Um dos novos destaques da HBO, a minissérie "The Undoing", dirigida por Susanne Bier, traz Nicole Kidman e Hugh Grant como um casal envolto em mistérios após uma morte violenta. Na minissérie, a britânica Noma Dumezweni - que ficou mundialmente conhecida como a Hermione Granger da peça "Harry Potter and The Cursed Child" - dá vida à advogada Haley Gibson. Em entrevista publicada com exclusividade pelo Vida&Arte, a atriz divide a experiência na minissérie. Confira!
Parabéns por The Undoing. Você deve estar feliz porque finalmente as pessoas vão ver, não é?
Noma - Estou. Originalmente a série estrearia em maio, mas aí veio a pandemia. Teve o Black Lives Matter, o mundo muda, revoluções acontecem, então ok, voltemos ao que eu sei fazer. (risos)
Você disse que leu o livro em que "The Undoing" é baseada. Você leu antes de receber os roteiros?
Noma - Eles me pediram para fazer um teste, me filmar em um escritório, o que foi genial porque significava que eu estava trabalhando com outra pessoa. Eu recebi um episódio - acho que era o primeiro - e fiquei impressionada. A minha personagem nem aparecia, mas a energia era incrível. Eles também me mandaram algumas páginas com cenas da minha personagem. O texto do David E. Kelley tem alguma coisa que faz a gente não conseguir parar de ler - eu ficava pensando que precisava saber o que aconteceria com aquelas pessoas. Eu tinha que saber. Havia alusões e também algo tangível. Eu sei que soa contraditório, mas pensava em quem eram aquelas pessoas, qual seria o rumo da história. Eu precisava saber. E isso tendo lido só o primeiro episódio. Eu acho que uma semana depois soube que o papel era meu, mas enquanto isso precisava saber como a história acabava (risos). Eu ficava pensando que, fazendo ou não a série, eu precisava saber. Então li o livro e a minha cabeça ficou a mil, fiquei impressionada. É interessante porque o livro conta a história do ponto de vista da Grace. É uma grande arte adaptar um livro. Houve dois aspectos em que eu achei a adaptação genial e esse foi um deles. O David abriu a história, os personagens e seus mundos de modo brilhante. Ele é muito bom contando histórias nessa mídia - basta ver a trajetória dele.
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O que você achou da sua personagem, a Haley?
Noma - Eu adorei. Eu adorei o modo com a Haley foi escrita. É interessante porque eu fazia de um jeito e a Susanne dizia: "não, vamos tentar desse jeito". Eu dizia: "Ok". Hoje olho para trás e vejo que foi um grande aprendizado trabalhar com a Susanne nessa longa narrativa. Em "Black Earth Rising" também, mas desta vez foi totalmente diferente. Com o Hugo Blick (roteirista e diretor da série "Black Earth Rising") passamos horas analisando a pesquisa que ele tinha feito e conversando sobre as expectativas dele, mas em "The Undoing" foi um encontro de 10 minutos com a Susanne e "vamos fazer tudo isso no set". Então cheguei, conversamos e mudamos um pouco como ela via a Haley. Foi uma curva de aprendizado para mim porque eu não tinha a menor ideia de como funcionava aquele mundo de poder e dinheiro. A Susanne foi genial contando como esse tipo de pessoa se movimenta e se comporta. Muitas vezes eles ficam muito quietos e eu pensei que de fato estive com pessoas poderosas que não levantam a voz, só reafirmam o que são. Foi ótimo para interpretar a Haley e entender o que a Susanne queria. E mais uma vez foi uma curva de aprendizado depois de três anos fazendo teatro, em que você ergue a voz, e aqui tinha que (baixa o tom) conter mais. A Haley é fascinante. Sou agradecida à série porque poderia ter sido qualquer atriz, mas ao ser uma atriz negra se tornou uma personagem afro-americana, então trabalhei com um coach de diálogo incrível.
Como foi trabalhar com a Nicole e com o Hugh?
Noma - Existe algo especial em trabalhar com pessoas extraordinárias no que fazem e vê-las de perto. Então ver a Nicole e o Hugh assim era incrível, quando eles estavam perto de mim, eu era literalmente como os pés de um cisne: parecia calma, mas estava trabalhando duramente abaixo da linha d'água (risos). Eu tinha pés de cisne! Eu me lembro de uma cena de tribunal em que a câmera estava focada na Nicole fazendo a Grace, por um momento deixei de ser a Haley e como Noma pensei: "ela é extraordinária". Ela era diferente a cada momento e eu estava tão admirada que quase esqueci que estava chegando a hora de uma fala minha (risos). Eu diria que a Nicole é sentimento e o Hugh é cabeça. Ele está sempre descobrindo, são abordagens diferentes, mas os dois são brilhantes no trabalho. Há alguns anos eu me dei conta de que tudo que queria era trabalhar com grandes pessoas, não importava no quê, podia ser um workshop, uma leitura, uma peça ou um programa de televisão. Só de estar trabalhando com boas pessoas já estaria feliz. E o universo me deu "The Undoing", estou muito agradecida. Eu ficava um pouco apreensiva no set. Ficava me repetindo que sou atriz e merecia estar ali. O meu mentor sempre dizia: "roube o que houver de melhor e torne seu". Eu olhava para eles - Nicole Kidman, Hugh Grant, Susanne Bier, Donald Sutherland - e pensava no que podia roubar para mim (risos)! Porque eram grandes aulas de atuação.
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Você criou um passado para a Haley?
Noma - Para mim havia aquela mulher afro-americana, a Haley, trabalhando para aquele antigo escritório de advocacia. O Franklin (Donald Sutherland) diz à filha: ‘Você precisa da Haley’. Ela era do escritório que o Franklin usava havia anos. Então para mim era maravilhoso pensar como a Haley tinha chegado até ali. Tem que ter havido uma história incrível. Não era preciso ver isso em The Undoing, mas para mim era engraçado pensar no passado dela. Eu acho que ela precisou fazer escolhas para entrar naquele ambiente de riqueza, de dinheiro. Existem negros que estão nesse mundo. Então, era bom pensar qual tinha sido o caminho dela.
Você acha que a Haley acredita que o Jonathan é inocente?
Noma - Eu acho que ela está concentrada no trabalho, em usar a lei. Ela segue a lei à risca. Acreditando ou não que o Jonathan é inocente, a Haley está fazendo o trabalho dela e eu faço o meu, interpretando-a. Espero que bem o suficiente para o público ficar ansioso para saber o que vai acontecer.
Mas ela sempre relaciona o Fernando ao assassinato da mulher quando está no tribunal. Você acha isso justo?
Noma - Ela faz isso e é terrível. Eu, Noma, acho terrível fazer isso com alguém. Mas está tudo baseado na lei. A Haley está simplesmente fazendo o trabalho dela. Existe uma teatralidade em contar uma história em um tribunal, para um público, para o júri, com as pessoas observando, e ela sabe o efeito que cada coisa terá neles. O trabalho da Haley – que ela é paga para fazer – é defender aquele homem, o Jonathan. É o trabalho dela, baseado na lei. No entanto, acho que emocionalmente ela não está ligada àquilo. E acho isso fascinante nos advogados – os bons se concentram no trabalho.
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Você poderia resumir a experiência de ter feito "The Undoing"?
Noma - Sabe o que é interessante? Quando estava fazendo, achava muito difícil. Estou sendo sincera. Acho que isso tem a ver com ter sido atriz de teatro nos quatro anos anteriores e estar voltando para a TV, para uma filmagem. Eu pensava: "*****, eu tenho que me readaptar". A Susanne dizia que tínhamos que fazer com que a Haley entrasse naquele ambiente, e para ser absolutamente sincera eu tinha uma certa resistência, mas fui entrando no meu espaço. Quando olho para trás, para as pessoas incríveis com que trabalhei, a verdade é que cada trabalho é um aprendizado que permite ir avançando na vida. E, meu Deus, vou avançar de modo abençoado porque aprendi muito e havia muita bênção nesse trabalho - era realmente uma bênção. Naquele momento eu estava prestes a fazer 50 anos e era uma ironia que a minha vida na TV estivesse começando ali. Estava muito agradecida. Mas ainda me considero aprendiz. Eu me sinto assim a cada trabalho. Mas olho para "The Undoing" e penso "*** eu fiz isso. É incrível, realmente incrível".
The Undoing
Quando: exibida aos domingos, às 22 horas
Onde: HBO e HBO Go