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Conheça três publicações de artes visuais feitas no Ceará
Vida & Arte

Conheça três publicações de artes visuais feitas no Ceará

Publicações cearenses Nerva, DepoisDuranteAntes e Reticências deslocam as artes visuais das exposições para o papel, propondo debates e reflexões sobre circulação e suporte
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Obra
Foto: Jorge Silvestre/Divulgação Obra "Rastros e Colisões Infinitas", das Terroristas del Amor, selecionada para a publicação DepoisDuranteAntes

O campo das artes visuais é comumente ligado à ideia do formato da exposição: em museus tradicionais, "cubos brancos", as paredes são ocupadas por obras de diferentes técnicas e suportes, em disposição no espaço escolhido a partir de critérios curatoriais específicos. Deslocando as possibilidades de experiências, três iniciativas cearenses dedicadas à linguagem trazem propostas de fruição e reflexão no formato de publicações impressas

Com edições recentes lançadas entre 2021 e 2022, as publicações Nerva, DepoisDuranteAntes e Reticências apostaram tanto no formato físico quanto no digital. Entre as três, as duas primeiras se inspiram no modelo de revistas, enquanto a última opta pelo de jornal.

Apesar das diferenças de identificação, as publicações apostam na acessibilidade e portabilidade do formato como forma de "exposição" das obras — em sua maioria, produzidas por mulheres cis e trans, pessoas LGBTs e não-brancas —, além de criarem também espaços para reflexão crítica.

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Capa da quarta edição da Revista Reticências, de artes visuais
Capa da quarta edição da Revista Reticências, de artes visuais

Revista Reticências

Criada em 2008 pela dupla de artistas e curadores Ana Cecília Soares e Júnior Pimenta, a Revista Reticências voltou a ser editada em 2021, após hiato de dez anos. A mais recente edição, de número 4, teve a artista visual e pesquisadora Maria Cecília Félix Calaça como editora convidada.

Ao longo da década de pausa da publicação, a Reticências ampliou o escopo de atuação, adquirindo status de editora e virando, também, escola. "Devido à necessidade cada vez mais forte no contexto social e político atual, resolvemos retomar a revista. Nesses tempos não podemos ficar sem nos posicionarmos e muito menos não promover e estimular o debate", afirmam, em resposta coletiva, Ana Cecília e Júnior.

Com a retomada, a Revista Reticências ganha periodicidade quadrimestral e já está com a quinta edição, que tem o artista e pesquisador Jean dos Anjos como editor convidado, pronta para lançamento.

"A revista Reticências surge a partir da necessidade de suprir uma lacuna na cidade por um espaço onde pudéssemos discutir sobre arte contemporânea e, ao mesmo tempo, do desejo de podermos contribuir com a reflexão crítica, difusão e memória das artes visuais a partir do Ceará, mas sempre buscando estabelecer conexões com o restante do país", resumem os criadores. A opção pelo formato de revista vem, ainda, do "interesse em experimentação da escrita sobre arte".

"Com tantas complexidades, se faz necessário o estímulo ao senso crítico e a Reticências contribui também com a formação, uma vez que se encontra atenta a questões atuais do mundo e do sistema da arte", apontam, destacando a revista como "um campo de possibilidades do exercício experimental da linguagem escrita sobre arte contemporânea" que permite "tornar pública uma argumentação que se quer mobilizadora de novas maneiras de ser e pensar a arte e sua recepção".

A nova fase da revista coincide com a abertura de uma loja física da Reticências no Dragão do Mar — espaço onde será possível encontrar não somente as edições já lançadas, mas também obras de outras editoras e artistas — e o lançamento de um programa de assinaturas via plataforma Catarse, de financiamento coletivo.

Onde: exemplares impressos para retirada no Museu de Arte da UFC (Av. da Universidade, 2854), Museu de Arte Contemporânea do Dragão do Mar (rua Dragão do Mar, 81), Sobrado Dr. José Lourenço (rua Major Facundo, 154), Casa Ucá (Crato) e Chão (São Luiz) (sujeito a disponibilidade); disponível on-line e para download no site www.reticencias.art/home

Mais infos: @reticencias.art

Capa da segunda edição da Revista Nerva, de artes visuais
Capa da segunda edição da Revista Nerva, de artes visuais

Revista Nerva

Iniciativa criada por grupo de artistas visuais que incluía Taís Monteiro, Simone Barreto, Louise Félix, Marília Oliveira, Anie Barreto e Ana Aline Furtado ainda em 2019, a Nerva tem foco na produção de mulheres cis e trans, homens trans, travestis e pessoas não-binárias. O grupo criou a revista após um curso sobre fotografia fabulatória, no Porto Iracema das Artes, com o intuito de "ver artistes como nós em páginas impressas", como escrevem, conjuntamente, Taís, Marília e Louise.

"O mercado de arte é excludente de maneira sistêmica. A visibilidade na internet é algo a ser alcançado e possível, mas falávamos de um processo de materialização das obras para trazer quantes artistes nordestines pudéssemos para as páginas", seguem. Contemplado pelo VIII Edital das Artes da Secultfor, o projeto conseguiu produzir, imprimir e distribuir mil exemplares da revista, divididos entre duas edições cujas temáticas foram autobiografia e o flerte com o insólito.

A busca pelo formato impresso era o objetivo inicial. "Pensávamos em como construir uma superfície que recebesse trabalhos de pessoas que estavam perto de nós, aqui no Nordeste, mas tão distantes pelas hierarquias invisíveis do sistema de arte. A força de legitimação do impresso e a possibilidade de circulação em tempos de restrição como os que enfrentamos nos últimos dois anos são motivos muito fortes para optarmos pela revista como um formato", explicam.

Uma convocatória para pessoas interessadas foi aberta nas redes sociais e mais de 230 inscrições de todo o Nordeste foram enviadas, o que dimensiona "a produção "fértil, frutífera, grandiosa e potente" de artistas nordestines. As duas edições lançadas contaram com a contribuição de quase 140 pessoas no total.

"A ideia da Nerva é de tornar palpável, virar um corpo que pode viajar e ser tocado e, assim, alargar o escopo de espaço de criação e produção das incontáveis subjetividades que atravessariam as páginas", apontam.

Onde: exemplares impressos para retirada na Biblioteca Estadual do Ceará (Av. Leste Oeste, 255) (sujeito a disponibilidade); edições disponíveis on-line no site www.linktr.ee/revistanerva

Mais infos: www.revistanerva.wixsite.com/nerva e @revistanerva 

Capa da edição
Capa da edição "zero" da DepoisDuranteAntes, jornal de artes visuais

DepoisDuranteAntes

Com curadoria dos artistas visuais Jorge Silvestre e Samuel Tomé, o jornal DepoisDuranteAntes — cuja edição lançada em fevereiro é considerada a de "número zero" pelos curadores, entendendo a iniciativa como "lugar de experimentar" — foi pensado, inicialmente, como um site onde seria possível acessar uma exposição on-line com obras de artistas que articulassem o tema escolhido: o tempo. A partir da própria temática e do contexto da pandemia, a dupla decidiu rever o formato.

"A gente já estava um pouco cansado de trabalhar nas telas, consumir em telas, então decidimos que iríamos apostar em algo impresso. Foi aí que veio a ideia de pensar o jornal enquanto o suporte", explica Samuel. Com as medidas e o tipo de papel comum às publicações jornalísticas, o DepoisDuranteAntes — que foi apoiado pela Lei Aldir Blanc via Secretaria Estadual de Cultura — traz para a própria forma reflexões sobre seu conteúdo.

"O jornal, de algum modo, se correspondia com esse eixo do tempo. Ele é esse papel que no dia seguinte está enrolando carne, então a gente ficou pensando em fazer um jornal que não tivesse esse tempo de vencimento tão curto", reflete. Ao invés de notícias, artigos ou publicidade, o DepoisDuranteAntes traz obras de arte de 16 artistas, como B. Benedicto, Charles Lessa, David Felício, Helena Vieira, Jonas Van e Terroristas Del Amor.

Na convocatória, os curadores não demandaram obras inéditas, mas Samuel compartilha que o próprio formato de jornal estimulou os selecionados. "Como surgiu esse formato diferente, muitos começaram a pensar algo que tivesse alguma relação com esse tipo de impresso, a ideia de pensar algo que cruzasse o tema 'tempo' e o suporte".

Outro ponto de interesse que levou à escolha do tipo de impresso foi a facilidade de circulação. "A aposta no jornal como suporte para essa publicação veio da vontade de fazer com que os trabalhos circulassem de forma mais fluida. Circular em Fortaleza, no Estado, no Brasil, colocar debaixo do braço e circular pelo mundo inteiro", ressalta Samuel. No momento, as edições impressas do DepoisDuranteAntes estão esgotadas, mas os criadores buscam possibilidades de reimpressão da edição.

Onde: disponível on-line e para download no site www.cargocollective.com/depoisduranteantes
Mais infos: @depoisduranteantes

Capa do O POVO com obra da multiartista Jamille Queiroz, que compôs o projeto Nosso Papel É Arte
Capa do O POVO com obra da multiartista Jamille Queiroz, que compôs o projeto Nosso Papel É Arte

Papel do O POVO

Em 2021, o próprio O POVO reforçou, também, o seu papel como veículo fomentador das artes visuais do Ceará e do Brasil. Entre maio e dezembro, com periodicidade quinzenal, a mostra Nosso Papel É Arte ocupou as páginas impressas do O POVO e do Vida&Arte. 15 artistas tiveram obras estampadas em sobrecapas do jornal, além de participarem de matérias do V&A sobre suas carreiras e trajetórias. A junção de todos os conteúdos (incluindo capas disponíveis para download) está disponível no O POVO . A lista de artistas conta com Alan Uchoa II, Artur Bombonato, Auxi Silveira, Azuhli, Betty Leirner, Cadeh Juaçaba, Cecilia Bichucher, Hélio Rôla, Jamille Queiroz (na foto), Jansen, Juca Máximo, Negrosoousa, Raisa Christina, Renata Felinto e Sy Gomes.

Confira Nosso Papel É Arte

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