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Lula e Bolsonaro inspiram peça de Guel Arraes e Jorge Furtado
Vida & Arte

Lula e Bolsonaro inspiram peça de Guel Arraes e Jorge Furtado

'O Debate' imagina bastidores de encontro ficcional dos políticos às vésperas da eleição de 2022. Obra reflete sobre jornalismo e política
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Lula e Jair Bolsonaro (Foto: Miguel Schincariol e Evaristo Sá/AFP)
Foto: Miguel Schincariol e Evaristo Sá/AFP Lula e Jair Bolsonaro

Dois importantes roteiristas e diretores brasileiros, o pernambucano Guel Arraes e o gaúcho Jorge Furtado trabalham juntos em projetos há 30 anos e não é só a ficção que dá rumo à parceria - eles acompanham atentamente e trocam ideias sobre a movimentação política e social do Brasil, angustiados com as explosivas notícias que surgem quase a cada dia.

"Relembrando com minha filha Julia o famoso debate entre Lula e Fernando Collor, em 1989, que foi decisivo para a eleição deste último, ela me perguntou: 'O noticiário sobre o debate foi editado e vocês não fizeram nada?'", conta Furtado, que comentou o caso com Arraes. "Foi quando ouvimos um comentário do sociólogo e escritor José Almino, de que Machado de Assis, apesar de grande autor, quase não escreveu sobre a condição do negro, que Guel e eu decidimos que precisávamos deixar um legado sobre esse atual, algo que apresentássemos aos filhos e netos quando eles, no futuro, perguntarem o que fizemos durante o governo Bolsonaro".

A resposta é a peça "O Debate", cujo texto acaba de ser lançado em livro pela Editora Cobogó. A ação se passa em outubro de 2022, no dia em que Lula e Bolsonaro vão participar do decisivo debate imaginário no segundo turno das eleições presidenciais. Os políticos, porém, não são personagens - a ação se passa no terraço do prédio da emissora de TV que vai transmitir o embate. E é lá onde se encontram Marcos e Paula, dois jornalistas que já formaram um casal e agora trabalham juntos no evento.

Marcos, de 60 anos, é o diretor do telejornal apresentado por Paula, de 42, que vai comandar o debate. Ambos não escondem que são antibolsonaristas, mas enquanto ela é favorável à divulgação de uma pesquisa pouco confiável que aponta o favoritismo de Lula, ele se apoia na ética profissional, que impede noticiar fato não comprovado. "Enquanto discutem, Paula e Marcos provocam um debate sobre o debate", comenta Arraes.

A argumentação da peça - originalmente pensada como um telefilme - foi enriquecida com todo tipo de experiência. "Até me lembrei da primeira vez em que ouvi o Olavo de Carvalho, o guru dos bolsonaristas", conta Furtado. "Como (o filósofo alemão Arthur) Schopenhauer, ele usa argumentos falaciosos para vencer um debate".


Daí a importância vital da prática do bom jornalismo, segundo os autores. "A imprensa tem um poder e precisa respeitar limites, mas se vê diariamente diante de figuras que não respeitam nada. O que fazer, então? A decisão precisa ser muito bem pensada, pois certamente vai impactar o futuro do País", acredita Guel Arraes.

Para Jorge Furtado, que já fez uma série sobre o jornalismo, a base da democracia é a imprensa livre. "Atualmente, é um escudo contra as ações do Bolsonaro", acredita.

A dupla já foi procurada por diversos atores interessados em montar a peça e, apesar de tratar de uma cena hipotética (é pouco provável que Bolsonaro participe de algum debate na eleição presidencial), o espetáculo tem um final aberto, quando 30% das urnas foram apuradas. "Já dá para saber quem ganhou?", questiona Marcos, cuja pergunta fica sem resposta, já que o blackout indica o final da peça.

 

O debate

Autores: Guel Arraes e Jorge Furtado

Editora: Cobogó (80 págs.)

Quanto: R$ 36

 

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