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Noite da Praia de Iracema renasce entre novos e velhos desafios
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Noite da Praia de Iracema renasce entre novos e velhos desafios

Entre novos estabelecimentos e espaços renovados, Praia de Iracema vive momento de renascimento da noite entre brindes, desafios de permanência e adaptações pela pandemia
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Boate Level reabriu recentemente em novo endereço e com nova estrutura (Foto: Bentesfotos / divulgação)
Foto: Bentesfotos / divulgação Boate Level reabriu recentemente em novo endereço e com nova estrutura

Foram quase dois anos longe dos encontros que só uma boa festa pode proporcionar. Para um dos redutos mais animados de Fortaleza, a Praia de Iracema, o movimento atual é o de retomar a energia característica da região. Neste sentido, ao longo dos meses de reabertura das atividades econômicas no Estado, tanto espaços novos vêm surgindo naquele entorno, quanto outros já conhecidos ressurgiram renovados. Entre desafios de permanência e adaptações necessárias pela pandemia, as casas se reinventam para oferecer experiências seguras e marcantes ao público.

Entre espaços renovados no entorno, em especial, do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, está a Boate Level. Já reconhecida no roteiro de festas da região, a casa mudou de endereço há pouco mais de três meses para apostar em novas experiências e formatos. Quem explica é Jane Rocha, gerente do estabelecimento.

"Optamos em ir para um lugar em que pudéssemos ter múltiplas possibilidades. Um sonho nosso que foi realizado nesse retorno foi nossa área externa ampla, que nos permite trazer shows nacionais, de pequeno e médio porte", compartilha ela.

A chamada Pista Open Air é descrita pela gerente como grande diferencial da nova Level. "Desde que voltamos, já passaram artistas como Tainá Costa, Lara Silva, Pepita, Lorena Simpson, Grag Queen e DJs nacionais como Will Df, Mário Beckman, Baez, Van Muller", elenca Jane. Ela adianta, também, que o espaço receberá "afters" do Fortal 2022 ainda em julho, bem como promoverá evento especial de 10 anos da boate e festa de Halloween neste ano.

Já entre os espaços novos da região, estão o Kingston 085 e a Kosmika Club. Ambos os empreendimentos ocupam imóveis onde funcionavam, anteriormente, também boates reconhecidas no roteiro do bairro: o Reggae Club e o Órbita Bar, respectivamente, que fecharam após impactos da pandemia.

O Kingston 085 segue a mesma linha da casa anterior. "Venho no movimento reggae desde 1992, tocava lá (Reggae Club) desde quando inaugurou. Eles entregaram (o imóvel) por conta da pandemia e a gente passou um dia na frente e viu a placa de aluguel. Pensei 'poxa, pode virar um estacionamento, outra coisa, mas aqui é um local do reggae, vou fazer o possível para poder alugar e manter a chama do reggae acesa'", contextualiza Rubinho Star, um dos idealizadores do novo clube.

Há dois meses aberto, o Kingston 085 traz renovações estruturais em espaços como o banheiro, a entrada e a bilheteria do imóvel. Em termos de curadoria, a programação inicialmente foca no próprio reggae, com previsão de festas e shows de bandas como Mato Seco e Tribo de Jah para as próximas semanas.

"Mas a nossa ideia é ser um clube eclético que venha a agregar forró, samba e também fazer projetos culturais que possam vir ajudar a comunidade através da dança, da música", avança Rubinho.

Já a Kosmika Club vem do gosto pela noite dos sócios Edgel Joseph, Tiago Ranieri, Darlivan Almeida e Marcelo Negreiros. O imóvel no qual funcionava o Órbita Bar saiu para aluguel em outubro de 2021 e o grupo conseguiu bancá-lo ainda no final do ano passado. Os meses até a abertura, em maio de 2022, serviram para preparações conceituais e administrativas.

"A ideia é ter uma temática futurista, que já trabalho nas minhas redes sociais", explica Edgel, dono da conta @amulherdofuturo. "A gente trabalha tudo que envolve universo, os drinques têm nomes de planetas, temos espaços instagramáveis que remetem ao espaço", elenca. A casa conta com três espaços, sendo dois no térreo e um no piso superior. O sócio destaca, ainda, os investimentos em climatização e segurança.

Em termos de programação, Edgel destaca a pluralidade. A Kosmika promove festas de forró das antigas, piseiro, axé e sertanejo, entre outros ritmos. "A gente está perto de um ambiente, o Dragão do Mar, onde dá todos os tipos de público: o gringo, o LGBT, o hétero. A gente quer agradar o maior número possível, uma balada para todos, sem discriminação", define.

Bares e boates no entorno do Dragão do Mar e o próprio equipamento lidam com questões de segurança, limpeza e ordenamento
Bares e boates no entorno do Dragão do Mar e o próprio equipamento lidam com questões de segurança, limpeza e ordenamento

Relação com o entorno

Historicamente, a boemia na Praia de Iracema é reconhecida pelas memórias positivas, mas também por problemas estruturais e sucessivos esvaziamentos. Entre as principais demandas atuais citadas, estão questões como segurança e limpeza. A revitalização da área, apontam empresários, passa pela movimentação do setor privado, mas também apoios públicos.

"Nós estamos investindo muito para trazer um diferencial, ajudando no turismo, no movimento do entretenimento da cidade, mas claro que a gente precisa de maior apoio público nesse sentido", aponta Edgel Joseph, sócio da Kosmika Club.

Jane Rocha, gerente da Boate Level, destaca a importância das boas condições do entorno para a adesão do público nos estabelecimentos da região, citando necessidade de revitalização no entorno do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC) e "melhoria na segurança pública e infraestrutura".

A referência ao Dragão do Mar é inescapável, uma vez que o equipamento é central e a maioria dos estabelecimentos orbita o entorno do centro. O empreendedor Rubinho Star, da Kingston 085, reconhece um "retorno" forte de casas noturnas nos arredores do Dragão, vendo com bons olhos a relação entre as iniciativas.

"Estamos ainda bem no início, com dois meses, e com pretensão de apoiar vários movimentos culturais, abrir outros dias na semana, com outros ritmos e atrações, para movimentar mais o entorno do Dragão do Mar e a cultura da nossa cidade e do nosso estado", ressalta.

"O setor privado está buscando investir, agora vamos esperar para ver quais são os investimentos públicos para a região na parte cultural. O Dragão do Mar já está tendo uma reforma", aponta Rubinho.

Apesar da centralidade e importância, o Dragão do Mar não tem "jurisdição" para atuar diretamente na resolução de demandas como ordenamento do espaço público, limpeza e segurança, por exemplo. É o que explica o próprio equipamento em nota enviada ao Vida&Arte.

"Essas problemáticas do entorno também interferem no centro cultural e impactam diretamente seus públicos, mas extrapolam as dimensões físicas as e atividades finalísticas do complexo cultural. O CDMAC não tem jurisdição para atuar diretamente sobre esses pontos, mas tem provocado os órgãos competentes frequentemente, contando, para isso, com o apoio de importantes parceiros", afirma o texto.

Antes da pandemia, informa o Dragão do Mar, foram realizados encontros com empresários e agentes culturais do entorno "no intuito de somar esforços para mobilizar uma revitalização do espaço". "Infelizmente, durante o período mais agudo, alguns desses parceiros fecharam e o movimento do coletivo foi enfraquecido", contextualiza a nota.

"Em contrapartida, o diálogo com os entes públicos foi intensificado e formou-se um projeto para revitalizar o CDMAC e seu entorno, com uma série de ações conjuntas de ordenamento urbano, promoção da segurança cidadã, limpeza urbana e reforma da Praça Almirante Saldanha", segue, informando que a iniciativa está em curso.

Sobre a relação de intercâmbio de públicos entre as festas e o centro cultural, o Dragão do Mar reconhece que os perfis de programação dos empreendimentos são "distintos (...) em relação ao CDMAC", mas o fato é encarado como "positivo, pois se complementam e atendem a públicos diversos". "O CDMAC reconhece a importância de uma parceria com o setor privado que promova benfeitorias para a cidade, destacando, sobretudo, que sua atividade-fim é a democratização do acesso à arte e cultura para todos os públicos", encerra o texto.

Confira nota do CDMAC na íntegra:

O POVO - Como o equipamento se relaciona com os estabelecimentos no entorno? Há algum diálogo, seja em termos de ordenação do espaço ou até algum projeto de estabelecer parcerias, no sentido de intercâmbio de públicos entre as festas e o centro cultural, por exemplo?

O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura foi aberto há 23 anos e desde então se consolidou não apenas como um espaço de arte e cultura e cartão postal da cidade, mas também como lugar de encontros, abraçado pela população cearense. Sua elevada relevância na Praia de Iracema faz, inclusive, com que o centro seja ponto de referência na região, o que, por outro lado, frequentemente o associa a questões relacionadas à segurança, limpeza, reformas estruturais, iluminação, regulação do comércio ambulante e do trânsito. Essas problemáticas do entorno também interferem no centro cultural e impactam diretamente seus públicos, mas extrapolam as dimensões físicas as e atividades finalísticas do complexo cultural.

O CDMAC não tem jurisdição para atuar diretamente sobre esses pontos, mas tem provocado os órgãos competentes frequentemente, contando, para isso, com o apoio de importantes parceiros.

Ainda antes da pandemia, o CDMAC realizou encontros com empresários e agentes culturais do entorno, dentre eles, representantes da Associação Dragões do Mar e iniciativas em parceria com a Associação Velaumar, da comunidade Poço da Draga, no intuito de somar esforços para mobilizar uma revitalização do espaço. Infelizmente, durante o período mais agudo da pandemia, alguns desses parceiros fecharam seus empreendimentos na Praia de Iracema e o movimento do coletivo anteriormente formado foi enfraquecido.

Em contrapartida, o diálogo com os entes públicos foi intensificado e formou-se um projeto para revitalizar o CDMAC e seu entorno, com uma série de ações conjuntas de ordenamento urbano, promoção da segurança cidadã, limpeza urbana e reforma da Praça Almirante Saldanha. Essa iniciativa está em curso, a partir de um intenso diálogo com a vice-governadoria, a Prefeitura de Fortaleza e o Instituto Dragão do Mar, responsável pela gestão de quatro equipamentos na área, além do Dragão.

Os novos empreendimentos abertos, a maioria deles bares e boates, têm perfis distintos de programação em relação ao CDMAC, o que é, para nós, positivo, pois se complementam e atendem a públicos diversos. Embora também realize shows, o centro cultural tem uma programação diuturna que inicia pela manhã, com a abertura dos museus, e se estende até as 22h, quando encerram as últimas sessões do Cinema do Dragão, e à 00h, quando há shows na Praça Verde. Já as novas casas do entorno têm sua movimentação predominantemente noturna, com programação até a madrugada. O CDMAC reconhece a importância de uma parceria com o setor privado que promova benfeitorias para a cidade, destacando, sobretudo, que sua atividade-fim é a democratização do acesso à arte e cultura para todos os públicos.

Boates

Kosmika Club

Onde: Rua Almirante Jaceguai, 81, Praia de Iracema

Quando: quintas e domingos de 20 às 2 horas; sextas e sábados de 22 às 5 horas

Mais informações: @kosmika_club e linktr.ee/kosmika_club

Boate Level

Onde: entradas pela rua Dragão do Mar, 92, e pela rua José Avelino, 367, Praia de Iracema

Quando: sextas e sábados de 23 às 6 horas, domingos de 21 às 4 horas

Mais informações: @boatelevelfortaleza

Kingston 085

Onde: Rua José Avelino, 508, Praia de Iracema

Quando: sextas, sábados e domingos de 21 às 5 horas

Mais informações: @kingston085 e linktr.ee/kingston085

Mais opções

Y'all Club

Onde: rua Dragão do Mar, 218

Mais infos: @yallclubfortaleza

Club Viva

Onde: rua Dragão do Mar, 198

Mais infos: @clubvivabr

Route Fortaleza

Onde: rua José Avelino, 475

Mais infos: @route_fortaleza

Gandaia Club

Onde: rua Dragão do Mar, 72

Mais infos: @gandaiaclub

MOOV Lounge Club

Onde: rua Dragao do Mar, 212

Mais infos: @moovloungeclub

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