Maior produtora do Brasil, a indústria de calçados do Ceará foi a segunda que mais recuperou o volume produtivo prévio após a pandemia e está de cara nova. Em uma análise frente a 2019, o Estado cresceu 1,2 ponto percentual (p.p.), atrás apenas de Minas Gerais (1,8 p.p.).
A análise consta no Relatório Indústria de Calçados, divulgado pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), durante a 4ª edição da BF Show, principal feira do setor no País.
Além disso, em relação ao volume total produzido, o Ceará continua sendo destaque e atingiu a casa dos 226 milhões de pares fabricados em 2024. O número é maior do que o registrado em 2023 (224,9 milhões) e corresponde a mais de 24% da produção nacional.
Na avaliação do pesquisador do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste do FGV Ibre, Thiago de Araújo Freitas, o resultado demonstra que o Estado continua forte na indústria, mesmo após a reconfiguração desde o fim de 2023, quando a Paquetá Calçados anunciou sua saída.
A empresa demitiu mais de 3 mil funcionários de suas fábricas em seis cidades: Apuiarés, Irauçuba, Itapajé, Pentecoste, Tururu e Uruburetama. Meses depois, a Arezzo&Co anunciou que assumiria as plantas fabris dos dois últimos municípios citados.
As unidades operam atualmente com cerca de 1.200 colaboradores, mas há planos de novas contratações para otimizar a capacidade instalada em 40%.
“Uma empresa estabelecida há tanto tempo, que tinha vários postos de trabalho, com a saída, houve uma clara redução da capacidade do Estado, ainda que momentânea. Apesar disso, vem aumentando, ampliando a sua participação, especialmente no pós-pandemia”, diz Thiago.
Contudo, explica haver um impacto profundo na economia dos municípios que ainda não tiveram uma recomposição, pois a maioria das cidades são voltados para uma única atividade.
“Quando essa empresa sai, esse município acaba ficando muito prejudicado, até que a economia consiga se recuperar e consiga outra forma de empregar essas pessoas. Isso é um desafio que não só esses municípios têm, como todos os outros, de modo geral, aqui no Ceará.”
Questionada sobre como estão os outros galpões que eram operados pela Paquetá, a Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Ceará (SDE) informou que tem dialogados com algumas empresas para a ocupação.
“Nos municípios de Pentecoste e Itapajé há tratativas, respectivamente, com a WS Nordeste e Dilly Sports para que, além do aproveitamento da mão de obra existente na Paquetá, essas indústrias ampliem a capacidade de geração de emprego nesses municípios.”
Já no caso de Apuiarés, o órgão explicou que o imóvel é de propriedade do município, bem como sua gestão. Em Irauçuba, “o Governo do Estado encontra-se em tratativas com a Prefeitura no sentido de atrair novo investimento para a unidade desocupada pela Paquetá”, diz em nota.
Atualmente, o setor calçadista está predominantemente distribuído em quatro polos produtivos: Sobral (68%), Fortaleza (13,3%), Quixadá (9,8%) e Juazeiro do Norte (8,2%), ordenados por volume de produção.
Nesse sentido, o pesquisador do FGV Ibre revela que estes vários locais são uma vantagem. “Se qualquer interferência econômica acontecer de modo a prejudicar um dos municípios, os outros são capazes também de produzir. Então, tem essa diversidade geográfica na produção de calçados.”
Porém, avalia que um dos potenciais riscos à produção está no fato da mudança de política, com a implementação da reforma tributária. “O Estado sempre buscou trazer empresas para cá à base de incentivo fiscal e, com a reforma, a gente não sabe ainda como esse cenário vai ficar.”
A repórter viajou para São Paulo a convite da BF Show
Setor calçadista
Onde atua: Tauá, Quixeramobim e Caridade
Projeções: Aumentar a capacidade de produção em até 50%
Produção: 10 milhões de itens por ano, entre pares de calçados e bolsas
Onde atua: Urubetama e Tururu
Projeções: Crescer 40% da produtividade industrial em Uruburetama
Produção: 4,5 mil a 5 mil pares por dia
Onde atua: Juazeiro do Norte
Projeções: Meta de expandir entre 10% a 15% em relação à 2024
Produção: 8,5 mil a 12 mil pares por semana,a depender da demanda
Onde atua: Morada Nova e Quixeramobim
Projeções: Ampliar de 20% a 30% neste ano; avaliações de outras marcas para trazer para dentro do portfólio
Produção: 40 mil pares por dia em todas as fábricas
Onde atua: Camocim, Santa Quitéria e Sobral
Projeções: Investimentos na área de logística
Produção: 20 mil pares por dia
Onde atua: Juazeiro do Norte e Crato
Projeções: Aumentar as vendas entre 12% e 22%. Investimento entre R$ 10 mi e R$ 12 mi em nova fábrica, no Crato
Produção: 50 mil pares semanais
Onde atua: Senador Pompeu e Solonópole
Projeções: Negociações com o Governo do Estado para expandir o número de fábricas; ampliar a capacidade em até 30%
Produção: 37 mil pares por dia
Onde atua: Juazeiro do Norte
Projeções: Aumentar na ordem de 25% a 30% e dobrar produção de calçados
Produção: 500 mil pares por mês
Onde atua: Juazeiro do Norte
Projeções: Crescimento de 15% a 20% no segundo semestre
Produção: 10 mil pares por dia