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Artistas avaliam o espaço do forró e do piseiro na música brasileira
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Artistas avaliam o espaço do forró e do piseiro na música brasileira

O forró e sua variação, chamada de "piseiro", conquistaram os ouvintes nas plataformas de streaming e se tornaram os gêneros mais escutados durante a pandemia, inclusive, desbancando o funk e o sertanejo
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Zé Vaqueiro e João Gomes estão entre os mais ouvidos no País  (Foto: Fernanda Barros/Especial para O POVO)
Foto: Fernanda Barros/Especial para O POVO Zé Vaqueiro e João Gomes estão entre os mais ouvidos no País

Quando o cantor pernambucano João Gomes começou a lançar suas músicas autorais no início deste ano, ainda não imaginava que se tornaria uma das grandes apostas do forró atual. Ele, que já divulgava alguns vídeos no Instagram e tocava majoritariamente para pessoas próximas, obteve sucesso após a canção "Meu Pedaço de Pecado" viralizar no Tiktok. Depois disso, várias das composições de seu álbum "Eu Tenho A Senha" permanecem entre as mais escutadas das plataformas de streaming há meses. O sucesso do artista, porém, não é um caso único. Assim como ele, Zé Vaqueiro, Nattan, Tarcísio do Acordeon e Vitor Fernandes foram outros nomes que obtiveram popularidade no último ano. Apesar de alguns já terem experiência profissional, enquanto outros começaram em uma carreira de rápida ascensão, todos se conectam: são os cantores que projetam o piseiro, variação do forró que adiciona o teclado digital, para o cenário nacional.

Na pandemia, o ritmo conseguiu desbancar ritmos que perduram há anos, como o funk e o sertanejo. "Quando veio a pandemia, a gente não tinha show. Então a gente teve que se reinventar e se voltar totalmente para o digital. Foi assim que nós chegamos nas pessoas. A galera estava em casa e foi atingida pelas plataformas musicais e por lives, que foram para onde o forró e o piseiro se direcionaram, e as coisas começaram a acontecer. O forró está no topo das plataformas, ele leva alegria. As pessoas abraçaram o forró", explica Nattan.

O gênero que nasceu no Nordeste já tinha se popularizado décadas atrás por causa de grandes artistas como Luiz Gonzaga. Mas, até 2020 e em um contexto de conexão virtual, o ritmo não ganhava tanto destaque na internet. "O nordestino tem uma coisa que é só dele: ele acredita em si próprio em momentos quando nada está acontecendo. Na pandemia, quando ninguém acreditava que podia estourar uma música, a gente botou a cara e acreditou. Quando as pessoas estavam em casa, precisando ouvir alegrias, a gente foi lá e fez", comenta Tarcísio do Acordeon.

Outro fenômeno deste mercado também é recente: a parceria e a união entre os músicos. Mesmo que feats fossem corriqueiros, era comum que cantores de forró tivessem rivalidades com outros artistas e grupos. Ou, pelo menos, os fãs acreditavam que essas brigas existiam. Agora, porém, um dos responsáveis por firmar laços profissionais é Xand Avião, ex-vocalista do Aviões do Forró e que se tornou empresário para incentivar a produção musical de nomes nordestinos. "Quando comecei a cantar, 18 anos atrás, éramos taxados porque brigávamos muito. Realmente, existiam essas rixas entre as bandas. Quem fosse fã de banda tal, não era fã de banda tal. Eu participei disso. Eu me culpo porque eu também era assim", recorda Xand.

Xand Avião gravou álbum na Lagoa do Uruaú, onde passou o isolamento social com a família
Xand Avião gravou álbum na Lagoa do Uruaú, onde passou o isolamento social com a família (Foto: Fernanda Barros/Especial para O POVO)

Ele, então, decidiu fomentar um ambiente mais acolhedor. "Comecei a fazer pontes e não fechar portas. Comecei a fazer amizade com essa galera jovem. Alguns têm medo porque acham que vão tomar o canto da gente. Já estou na estrada há muitos anos, não penso assim. Eu tenho a somar com eles por causa de meu tempo de estrada. E eles tem a somar comigo porque eu quero saber o que eles estão fazendo de diferente, para eu fazer também e continuar onde estou. A importância para isso, no forró, é gigantesca", pondera sobre a relação mútua entre gerações.

Mesmo com as mudanças deste cenário mercadológico e as adaptações do ritmo, existem tradições que permanecem. João Gomes, por exemplo, cita as letras. "A poesia é sincera. Sempre vai ser. A música que está me trazendo até aqui é 'Eu Tenho A Senha'. Eu sei que mexe com muitas pessoas não só pelo fato de ser nordestino. É uma poesia singela, que representa alguém que trabalha muito, que sofre muito e que, se estiver em uma festa animada, esquece de verdade esses problemas do cotidiano", afirma. De fato, uma de suas composições mais populares já começa com frases que se conectam à realidade de vários brasileiros: "Levanta cedo pra labuta que eu tô pronto/ Eu muito conto com meu Deus que tá no céu/ Eu tenho a senha pra correr em todo canto/ Humildade e a disciplina dos sermão que mãe me deu".

Xand Avião concorda com o ponto de vista do novo artista do piseiro e acrescenta: "tem todo tipo de forró, mas aquela música eterna, que fica e que nunca pode faltar, é a música com uma boa letra que dê para dançar". De acordo com ele, para alcançar a eternidade, tem que dialogar com a poesia. "Para se eterno, tem que haver poesia. O que a gente consegue fazer, mesmo não tendo Luz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, é falar de amor dançando".

Um festival para o forró

O forró e o piseiro se unem no festival "Viiixe! Forró e Piseiro", previsto para estrear presencialmente no dia 12 de março de 2022, em Fortaleza. O evento, organizado pela Vybbe, pela Top Eventos e pela Tapajós, já está confirmado em outras capitais, como: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, São Luiz, Brasília, Belém, Manaus, Salvador e Goiânia. Outros lugares devem ser contemplados com o decorrer do festival.

"Não tenho nada contra o sertanejo ou o funk… Mas eu sentia que o forró não estava no lugar em que ele merecia. A gente tem uma música tão boa como qualquer outra, de qualidade, com grandes cantores. A gente achou que estava na hora, lógico que copiando VillaMix e Festeja, que são grandes festivais em que eu participei", afirma Xand Avião.

De acordo com o cantor, o Viiixe! será uma experiência única para o público e os músicos. "A gente vai juntar tudo que o pessoal escutou quando estava em casa, nas lives e nas plataformas para unir em um festival. A gente está levando o Nordeste para o Brasil. Acho que hoje o olho do mundo está virado para o Nordeste. Nas Olimpíadas está provado isso. Na música está provado isso. Na Juliette está provado isso", complementa.

Até o momento, as apresentações serão comandadas por Xand Avião, Tarcísio do Acordeon, Vitor Fernandes, Zé Vaqueiro, Nattan e João Gomes. Ainda não foram revelados outros nomes que participarão das apresentações, mas o também empresário garante que artistas recentes da cena poderão estar presentes. Esses cantores podem ser adicionados ao evento nos próximos meses, conforme aumento de sua popularidade na indústria.

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