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Livro relaciona o "bandido da luz vermelha" com "a maldição de ser artista"
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Livro relaciona o "bandido da luz vermelha" com "a maldição de ser artista"

Projeto nascido em parceria com ator Murillo Ramos, livro "Um Artista da Luz Vermelha", de Yuri Marrocos, é lançado pela Substânsia. Obra foca em criminoso dos anos 1960
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Foto: Divulgação "Um Artista da Luz Vermelha" foi escrito por Yuri Marrocos

Usando codinomes e realizando diferentes assaltos no mesmo dia, João Acácio Pereira da Silva foi um criminoso conhecido da década de 1960. A mídia o chamava de "bandido da luz vermelha", por usar uma lanterna de aro avermelhado. A história do ladrão ganhou livro, filme e agora inspira o monólogo "Um Artista da Luz Vermelha", um trabalho de Murillo Ramos, Yuri Marrocos e do coletivo Manada Teatro, que relacionam a trama do criminoso com a "maldição" do ser artista.

Aos quatro anos, João Acácio se tornou órfão. Ele e o irmão mais velho, Joaquim Tavares Pereira, passaram a ser cuidados pelo tio, que os submeteram a trabalho forçado em troca de comida, além de terem sido torturados física e psicologicamente pelo parente, que negou as acusações. Na pré-adolescência, foi estuprado por meninos mais velhos. Em meio a um início de vida marcado pela violência, João Acácio teve seus piores instintos despertados.

Passou a se envolver em furtos e de Santa Catarina se mudou para São Paulo, onde participou de roubos e desmanches de carros. Conseguiu enganar a polícia ao se passar por diferentes assaltantes, mas o que ficou mais conhecido foi o "bandido da luz vermelha". O criminoso usava roupas chamativas e tinha seu próprio "estilo" de agir: entrava nas casas de madrugada, cortava a energia e carregava uma lanterna com uma lente vermelha.

Depois de seis anos, a polícia conseguiu prender o bandido, após ter deixado impressões digitais em uma mansão. Ao ser preso, ele confessou apenas quatro crimes e foi condenado por quatro assassinatos, sete tentativas de homicídio e 77 assaltos, com uma pena de 351 anos, 9 meses e três dias de prisão.

Mas por que um criminoso virou tema de produtos artísticos? A ideia era celebrar os 25 anos de carreira no teatro do ator e diretor Murillo Ramos, que teve a infância marcada pelas notícias sobre o "bandido da luz vermelha". Desse modo, Murillo e Yuri se unem para relacionar a trama de João Acácio com questões referentes à vida de um artista, envolvendo as vaidades do criminoso e também abordando sucesso e fracasso.

"Um Artista da Luz Vermelha" foi escrito por Yuri Marrocos
"Um Artista da Luz Vermelha" foi escrito por Yuri Marrocos (Foto: Divulgação)

A ideia inicial era realizar um espetáculo, mas a pandemia limitou os objetivos. No ano passado, o monólogo foi exibido em vídeo no YouTube, dentro do segundo episódio do programa "Zona de Criação", promovido pelo equipamento cultural Porto Dragão. Mas agora o projeto ganha um livro, que será lançado no dia 17 de setembro.

A obra discute a paixão sensacionalista da mídia policial e relaciona a criação do "bandido da luz vermelha" a um personagem de ficção. "Tem o João Acácio e o bandido da luz vermelha. O bandido da luz vermelha é meio que um personagem criado pela mídia policial. A partir dessa criação, e olhando para a vida de João Acácio, do bandido da luz vermelha, nós começamos a notar que eram excludentes entre si, eles não poderiam ser as mesmas coisas", afirma Yuri, autor da dramaturgia.

"Quando escolhemos falar sobre o João Acácio, nós estamos trazendo também temas que são difíceis de serem tratados no teatro", afirma. "Eu quero lidar com coisas que são difíceis no teatro, eu quero lidar com a dramaturgia que é vulgar, que é intragável", explica Yuri. "É perigoso falar de um assassino, mas se for perigoso eu também quero, é importante que seja perigoso. Não é fácil, mas ao mesmo tempo não é sobre facilidade", reflete. O autor explica que o intuito do trabalho não é romantizar a vida de um assassino, mas trazer questionamentos para que o público tire suas próprias conclusões.

"Um Artista da Luz Vermelha" mergulha na vida de João Acácio Pereira da Silva, bandido famoso dos anos 1960
"Um Artista da Luz Vermelha" mergulha na vida de João Acácio Pereira da Silva, bandido famoso dos anos 1960 (Foto: Divulgação)

Para Yuri, os meios de comunicação transformaram João Acácio em um "artista pop", através das notícias que geraram expectativas sobre a prisão do assaltante e sua condenação. Para ele, o mesmo tipo de cobertura jornalística ainda existe nos dias de hoje e cita como exemplo o caso recente do serial killer Lázaro.

"O leitor vai caminhando pela vida de João Acácio, o Bandido da Luz Vermelha, e termina de frente para a própria vida. Não há, nesse texto, um personagem que concentre em si a carga da ficção, mas aqui, a realidade circula o centro de massa da ficção sem nunca, entretanto, atingi-lo", afirma Yuri.

"Ao passo que os crimes de João Acácio nos causam asco, a forma como a mídia sensacionalista o transformou em um artista pop nos meios de comunicação de massa fez com que nós fizéssemos um paralelo da vida de João Acácio com a 'maldição' do ser artista. O sucesso não opõe o anonimato, a morte não se inspira na vida", declara. Para o autor, o livro é um "indigesto manifesto sobre como a sociedade trata seus artistas, seus bandidos, seus pacientes psiquiátricos e todos aqueles que habitam a penumbra da sociedade''.

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Lançamento do livro "Um Artista da Luz Vermelha", de Yuri Marrocos

Quando: amanhã, às 18h30

Onde: Theatro José de Alencar (rua Liberato Barroso, 525 - Centro)

Quanto: R$ 40 (livro)

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