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"7 Prisioneiros": longa da Netflix propõe reflexões a partir de feridas sociais
Vida & Arte

"7 Prisioneiros": longa da Netflix propõe reflexões a partir de feridas sociais

Com Christian Malheiros e Rodrigo Santoro, e disponível na Netflix, longa de Alexandre Moratto apresenta trama que retrata trabalho análogo à escravidão e busca visibilizar temática
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O ator Rodrigo Santoro vive o antagonista do longa '7 Prisioneiros' (Foto: Aline Arruda / divulgação)
Foto: Aline Arruda / divulgação O ator Rodrigo Santoro vive o antagonista do longa '7 Prisioneiros'

A oportunidade de melhores condições de vida que atrai um grupo de jovens do interior de São Paulo até a capital rapidamente se revela um violento esquema de trabalho análogo à escravidão. É este o mote do novo longa brasileiro da Netflix, "7 Prisioneiros", dirigido por Alexandre Moratto e com Christian Malheiros e Rodrigo Santoro nos papéis principais. As expectativas com a estreia global da obra, nesta quinta, 11, são de boa repercussão e atenção ao urgente tema, como dividiram atores, diretor e o produtor Fernando Meirelles na coletiva virtual que o Vida&Arte participou a convite da plataforma.

O protagonismo da história - cujo roteiro é assinado por Alexandre e Thayná Mantesso - está no personagem Mateus, interpretado por Christian Malheiros. Com outros rapazes da região onde mora, ele é atraído por uma oferta de emprego, mas chegando na capital paulista vê que as condições do trabalho, em um ferro velho, estão longe do aceitável. Os jovens são acompanhados por Luca (Rodrigo Santoro), "patrão" e operador do esquema de trabalho análogo à escravidão. Mesmo tentando se impor e deixar o local, os jovens são reprimidos por ameaças a eles e também às famílias.

Evocando "Cidade de Deus" (2002) - dirigido por Fernando Meirelles - como referência, Alexandre ressalta o caráter "realista" de "7 Prisioneiros". "Foi muito importante a gente retratar isso de forma realista. A gente conversou bastante no processo sobre como humanizar os personagens, como fazer o filme partir da perspectiva dos trabalhadores", aponta o diretor e roteirista.

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"Como que a gente fala com pessoas que sobreviveram à escravização? É uma questão tão escondida. Como a gente pesquisa as pessoas que escravizam? O roteiro em si foi um grande desafio e por isso a gente levou bastante tempo", avança. Foram dois anos de pesquisa e escrita até chegar no formato final, divide ele.

Referenciado por Alexandre, o produtor Fernando Meirelles reforça o peso do tema. "A gente passou por 6 mil anos de História em que era isso que acontecia. O Vaticano tinha escravizados até o século 16, a Europa, a Ásia… É uma instituição. Oficialmente, não existe mais, mas está dentro da gente o impulso da exploração. Existem escravizações que não são necessariamente com barra de ferro", reflete.

Christian Malheiros é o protagonista Mateus, jovem que busca emprego e acaba envolvido em um esquema de trabalho análogo à escravidão(Foto: Aline Arruda / divulgação)
Foto: Aline Arruda / divulgação Christian Malheiros é o protagonista Mateus, jovem que busca emprego e acaba envolvido em um esquema de trabalho análogo à escravidão

Para Christian - que estreou no cinema com "Sócrates" (2018), também de Moratto, e tem em "7 Prisioneiros" o 2º longa da carreira -, o papel foi um desafio. Sem revelar o enredo, o protagonista passa por questões morais acentuadas enquanto luta por sobrevivência. "O trabalho exigia uma escuta muito boa, uma entrega muito grande, um nível de provocação muito grande", aponta.

"Nada é tão simples e no fim você fica um pouco com esse dilema moral: o que é correto e o que não é correto quando você está falando de sobrevivência, de uma situação de desespero?", adiciona Rodrigo Santoro, que vive o antagonista. Apesar da posição criminosa do personagem, há no filme, e na equipe, um interesse em complexificá-lo.

"Como é que a gente humaniza sem tentar redimir o personagem? Porque nada justifica as coisas que ele faz, não seria esse o caminho. A ideia era como trazer dimensões e camadas. No fundo, ele não deixa de ser um produto do abismo social, de uma sociedade que exclui, mas ao mesmo tempo tem muita consciência das coisas terríveis que faz", reflete.

"O que a gente está trazendo à tona é um tema real, indigesto e que, na verdade, é consequência de outro problema, uma ferida muito profunda, que se chama desigualdade social", avança Rodrigo. "A grande questão é: o que é que gera? Por que o Mateus sai desesperado para procurar essa oportunidade, como milhares de brasileiros e pessoas no mundo? Por essa situação de vulnerabilidade. Gostaria que o debate fosse pra esse lugar", defende.

O ator Rodrigo Santoro vive o antagonista do longa '7 Prisioneiros'(Foto: Aline Arruda / divulgação)
Foto: Aline Arruda / divulgação O ator Rodrigo Santoro vive o antagonista do longa '7 Prisioneiros'

A estreia global da obra no streaming, acredita Alexandre, pode ajudar na identificação da situação em outros países. "O filme tem grande potencial de chegar a muitas pessoas. Minha expectativa e meu desejo é que ele atinja grande público no Brasil, para poder abrir a discussão, mas também que tenha repercussão internacional", divide.

Em diálogo, Christian reforça a mensagem universal da trama. "O cinema no Brasil cumpre uma função social de expor feridas e trazer reflexões. A arte observa a vida e, a partir da arte, a gente muda a realidade. Estamos falando de trabalho análogo à escravidão e tráfico de pessoas, que acontecem no mundo inteiro. Através de uma situação numa região de São Paulo, a gente expõe uma ferida que acontece no mundo inteiro", afirma.

 

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7 Prisioneiros

Quando: já disponível
na Netflix

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