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"Nevermind": Lançado há 30 anos, álbum do Nirvana mudou a história do rock
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"Nevermind": Lançado há 30 anos, álbum do Nirvana mudou a história do rock

Trabalho estreado pela banda deu forma a um desencanto pós-adolescente que segue vivo pelas mãos de artistas como Billie Eilish
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De acordo com Dave Grohl, as influências do Nirvana podem ser encontradas em Billie Eilish (Foto: Anton Corbijn/ Divulgação)
Foto: Anton Corbijn/ Divulgação De acordo com Dave Grohl, as influências do Nirvana podem ser encontradas em Billie Eilish

O disco chegou às lojas em 24 de setembro de 1991. "Foi um álbum que deixou o hard rock velho, o rock da moda na época, superficial, misógino e menos intenso", afirma à AFP a jornalista musical francesa Charlotte Blum, autora de um livro sobre o movimento grunge.

De fato, o álbum duplo do Guns N'Roses, "Use Your Illusion I & II", lançado apenas uma semana antes, ficou parecendo muito mais antigo.

Musicalmente, a explosão foi total, com "In Bloom" e "Come As You Are", que para o crítico musical americano Alex Ross oscilam "entre a meditação e a luta". Uma mistura de calma e tempestade que surgiu no estúdio de Butch Vig, produtor musical e baterista do grupo Garbage. Para outro crítico do rock, o francês Nicolas Dupuy, é uma síntese entre "Black Sabbath e Beatles".

O rock nunca mais foi o mesmo depois do single "Smells Like Teen Spirit", cujo videoclipe era exibido sem trégua na MTV, "o meio de comunicação de referência da época", afirma Blum.

"'Nevermind' inaugurou o 'grunge', conseguiu seu objetivo", conta Dupuy. Os integrantes do Nirvana (Cobain, Dave Groh e Krist Novoselic) esperavam apenas que as vendas permitissem pagar o aluguel. Entretanto, o disco destronou "Dangerous", o oitavo disco de estúdio de Michael Jackson, do primeiro lugar nas listas de vendas.

Mas o papel de profeta do rock era excessivo para Kurt Cobain. O sucesso e o vício em drogas não ajudaram. Ele cometeu suicídio em 1994, aos 27 anos, mesma idade das mortes de Jim Morrison, Janis Joplin e Jimi Hendrix.

Cobain teve tempo, no entanto, de transformar sua carreira em uma mensagem política. "Ele usava vestidos e dizia abertamente 'se você é racista ou homofóbico não venha aos nossos shows'. Também convidava grupos formados por mulheres para tocar em suas turnês", recorda Charlotte Blum.

Atualmente, os artistas que destacam a influência do segundo álbum do grupo vão além dos grupos com guitarras. Para rappers como Travis Scott (nascido en 1991 e que veste com frequência camisas do Nirvana), Kurt Cobain "poderia ter sido um artista do hip-hop" por seu discurso anticonformista.

Outros rappers americanos, como Post Malone ou Kid Cudi, homenageiam o cantor usando vestidos floridos em suas apresentações. "Com 'Nevermind', o Nirvana se tornou a HBO da música: todos os que fazem séries assistem a HBO, e todos os músicos de hoje já ouviram o Nirvana", afirma Blum sobre a natureza intergeracional do grupo.

Como afirma o ex-baterista do grupo, Dave Grohl, atualmente líder do Foo Fighters, Billie Eilish é quem simboliza com mais clareza atualmente a herança do Nirvana.

"Minhas filhas estão obcecadas com Billie Eilish. Sua conexão com o público é a mesma que o Nirvana tinha em 1991", afirmou Grohl. Para ele, a cantora de apenas 19 anos fala para as mesmas pessoas: todos aqueles que não sentem cômodos em uma sociedade muito codificada.

"Grohl tem razão, Eilish não é conformista, não se deixa rotular", explica Blum, um paralelo que também se reflete no segundo álbum da jovem artista, lançado recentemente e com o título irônico de "Happier Than Ever" ("Mais Feliz do que Nunca"), no qual aborda o peso do sucesso e da fama, temas importantes em "In Utero", disco lançado pelo Nirvana após o sucesso de "Nevermind".

Apesar do momento de celebração, três décadas depois, "Nevermind" também é notícia por motivos negativos: a polêmica envolvendo a capa da obra. Aos 4 meses de idade, Spencer Elden foi capa de "Nevermind" da banda Nirvana, lançado em 1991. Hoje, ele está com 30 anos e processa o grupo, alegando que foi explorado sexualmente. As informações são do jornal "The Guardian". Na imagem em questão, Spencer aparece nu nadando em direção a uma nota de 1 dólar.

O processo foi aberto na Califórnia, Estados Unidos, e conta com 15 réus, incluindo membros da banda, Courtney Love (viúva do ex-vocalista da banda, Kurt Cobain) e a gravadora responsável pelo lançamento e distribuição do disco nas últimas 3 décadas. Spencer pede uma indenização de US$ 150 mil (cerca de R$ 787 mil) de cada uma das partes envolvidas no caso.

Spencer Elden acusa banda Nirvana de exploração sexual
Spencer Elden acusa banda Nirvana de exploração sexual (Foto: Reprodução)

Segundo os advogados de defesa, houve "exploração sexual infantil comercial, desde quando Elden era menor de idade até os dias atuais" e que a imagem fez com que Spencer se assemelhasse a "um trabalhador do sexo - agarrando-se por uma nota de um dólar". Ele alega ter danos permanentes, incluindo "sofrimento emocional extremo e permanente com manifestações físicas".

Apesar da foto ter sido tirada com o intuito de aparecer na capa, Spencer revela que não foi pago e que seus pais não assinaram uma autorização de direito de imagem. Informações anteriores haviam constatado que os pais de Elden receberam US$ 250 na época para o ensaio exclusivo.

Lançado em 24 de setembro de 1991, "Nevermind" contou com diversos ensaios fotográficos para definir quem seria o bebê da capa do disco. A maior parte dos bebês eram meninas, mas Spencer foi o escolhido. Inclusive, seu pai era amigo do fotógrafo.

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