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24º forumdoc.bh aborda memórias profundas da terra em filmes, debates e seminário
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

24º forumdoc.bh aborda memórias profundas da terra em filmes, debates e seminário

Sob o tema "Esta terra é a nossa terra", 24º forumdoc.bh promove exibição de 71 filmes, debates com realizadores e atividades formativas no ambiente virtual
Tipo Notícia
Yaõkwa - Imagem e Memória, 2020, de Rita Carelli e Vincent Carelli (Foto: Tiago Campos Torres / divulgação)
Foto: Tiago Campos Torres / divulgação Yaõkwa - Imagem e Memória, 2020, de Rita Carelli e Vincent Carelli

Num cenário que ainda demanda distanciamento, o forumdoc.bh.2020 - 24º Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte buscou saídas possíveis para promover partilhas coletivas: a realização em ambiente virtual, por exemplo. Mas também, para além da forma, a busca do evento por trazer coletividades nas próprias obras e encontros possibilitados por ele. Disponibilizando 71 filmes divididos em três mostras, sete encontros com realizadoras e realizadores, seminário e masterclass, entre os dias 19 e 28 de novembro, o forumdoc.bh, estimulará reflexões a partir do tema central que norteia o festival: "Esta terra é a nossa terra".

É simbólico que o evento se debruce sobre a terra em um contexto no qual ele extrapola a geografia de Belo Horizonte. "É uma terra desenraizada, nesse sentido", reflete Júnia Torres, cineasta, coordenadora do festival e uma das curadoras da Mostra Contemporânea Brasileira. O forumdoc.bh, assim, aproveita a realização virtual para alargar as possibilidades de público e reflexões. "Era fazer ou não fazer. Não quisemos descontinuar o festival e entendemos que este é um momento importante de estar junto com as pessoas", aponta.

'Ingrõny, pisada forte' foi produzido pelo Coletivo Beture de Cineastas Mebêngôkre e faz parte da Mostra Contemporânea Brasileira de 2020 do forumdoc.bh
Foto: Coletivo Beture de Cineastas Mebêngôkre / divulgação
'Ingrõny, pisada forte' foi produzido pelo Coletivo Beture de Cineastas Mebêngôkre e faz parte da Mostra Contemporânea Brasileira de 2020 do forumdoc.bh

Três mostras compõem a programação: a Contemporânea Brasileira, a temática e as sessões especiais, além de dois filmes de abertura. De 71 títulos no total, 66 ficarão acessíveis no site ao longo de toda a duração do festival, enquanto cinco estarão disponíveis em um período específico. Na Contemporânea Brasileira - com curadoria de André Novais de Oliveira, Daniel Ribeiro, Júnia Torres e Luisa Lann -, estão obras como a cearense "Pajeú", de Pedro Diógenes; o curta "A Morte Branca do Feiticeiro Negro", de Rodrigo Ribeiro; "Ingrõny, Pisada Forte", do Coletivo Beture de Cineastas Mebengokre; "República", de Grace Passô; "Xandoca", de Takumã Kuikuro; e "Yaõkwa - Imagem e Memória", de Vincent Carelli e Rita Carelli.

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A abertura do festival ocorre com sessão dupla do curta "O que há em ti", de Carlos Adriano, e do documentário "Tentehar - Arquitetura do Sensível", de Paloma Rocha e Luís Abramo. O primeiro fica disponível até o fim do evento, enquanto o segundo segue acessível até 23h59min do dia 22. Na mostra temática, curada por Carla Italiano, Ewerton Belico e Milene Migliano, 23 filmes lançados entre 1969 e 2020 destacam narrativas de luta por terras no Brasil e no mundo. Junto dos filmes, o forumdoc.bh realiza um seminário que contará com presença de lideranças indígenas, quilombolas e de movimentos por moradia popular.

O olhar à "terra" proposto pelo tema deste ano pode significar, também, um atentar-se a pertencimentos simbólicos e concretos. Ao observar as outras mostras além da temática, é possível encontrar articulações entre elas e o debate do direito à terra. Perguntada sobre tais relações, Júnia indica que essa não foi uma busca da curadoria da Contemporânea Brasileira, mas reconhece a possibilidade destas aproximações.

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"A gente recebeu um número muito grande de inscrições, surpreendentemente, e não fomos propositalmente pelo recorte temático", conta. "Temos filmes de coletivos, realizadoras e realizadoras onde o tema do território faz sentido, vindos de lugares nos quais os conceitos de 'terra' e 'pertencimento' atravessam a eles também", compreende. "O forumdoc está interessado em novos protagonismos, em ver de onde surge esse documentário que vem, de certa maneira, reconfigurando o gênero no Brasil. Essa reconfiguração tem muito a ver com os autores-sujeitos desses filmes", observa a coordenadora.

Ao longo das mais de duas décadas de realização do festival, afinal, são muitos os movimentos captados pelo evento. "No começo, tinha muito menos filmes, que eram feitos geograficamente no eixo Rio-SP e, sobretudo, por profissionais ligados ao cinema. Na época, a maior parte deles chegava em película, depois em VHS… Acompanhamos, digamos, a migração para o digital. Mais do que migração de formato, a gente acompanhou uma revolução no documentário", define Júnia, que destaca o crescimento exponencial de realizações de pessoas negras e indígenas no cinema brasileiro.

Agências de modelos que surgiram em territórios periféricos e morros do Rio de Janeiro são a partira do documentário 'Favela É Moda', de Emílio Domingos, que será disponibilizado nas Sessões Especiais do forumdoc.bh
Foto: Francisco Van Steen Proner Ramos
Agências de modelos que surgiram em territórios periféricos e morros do Rio de Janeiro são a partira do documentário 'Favela É Moda', de Emílio Domingos, que será disponibilizado nas Sessões Especiais do forumdoc.bh

Todas as pessoas que assinam as direções dos filmes selecionados na Contemporânea participam dos chamados Encontros com Realizadoras e Realizadores. "Que pensamentos os filmes mobilizam? Para que reflexões e pensamentos eles podem nos levar?", diz a coordenadora, são algumas das questões a serem abordadas. Para além dos aspectos cinematográficos, despontam também as questões de vida, em especial no seminário temático, que recebe 13 lideranças convidadas para dividir experiências de resistência, sonho, luta e imagem.

"O último dia do seminário pretende discutir filmes que foram feitos sobre a temática, é onde o cinema vai ter uma discussão mais central. É engraçado um festival de cinema em que a última mesa do seminário é que é sobre cinema. Isso é bom, sinal de que alguma coisa está acontecendo. Desloca os lugares de conhecimento e as fontes de saber que a gente está buscando. É uma chance de nos aproximarmos de outros ciclos de experiências que vêm da luta, da prática", defende Júnia.

 

24ª forumdoc.bh.2020 - Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte

Quando: de 19 a 28 de novembro
Onde: filmes disponíveis em www.forumdoc.org.br; abertura transmitida hoje, às 19h30, pelo canal no YouTube (www.youtube.com/forumdoc)
O seminário será transmitido pelo YouTube, aberto para o público geral. É possível se inscrever até 19/11 para ter acesso à interação direta com as lideranças e receber certificado. A masterclass “O filme ensaio e as margens entre as imagens”, com Joana Pimenta, tem acesso mediante inscrições, também até 19/11
Mais informações: www.facebook.com/forumdocbh ou @forumdoc.bh
Gratuito.

Foto do João Gabriel Tréz

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