Lá se vão quase dois anos desde que o longa cearense "Pacarrete", de Allan Deberton, estreou mundialmente no Festival de Cinema de Shanghai. Nestes quase 24 meses, o longa foi amplamente celebrado e premiado. Os mais recentes reconhecimentos à produção vieram no Festival Sesc Melhores Filmes, onde teve sete vitórias. O evento do Sesc São Paulo oferece anualmente prêmios escolhidos por votação popular e da crítica especializada para obras do Brasil e estrangeiras que estrearam comercialmente. Até o próximo dia 5 de maio, o evento disponibiliza gratuita e virtualmente "Pacarrete" e dezenas de outros filmes votados no processo.
Entre as vitórias, o longa cearense - que conta a história de uma bailarina que sonha em apresentar um balé para os habitantes de Russas -, foi escolhido Melhor Filme pelo público e pela crítica, além do reconhecimento para a atriz Marcélia Cartaxo e para o roteiro (co-escrito por Allan, Natália Maia, Samuel Brasileiro e André Araújo) também pelos dois júris.
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"Como primeiro filme, nunca imaginei que seria assim, então fico muito feliz com a repercussão. Significa que pode dar certo, que fazer cinema no Brasil é, sim, um desafio, mas nossa arte é forte e pode chegar longe", celebra o cineasta. "As pessoas estão muito curiosas com novas histórias. É muito interessante como os personagens se relacionam com as pessoas. É um filme simples, íntimo, que fala da gente, de quem somos e como encarar os desafios - e as diferenças", descreve.
Além da consagração e da disponibilização gratuita, "Pacarrete" ainda estará presente em mais programações do Festival. O diretor e a atriz protagonista participam, com Glenda Nicácio (BA), Camilo Cavalcante (PE) e Petrus Cariry (CE), do bate-papo "Cinema Nordestino Contemporâneo: Uma só identidade?" na próxima quinta, 22.
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"Na última década, através de uma política de descentralização de investimentos da ANCINE - quando funcionava -, o bolo começou a ser melhor dividido, dando oportunidade para que novos(as) realizadores(as) contassem suas histórias", destaca Allan.
"Hoje a produção audiovisual do Nordeste se destaca, mostrando toda a sua diversidade. Acho que muito disso vem de uma experiência de alguma forma ainda recente, de sucesso alcançável, de cinema como fonte de trabalho, como arte possível de ser feita e consumida", desenvolve o diretor.
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Apesar do cenário animador, ele mesmo contrapõe que os desmontes de políticas impactaram na produção. "Nos últimos anos, fizeram de tudo para demonizar um setor que só dava orgulho. Ancine sucateada, Cinemateca entregue às baratas, falta de cumprimento de contratos, quebra de acordos internacionais, editais que não acontecem, perseguição de artistas. Não precisava ser assim. Não está fácil", desabafa.
47º Festival Sesc Melhores Filmes
Transmissões de bate-papos: youtube.com/cinesesc
Encontre os filmes: sescsp.org.br/cinemaemcasa
Mais informações: melhoresfilmes.sescsp.org.br
Destaques
"Sertânia"
Apesar de não ser dirigido ou filmado no Ceará, o longa do baiano Geraldo Sarno é assinado pela produtora cearense Cariri Filmes. Um dos principais destaques de 2020 e também vencedor do prêmio Sesc Melhores Filmes, a obra está disponível on-line até 5 de maio
"Pacarrete"
O premiado longa de Allan Deberton conta a história da bailarina e professora Pacarrete, que sonha em apresentar um balé para os habitantes de Russas, mas esbarra no desinteresse do público e da lógica política. O filme fica disponível por um dia a partir das 20 horas do dia 23
A Fotografia no Cinema
Bate-papo marcado para terça, 20, às 20 horas, com os diretores de fotografia Miguel Vassy ("Sertânia"), Beto Martins ("Pacarrete") e Rosa Caldeira (do curta "Perifericu"). Demanda inscrição. Verificar disponibilidade em inscricoes.sescsp.org.br
Cinema Nordestino Contemporâneo
Allan, Marcélia e cineastas Glenda Nicácio, Petrus Cariry e Camilo Cavalcante discutem a produção da região Nordeste, com suas especificidades, desafios e pontos em comum. Transmissão na quinta, 22, às 20 horas