirma que a influência humana no clima é evidente, especialmente desde a Revolução Industrial. Nunca tivemos emissões de gases de efeito estufa, como CO2, em níveis tão altos, e isso tem impactado o clima globalmente."
Trazendo para o Nordeste, a meteorologista afirma que, quando são comparadas as normais climatológicas, construídas com no mínimo 30 anos de dados, são percebidas alterações significativas.
"Os resultados indicam uma redução nas chuvas e um aumento na temperatura média anual. Especificamente, no Ceará, houve uma redução de 100 a 250 mm de precipitação e um aumento na temperatura máxima anual entre 0,9 e 1,2 graus Celsius, o que resulta em uma maior frequência de eventos climáticos extremos."
Nesse sentido, surgem as preocupações no mercado. Por exemplo, no último Relatório de Estabilidade Financeira do Banco Central, divulgado em abril, as instituições financeiras se mostraram preocupadas com os potenciais efeitos dos riscos climáticos sobre o sistema financeiro nacional (SFN).
"As principais preocupações são os efeitos decorrentes de secas, escassez de recursos naturais e desertificação. Esses eventos causariam danos aos ativos e aos processos produtivos, perdas de renda e aumentos de custos para os tomadores de crédito, com consequente aumento da inadimplência para o SFN", destaca o relatório.
Outro ponto é a pesquisa Allianz Risk Barometer 2024, a qual revelou que as alterações climáticas são consideradas o principal risco à economia no Brasil, ficando na frente de problemas como corrupção e fraudes. No ano anterior, ocupava a 11ª posição.
Ainda de acordo com o levantamento, a agricultura é o setor da economia mais vulnerável às mudanças climáticas, enquanto a indústria pesada e a mídia as colocam como 2º maior risco aos seus negócios.
À vista disso, Fábio Sobral comenta que a elevação da temperatura dificultará a agricultura na medida em que o solo se torna mais árido. "Isso afeta a produção agrícola e, consequentemente, a produção pecuária, representando uma grande ameaça."
Portanto, Morgana Almeida, meteorologista no Inmet, reforça que eventos extremos recentes, como as inundações no Rio Grande do Sul, mostram a falta de preparo para enfrentar tais desafios. "As políticas públicas precisam focar em criar cidades resilientes, com planos diretores e de contingência adequados."
A falta de preparo fica evidente com os dados apresentados no painel "Recursos para gestão de riscos e desastres", mantido pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Ao todo, o Poder Executivo deixou de aplicar 35,5% dos recursos destinados ao programa de Gestão de Riscos e Desastres da Defesa Civil entre 2012 e 2023.
Dos R$ 33,75 bilhões previstos no Orçamento para ações de resposta, recuperação e prevenção, R$ 21,79 bilhões foram efetivamente pagos pela União ou transferidos a estados e municípios — o equivalente a 64,5% do total.
Panorama das mudanças climáticas
Fonte: Allianz Risk Barometer 2024
Verba
O Poder Executivo deixou de aplicar 35,5% dos recursos destinados ao programa de Gestão de Riscos e Desastres da Defesa Civil entre 2012 e 2023, segundo dados do Painel "Recursos para gestão de riscos e desastres"